O presidente eleito Jair Bolsonaro anunciou que o embaixador Ernesto Araújo será seu ministro das Relações Exteriores. “A política externa brasileira deve ser parte do momento de regeneração que o Brasil vive hoje. Informo a todos a indicação do Embaixador Ernesto Araújo, diplomata há 29 anos e um brilhante intelectual, ao cargo de Ministro das Relações Exteriores”, escreveu Bolsonaro em uma rede social.
Araújo é diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty. Ele é o oitavo ministro confirmado pelo presidente eleito.
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O novo ministro fez campanha aberta para Bolsonaro durante as eleições por meio de um blog em que atacava o PT. Na publicação online, ele também atacava o globalismo. “Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. É um sistema anti-humano e anti-cristão”, escreveu Araújo.
A polÃtica externa brasileira deve ser parte do momento de regeneração que o Brasil vive hoje. Informo a todos a indicação do Embaixador Ernesto Araújo, diplomata há 29 anos e um brilhante intelectual, ao cargo de Ministro das Relações Exteriores.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 14 de novembro de 2018
Causou estranhamento no Itamaraty a escolha de um diplomata que nunca chefiou uma embaixada, em uma quebra tácita de protocolo em se tratando da escolha de um funcionário de carreira do órgão. Uma fonte que trabalhou com o futuro chanceler afirmou que ele é tecnicamente bom e fácil no trato, mas pouco ousado.
Em artigo publicado no Cadernos de Política Exterior, do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), em 2017, o embaixador propõe que o Brasil reflita e defina se quer fazer parte da concepção de Ocidente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais […] e que mostra o nacionalismo como indissociável da essência do Ocidente”, escreveu Araújo antes de, comparando a atual situação mundial a uma partida de futebol americano, acrescentar que “muita gente não sabe que o Ocidente está jogando, muito menos que está perdendo.”
Prioridade
A escolha de um chanceler era vista como prioridade da semana para a equipe de transição. Bolsonaro já coleciona algumas polêmicas em Relações Exteriores. A primeira delas se deu após ter anunciado que transferiria a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
A promessa de campanha acabou sendo revista pelo presidente eleito, que disse semana passada que isso ainda não está definido. Porém, a intenção de fazer o mesmo que o governo dos EUA de Donald Trump já trouxe impacto negativo para o Brasil. A comunidade árabe, com quem o país tem estreita relação comercial, especialmente na exportação de carnes, mostrou preocupação.
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A viagem de uma comitiva brasileira ao Egito foi cancelada de última hora. No meio diplomático, isso foi visto como retaliação às declarações de Bolsonaro.
O presidente eleito também teve de rever declarações que fez sobre a China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Ele vinha dizendo que os chineses queriam comprar todo o território brasileiro e ameaçou interromper os negócios com o país asiático. Depois de encontro com embaixador chinês, ele deu entrevistas dizendo que manteria os negócios, mas sem viés ideológico.
Houve ainda um impasse com a Noruega depois que seu futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o país escandinavo tinha muito a aprender com o Brasil sobre preservação. A Noruega é o principal financiador internacional para a preservação da floresta amazônica. As declarações do aliado de Bolsonaro levaram à reação do embaixador norueguês no Brasil que, pelo Twitter. Nils Martin Gunneng disse ter orgulho da parceria com o Brasil, que dura dez anos.
Em nota, o Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty) saudou a escolha de Araújo. “A entidade reafirma seu compromisso com a modernização das relações de trabalho em prol de todos os servidores do MRE. Desejamos êxito e sucesso na nova missão.”
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