| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Sob pressão, o ministro da Secretaria-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, resistiu bem ao bombardeio verbal que recebeu nas últimas 48 horas. Fritado pela família Bolsonaro, Bebianno resiste aos ‘conselhos’ para se demitir do cargo e busca uma “saída honrosa” para a crise que, sem querer, abriu no governo. Não quer sair pela porta dos fundos após ajudar a eleger presidente um candidato improvável de um partido nanico. Essa saída, no entanto, não estaria ainda muito clara nem mesmo para ele.

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Nesta quinta-feira (14), o ministro demonstrou ser resistente aos ataques – graças, em parte, aos apoios que recebeu dentro do próprio governo e do Congresso. Primeiro da ala militar, que há tempos se incomoda com a influência e as ‘caneladas’ dos filhos de Jair Bolsonaro no governo. Bebianno é assessorado por dois generais da reserva. Depois dos presidentes da Câmara e do Senado, que foram a público para defendê-lo.

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“Eu não quero me intrometer nos conflitos internos do governo, ou dos parentes do presidente com o ministro, mas eu tenho uma grande admiração pelo Bebianno”, disse o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), chefe da Câmara. “Eu acho que conduzir mesmo um Brasil com tantas candidaturas não era obrigação do ministro Bebianno. Não sou advogado dele, não estou aqui para defender o ministro, mas acho que é uma questão partidária. O PSL vai ter que falar sobre isso”, afirmou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Pela ala militar, o vice-presidente Hamilton Mourão, e os ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, agiram para conter a tempestade que tomou conta de Brasília. “Vamos pacificar isso”, defendeu Mourão ao ser questionado sobre a crise. Mas mesmo os generais sabem que a situação é difícil: ao falar que o ministro ‘mentiu’, Bolsonaro estabeleceu uma linha de difícil retorno nessa crise.

Colaborou também para a sobrevivência momentânea do ministro a estratégia de sair da defensiva e partir para o ataque. Primeiro Bebianno disse à GloboNews que não pediria demissão por acreditar que não teria feito nada de errado. Depois falou à reportagem da revista Crusoé que “não é moleque” para agir como o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, e que Bolsonaro pai teme, sem razão, que a investigação sobre candidatos laranja do PSL “respinguem” nele.

Bebianno ainda telefonou para o ministro da Justiça, Sergio Moro, colocando-se à disposição da Polícia Federal para eventuais esclarecimentos sobre o suposto laranjal do PSL, conforme denúncias do jornal Folha de São Paulo. Na quarta-feira (13), Jair Bolsonaro determinou que a PF apurasse as suspeitas. Bebianno presidiu o PSL, partido do presidente, entre janeiro e outubro de 2018.

Em nota de esclarecimento, ministro reafirma inocência sobre laranjal

O ministrou soltou ainda uma nota oficial em que busca convencer a opinião pública de que não teve ingerência na distribuição do dinheiro público do Fundo Partidário para candidatos da sigla. Disse que a responsabilidade é dos diretórios estaduais do PSL e que se dedicou única e exclusivamente à campanha de Jair Bolsonaro a presidente da República.

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“Meu trabalho foi executado com total transparência e lisura. As contas da chapa do então candidato Jair Bolsonaro, que estavam sob minha responsabilidade, foram aprovadas e elogiadas pelos Ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”, escreveu.

Mas não é o que mostra uma ata de reunião do partido, de julho do ano passado, obtida pela Folha de São Paulo. No documento, Gustavo Bebianno, então presidente interino da sigla, ficou sendo o responsável pela distribuição de verbas públicas a candidatos nos estados na eleição de 2018.

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“Reafirmo que não fui responsável pela definição das candidatas de Pernambuco que foram beneficiadas por recursos oriundos do PSL Nacional. Reitero meu incondicional compromisso com meu país, com a ética, com o combate à corrupção e com a verdade acima de tudo”, disse Bebianno na nota oficial.

Para planejar sua reação e elaborar o documento, o ministro convocou para seu front o empresário Paulo Marinho, amigo de longa data que se tornou suplente de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) no Senado. Marinho estava em São Paulo e voou para capital tão logo foi chamado. Os dois se encontraram já tarde da noite da quarta-feira e tiveram ao menos duas conversas, segundo relato de uma pessoa próxima. Uma das reuniões foi com um integrante do Judiciário e a outra com um parlamentar.

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Bolsonaro ignorou o ministro durante todo o dia

Apesar de toda essa movimentação, o que Bebianno mais queria – conversar pessoalmente com o presidente nesta quinta-feira – não aconteceu. Bolsonaro ignorou o ministro, enquanto passou o dia com a agenda movimentada no Palácio do Alvorada, em reunião com integrantes da equipe para tratar da reforma da Previdência e até mesmo da situação do novo desafeto.

O ministro cancelou todas as agendas pela manhã e só apareceu no Palácio do Planalto no fim do dia, onde conversou com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Sinal de que a ‘fritura’ continua.

Leia na íntegra a nota de Gustavo Bebianno

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]