O jantar no Palácio do Alvorada foi a demonstração cabal de que o presidente Michel Temer está longe, bem longe, de alcançar os 308 votos necessários na Câmara para aprovar, em dois turnos, a reforma da Previdência. Perguntado se compareceram 300 parlamentares no regabofe da quarta-feira (22), o relator da proposta que muda a Constituição, Arthur Maia (PPS-BA), foi direto: "se tivessem 300 aqui o presidente da Câmara deveria pautar imediatamente a matéria".
Maia e o universo político sabem que o governo não tem condições mínimas, ao menos nesse momento, de aprovar mesmo os pontos básicos da proposta, como idade mínima e acabar com os famigerados privilégios do serviço público. No Alvorada, Maia apresentou um power point com o novo texto.
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O relator estimou em "mais de 200" os deputados presentes. Mas não tinha esse quórum todo. Não chegavam a 170, relataram vários deputados à Gazeta do Povo.
"Temos a obrigação de ir, somos da base, mas o ambiente, mesmo lá no Alvorada, era de que a situação é difícil. Tinha um ponto ou outro apresentado, como o discurso de se cortar privilégio de servidor, que a impressão era que os deputados se perguntavam: 'jura que quer aprovar isso agora? Na boca da eleição?'" - disse um dos deputados da base que pediu para não ser citado.
E o jantar ainda foi precedido de uma trapalhada do governo. O vaivém do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) na equipe ministerial de Temer roubou a cena e dominou as rodas de conversa. O próprio Palácio do Planalto chegou a divulgar no seu twitter a substituição do ministro Antônio Imbassahy na Secretaria de Governo por Marun. E anunciava sua posse. Toda a imprensa noticiou. O deputado circulou triunfante pelo Congresso na condição de novo ministro. Só que ficou na promessa.
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Marun se viu na obrigação de soltar uma nota que não convenceu ninguém. Disse, em suma, que sua ida para o ministério nunca chegou a ser confirmada, mas que continua firme e forte ao lado de Temer. Quem estava no jantar e viu Marun, e o conhece, disse não se tratar do mesmo. "Não era o Marun de sempre. Sentiu o golpe", disse um dos deputados.
Arthur Maia, assim como Temer, já faz o discurso do que parece uma derrota anunciada. "Não será o governo quem perderá com a rejeição das mudanças. Será o país e a sociedade. E os que vivem de privilégios agradecem", disse o relator.