O presidente Jair Bolsonaro (PSL) elogiou nesta terça-feira (26), durante cerimônia na usina de Itaipu, os presidentes da ditadura militar brasileira, atribuindo a eles o mérito pela construção da hidrelétrica. “Eu queria relembrar aqueles que realmente foram os responsáveis por essa obra. Isso tudo, as primeiras tratativas, começaram ainda lá atrás, no governo do marechal Castelo Branco”, afirmou, destacando que o militar, que governou entre 1964 e 1967, foi eleito presidente “à luz da Constituição vigente naquele momento”.
Castelo Branco assumiu a presidência de forma indireta, eleito pelo Congresso, em 11 de abril de 1964, dias após o golpe que depôs o então presidente João Goulart.
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Ao lado do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, Bolsonaro citou os outros presidentes militares brasileiros e ainda celebrou o ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989), a quem chamou de estadista.
“Isso tudo não seria suficiente se não tivesse, do lado de cá [paraguaio], um homem de visão, um estadista, que sabia perfeitamente que seu país, o Paraguai, só poderia prosseguir, progredir, se tivesse energia. Aqui também a minha homenagem ao nosso general Alfredo Stroessner”, declarou, sob palmas da plateia.
Bolsonaro viajou a Foz para acompanhar a posse da nova diretoria de Itaipu – a primeira presidida por um militar nos últimos 30 anos.
O novo diretor-geral brasileiro da empresa é o general Joaquim Silva e Luna, que foi ministro da Defesa de Michel Temer (MDB) no ano passado. Também tomou posse o vice-almirante Anatalício Risden Júnior, militar da reserva da Marinha, como diretor financeiro executivo.
A usina de Itaipu foi idealizada e construída entre 1975 e 1982, durante o regime militar brasileiro, e inaugurada em 1984, no governo do general João Baptista Figueiredo. Stroessner, na época, era presidente do Paraguai, que construiu o empreendimento em conjunto com o Brasil.
Bolsonaro prometeu uma aproximação com o governo paraguaio, e elogiou Benítez, com quem teve um encontro bilateral antes da cerimônia. “É um cristão, um conservador, um homem de família. Esses valores nos trouxeram até aqui. Com a graça de Deus, continuaremos juntos, pelo bem dos nossos povos. Esquerda, nunca mais”, declarou. O pai do atual presidente do Paraguai, Mario Abdo Benitez, conhecido como Marito, foi secretário particular de Stroessner.
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O presidente disse que vai receber Marito em Brasília no dia 11 de março, em uma reunião bilateral. No encontro, os países devem tratar de assuntos como a própria revisão do Tratado de Itaipu, cujos termos se encerram em 2023, as duas pontes entre Brasil e Paraguai sobre o Rio Paraná, que serão pagas com recursos da usina, com custo repassado aos consumidores brasileiros. “Conte com o apoio do nosso governo para concretizarmos esse objetivo”, disse.
Bolsonaro citou ainda uma parceria entre Brasil e Paraguai no combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro. O presidente citou o ministro da Justiça, Sergio Moro, e agradeceu ao Paraguai “por rapidamente mandar para nós brasileiros criminosos que agiam em seu Estado”. Há dois anos e meio, por meio de um acordo firmado entre os dois países, o Paraguai tem deportado criminosos de facções procurados pela polícia e Justiça brasileiras.
Laranjal do ministro do Turismo
Ao final do evento, o presidente não quis responder a um questionamento da Folha de S.Paulo sobre a tentativa de censura do jornal pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
A reportagem indagou se Bolsonaro sabia da ação judicial que o ministro moveu contra o jornal, para que fossem retiradas do ar as reportagens sobre o esquema de candidaturas de laranjas do PSL, mas o presidente não quis responder.
“Eu peço, por favor! Estamos tratando de uma questão de extrema importância para o nosso país. Outra pergunta, por favor”, disse Bolsonaro. A imprensa acompanhou o evento em uma sala separada do auditório, por meio de um telão.
A Secretaria de Comunicação da Presidência argumentou que o espaço no auditório era insuficiente para abrigar os jornalistas do Brasil e do Paraguai.