O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) disse em entrevista exclusiva ao programa Brasil Urgente, da Band TV, nesta segunda-feira (5), que pretende mudar a forma como se calcula oficialmente o número de desempregados no Brasil. “Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil. O que está aí é uma farsa”, afirmou, sem citar especificamente o IBGE.
“Quem recebe Bolsa Família é tido como empregado, quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado, quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Temos que ter uma taxa não de desempregados, e sim de empregados. Não tem dificuldade para ter isso aí e mostrar a realidade para o Brasil”, afirmou, em entrevista conduzida pelo apresentador José Luiz Datena. Bolsonaro respondia a uma pergunta sobre os últimos dados do IBGE referentes à contínua queda do desemprego.
LEIA TAMBÉM: Quem são os nomes escolhidos por Bolsonaro para equipe de transição
Bolsa Família e sem indulto
Ao falar especificamente sobre o benefício do Bolsa Família, Bolsonaro reafirmou que não pretende cancelar os pagamentos, o que seria uma “desumanidade”, mas reiterou que “tem que ter uma nova forma de cadastramento”, apesar da dificuldade de se fazer auditorias. “Tem cidades que 95% da população recebe Bolsa Família”, declarou, criticando o ex-presidente Lula.
Ao ser perguntado sobre o destino do ex-presidente do PT, preso desde abril, ratificou que “não existe possibilidade” de ele receber um indulto presidencial em seu governo.
Críticas ao Enem
O presidente eleito criticou uma questão da prova do Enem que tratava do “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis e disse que sua gestão no Ministério da Educação “não tratará de assuntos dessa forma”. No último domingo, cerca de 5,5 milhões de candidatos prestaram o exame em todo o país.
“Uma questão de prova que entra na dialética, na linguagem secreta de travesti, não tem nada a ver, não mede conhecimento nenhum. A não ser obrigar para que no futuro a garotada se interesse mais por esse assunto. Temos que fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis”, disse o capitão reformado.
Bolsonaro negou que pretenda acabar com o exame, mas disse que seu governo não vai “ficar divagando sobre questões menores”. “Ninguém quer acabar com o Enem, mas tem que cobrar ali o que realmente tem a ver com a história e cultura do Brasil, não com uma questão específica LGBT. Parece que há uma supervalorização de quem nasceu assim”, afirmou. Ele se referiu à questão que mostrou um texto sobre “pajubá, o dialeto secreto dos gays e travestis” e que questionava quanto aos motivos que faziam a linguagem se caracterizar como “elemento de patrimônio linguístico”.
Sergio Moro no governo
Bolsonaro garantiu que deu “carta branca de 100%” para o seu futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, o juiz Sergio Moro, mas que, em situações de discordância, eles terão de chegar a um “meio-termo”. Como exemplo, citou a questão da redução da maioridade penal, que defende.
LEIA TAMBÉM: Moro formaliza pedido férias e confirma saída imediata da Lava Jato
“Na conversa que tive rapidamente com Sergio Moro, de 40 minutos, dei carta branca para ele tratar de assuntos de corrupção e crime organizado, 100%. Não vai ter indicação na Polícia Federal. É carta branca, 100%”, declarou, lembrando que muitos dos assuntos controversos ainda passarão pela Justiça. “Naquilo que nós somos antagônicos, vamos buscar o meio-termo. Sou favorável à posse de arma; se a ideia dele for o contrário, tem que chegar a um meio-termo”, afirmou.
Violência urbana
Ele citou bandeiras de campanha, como a redução da maioridade penal e a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, e disse que elas não serão deixadas de lado mesmo que Moro pense de forma oposta. Ao falar do direito à posse de arma, disse: “nunca deixei de dormir com arma de fogo do lado”.
Bolsonaro comentou políticas para redução da violência urbana e declarou ser favorável ao uso de drones com armamento acoplado, defendido pelo governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSL). “Vocês da mídia dizem que vivemos em guerra. Sou a favor porque não tem outro caminho. Do outro lado tem alguém atirando à vontade. Como você põe um ponto final?”
LEIA TAMBÉM: Projeto que revoga Estatuto do Desarmamento será votado só em 2019, diz deputado
Intervenção federal no Rio
Ele criticou a intervenção federal na segurança do Rio, decretada em fevereiro e com validade até 31 de dezembro. “Não teve qualquer planejamento. Lavaram as mãos. Talvez pensando no período eleitoral, botaram esse abacaxi nas costas das Forças Armadas. Sabemos da insatisfação, do incômodo que era a participação de uma ação como essa sem retaguarda jurídica, sabendo que em caso de qualquer anormalidade um dos seus poderia ser submetido a uma auditoria militar. Queremos evitar isso daí. Quem paga a missão dá os meios”.
Relações com a China e extradição de Cesare Battisti
O presidente eleito disse, após receber o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, que tem interesse de aumentar seus negócios com o país, mas que “todos os países podem comprar no Brasil, mas não comprar o Brasil”. “Está na cara que a China quer aumentar negócios com Brasil. Não teremos nenhum problema com a China, pelo contrário, (negócio) pode ser até ampliado”, afirmou.
Sobre o encontro com representantes da diplomacia italiana, Bolsonaro disse ter afirmado a eles que Cesare Battisti irá retornar ao país, mas ressalvou que ainda será necessário o posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o assunto. No lugar do Mercosul, ele reforçou, Brasil apostará em relações bilaterais no continente.
Reforma da Previdência
Ao falar novamente sobre a Reforma da Previdência, Bolsonaro voltou a declarar que quer que as mudanças saiam no início do ano que vem, caso a proposta atual não seja votada esse ano ainda. Ele reafirmou que “não existe recriação da CPMF” e que é preciso “puxar a orelha de um assessor para não ir além do que lhe compete”.
Bate-boca com FHC
Ele declarou também que tem conversado com parlamentares e argumentado que, se seu “governo der errado, PT tem tudo pra voltar; em voltando, não sai mais”. Ele entoou ainda o discurso de que o país “não terá outra chance” de “mudar seu destino”. Ao comentar críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que ficaria preocupado se fosse elogiado por ele.
Bolsonaro voltou a classificar o ex-presidente do PSDB como socialista. “O socialismo não deu certo em lugar nenhum. E o FHC fazia aquele joguinho com o PT como se ele fosse oposição. E essa máscara caiu com a minha chegada”, disse.
Doria e o PSDB
Bolsonaro também afirmou que “não acha que o PSDB acabou”. “O partido perdeu muito, alguns dizem que acabou. Eu acho que não acabou, não”, disse Bolsonaro, que lembrou que João Doria, governador eleito pelo PSDB em São Paulo, o apoiou durante o segundo turno.
O presidente eleito, entretanto, classificou como “um mal-entendido” o fato de não ter recebido Doria em sua residência, no Rio de Janeiro, durante campanha no segundo turno.
“Não estava previsto [o encontro] e eu estava num momento que, por vezes, não podia sair de casa. Mas o encontro, se tivesse ocorrido, prejudicaria nós dois. Não era o momento”, disse. “O [Geraldo] Alckmin bateu muito em mim”, afirmou sobre o candidato do PSDB à Presidência, que terminou o primeiro turno em quarto lugar.
Bolsonaro ainda afirmou que deve estar com ele [Doria] “daqui a dois dias” em Brasília, e que com certeza terão uma conversa “bastante amigável”.
Relações com a imprensa
Ao comentar o veto a jornalistas de O Estado de S. Paulo, da Folha de S. Paulo, de O Globo e do Valor na última quinta-feira (1), em entrevista em sua casa, disse: “Eu não brigo com a imprensa, a imprensa é que briga comigo”. “Não podia entrar mais gente. Se entrasse, ia ter bagunça. Tinha uns 30 repórteres aqui dentro”, argumentou.
Criticando mais uma vez a “Folha” por reportagens durante a campanha, ele disse ainda: “Minha bronca não é com a imprensa. Quero que a Folha se retrate. Gostaria, não posso exigir. Quem vai decidir se a Folha vai ficar viva não sou eu, são seus leitores”.
Demarcação de terra indígena
O presidente eleito voltou a dizer, ao Brasil Urgente, que não haverá mais demarcação de terras indígenas no país. “Eu tenho falado que, no depender de mim, não tem mais demarcação de terra indígena”, afirmou. “Afinal de contas, temos uma área mais que a região Sudeste demarcada como terra indígena. E qual a segurança para o campo? Um fazendeiro não pode acordar hoje e, de repente, tomar conhecimento, via portaria, que ele vai perder sua fazenda para uma nova terra indígena”, disse.
Segundo Bolsonaro, as reservas existentes foram “superdimensionadas” e “não tem como mexer”, mas afirmou que o que vier a fazer é “com o aparato da lei”. “Índio é um ser humano como nós. Ele quer empreender, quer luz elétrica, quer médico, quer dentista, quer um carro, quer viajar de avião”, disse.
Sua saúde
Sobre sua saúde, ele disse que a partir do dia 12 de dezembro, quando será internado para uma nova cirurgia, para retirada de sua bolsa de colostomia, será submetido a uma semana de convalescença hospitalar. Ele brincou ao declarar que entre o Natal e o ano-novo espera poder mergulhar no mar.
Deixe sua opinião