Em setembro, membros da facção criminosa explodiram o muro da Penitenciária Estadual de Piraquara para libertar detentos: 29 presos fugiram.| Foto: Divulgação/Depen

Os setores de inteligência da Polícia Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) mapearam e desarticularam dois planos do Primeiro Comando da Capital (PCC) para realizar atentados contra agentes públicos e explodir bombas em prédios públicos. Entre os alvos estaria a sede do próprio Depen, em Brasília. O motivo seria o descontentamento com regras de presídios do sistema federal, que proíbem os presos de receber visitas íntimas e gravam conversas entre eles e os advogados.

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Os investigadores encontraram, entre os bilhetes apreendidos na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO), fragmentos que citam necessidade de ações violentas contra o sistema penitenciário do país durante o período das eleições. O objetivo, segundo a PF, era “tentar convencer as autoridades a reverem os procedimentos de segurança das penitenciárias federais”, considerados pelo PCC como “opressores”.

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“Essas eleições para governador e presidente podem até contribuir ao nosso favor; (...) desse modo obrigá-los a considerar que o melhor caminho seja ceder à negociação, aceitar as reivindicações exigidas, isso mesmo tendo ciência e consciência que irão recuar provavelmente até o presidente”, diz o bilhete apreendido.

Parte das ações, segundo a PF, foi estruturada após um dos líderes da facção ficar detido na Penitenciária Federal de Mossoró (RN) juntamente com Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, liderança do Comando Vermelho.

A PF chegou a gravar as conversas entre Beira-Mar e Abel Pacheco, o Vida Loka, líder do PCC, sobre os métodos utilizados no passado por terroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para atacar as autoridades que atuam no combate ao tráfico de drogas.

Na conversa, Beira-Mar cita a necessidade de se valer de sequestro de autoridades em troca da liberdade de criminosos, explosão de torres de transmissão localizadas em áreas industriais e, também, sequestro de pessoas “importantes” para barganhar pela soltura de líderes “importantes”. “A guerrilha foi, pegou umas autoridades, três ou quatro autoridades, aí falou: Ó, dou tantos dias pá. Dou tantos dias pá liberar; se não der, rápt! Rapaz, pegou o primeiro”, disse Beira-Mar a Abel Pacheco em uma das conversas.

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As conversas, segundo a PF, ocorreram em junho de 2017, na Penitenciária de Mossoró, onde Vida Loka e Beira-Mar estavam detidos. Após ser transferido para Porto Velho, Vida Loka teria repassado as informações para Roberto Soriano e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, outras duas lideranças do PCC. Os investigadores conseguiram detalhar e interromper o plano, após análise de bilhetes encontrados no esgoto das celas da penitenciária de Porto Velho. Essa troca de informações entre Soriano, Pacheco e Nunes resultou nos planos Pé de Borracha e Morada do Sol.

Presos querem a volta da visita íntima

O primeiro teria como objetivo explodir um carro-bomba no estacionamento da sede do Depen, em Brasília. Segundo o plano interrompido, além dos explosivos, o carro teria um envelope com as exigências da facção, entre elas visita social de cinco horas, visita íntima semanal, banho de sol de duas horas, tratamento digno e televisão e rádio em todas celas.

“Amigos, deixamos claro, independentemente de liberar a íntima (visita), ao nosso ver o projeto deve ser colocado mesmo assim em prática, pois o propósito será quebrar todas as principais opressões conforme explicado no salve anterior”, diz um dos bilhetes enviados por Pacheco a companheiros e apreendido pela PF no esgoto do presídio de Porto Velho.

Outra estratégia era sequestrar, torturar e assassinar agentes públicos e pressionar o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF) a liberar as chamadas visitas íntimas nos presídios federais. As visitas estão suspensas desde julho de 2017.

“As investigações identificaram que a facção criminosa já havia realizado o levantamento da rotina e da atividade de diversos servidores públicos fora do ambiente de trabalho para serem sequestrados e/ou assassinados em seus momentos de folga”, disse a PF, por meio de nota.

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