À medida que a Lava Jato foi avançando, era comum ouvir de integrantes da força-tarefa que não havia por que duvidar que esquemas similares de corrupção tivessem sido estabelecidos em outras empresas do governo. Nada justificaria a existência de desvios somente na Petrobras. A única diferença é que essa era a única meada que já apresentava um fio bem visível. O MPF está puxando há três anos e ainda parece não ter fim.
A delação da JBS reforça essa tese. Escancara outro poço em que é necessário tapar o nariz e mergulhar a fundo: o BNDES.
O escândalo da Odebrecht já dava as linhas centrais de como o banco de fomento transformou-se em banco de propina nos anos do petismo. Uma estrutura de financiamento público criada para acelerar o desenvolvimento do país foi transformada em fonte para afagar aliados, camuflar doações ilegais e irrigar contas petistas.
O caso da JBS, contudo, é mais grave. A Odebrecht pode dizer que já era gigante sem os financiamentos camaradas para investir no exterior. A JBS, não. De porte médio, passou a campeã nacional com projeção fora do país. Teve sua escalada patrocinada por dinheiro público em troca de propina, mediante financiamentos bilionários com comissões clandestinas graúdas repassadas a agentes políticos. Concorrência desleal temperada com corrupção.
A JBS lucrou tanto às custas do BNDES que seu dono não hesitou em despejar, segundo sua delação, U$ 150 milhões em contas no exterior para Lula e Dilma, para ficar em apenas um exemplo. Bolada que faz parecer troco de pinga a cesta de Natal de R$ 17 mil pedida por Guido Mantega.
Joesley Batista acostumou-se tanto à porta escancarada pelo PT no BNDES que avançou em direção ao Cade, à Receita Federal e aos ministérios. Certamente não foi o único. Para não correr o risco de perder a boquinha, despejou milhões nas campanhas de Dilma e Aécio em 2014. E quando viu seus interesses escusos sob ameaça, pressionou para que Henrique Meirelles lhe estendesse o tapete vermelho na Fazenda e para que Maria Silvia, bem menos leniente que o antecessor Luciano Coutinho, fosse substituída.
A JBS é apenas um caso de polícia dentro do BNDES. Tem a Odebrecht, a OAS, a Andrade Gutierrez e a Camargo Corrêa. Os estádios da Copa. Todos os PACs. Os financiamentos sigilosos de obras em países alinhados ideologicamente ao PT. O império X de Eike Batista.
Se o Brasil transformou-se em propinocracia sob Lula e Dilma, o BNDES foi o grande financiador desse sistema de governo espúrio. Arrancar os esqueletos de todos os armários do banco é fundamental para consertar o muito mal feito que ficou para trás. E permitir ao BNDES cumprir o papel adequado do estado: o de financiador de áreas em que a sociedade é incapaz de se desenvolver sozinha. Não o de patrocinador da perpetuação de projetos de poder e a consolidação desleal de empresas que se sujeitam a jogar o jogo sujo.
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