Principal novidade na última pesquisa da corrida presidencial, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) está em plena campanha para suceder Michel Temer (PMDB). Ainda que jure não ser essa a verdade. Vive uma rotina de candidato: agenda cheia, viagens país afora, abordagem de eleitores nas ruas, pedidos de fotos e depoimentos e uma romaria de simpatizantes em seu gabinete em Brasília. Candidatíssimo, o capitão da reserva associa a nova empreitada a uma ação militar e diz que “agora, a tática é de combate”.
Leia todas as notícias sobre Jair Bolsonaro (PSC-RJ)
A Gazeta do Povo acompanhou os dias de Bolsonaro durante a semana passada em Brasília (2 a 5), do aeroporto aos corredores do Congresso Nacional, e atestou que boa parte das pessoas não passa indiferente a ele. No lado externo de seu gabinete, há mensagens pregadas contra petistas. Na sua sala, uma galeria de fotos dos generais presidentes do período da ditadura.
Como qualquer candidato, Bolsonaro critica as pesquisas e não acredita ter “apenas” os 15% dados a ele pelo último Datafolha. E acha que Lula, que apareceu com 30%, na liderança, não “é isso tudo não”. O parlamentar falou da sua insatisfação com seu partido, e contou que irá sair do PSC. Ele disse que está estudando os problemas do país e revelou uma agenda em eventos de grande público, como a concorrida Festa do Peão, em Barretos (SP). Sem dar os nomes, o parlamentar afirmou que está sendo procurado por alguns empresários e artistas, mas não conta quem são, por enquanto.
Saiba mais: Bolsonaro confirma que vai trocar de partido
O comportamento irado de Bolsonaro arrefeceu conforme acumula pontos para se viabilizar como presidenciável. Ele fez media training, um treinamento com especialista em comunicação, e abandonou discursos raivosos no plenário.
Assédio do aeroporto aos corredores da Câmara
Bolsonaro chegou ao aeroporto de Brasília na terça-feira (2), às 16h30. O movimento de passageiros naquele horário era pequeno. Entre o desembarque até seu carro foi abordado por oito eleitores. O deputado ainda não mostra muito traquejo nessas aproximações, mas atende a todos. No aeroporto, uma eleitora aproximou, o abraçou e disse que ele é o cara e que irá mudar a história do Brasil. E que seu voto é dele. Na Câmara, foi convidado por um grupo de pecuaristas de Marabá (PA) para ir a um acampamento dessa turma na cidade. Trataram ali de questões indígenas. O deputado disse que, por ele, não irá demarcar mais nenhuma dessas terras. Evitou, na frente da reportagem, dizer “se eleito”.
“É um absurdo essas demarcações. Os índios ficam tentando achar estrume petrificado para comprovar que aquela área foi sua no passado” - disse ele aos produtores.
Na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, onde é titular, foi cercado por um pequeno grupo de estudantes de Direito da Fundação Getúlio Vargas, no Rio. Tirou fotos e conversou, pelo celular, com a mãe de um dos alunos. Ele também é convidado para entrar ao vivo em transmissões de celulares desses grupos.
Nova rotina e tática militar
Desde que seu nome surgiu como presidenciável competitivo, Bolsonaro mudou sua rotina. Ele reconheceu que seu trabalho na Câmara está comprometido e que tem faltado a sessões para cumprir agendas fora de Brasília.
“Minha rotina deixou de existir. Agora é a tática militar, que é a conduta de combate. É agir de acordo com os fatos. Não sou candidato ainda. Estou sondando essa possibilidade”.
No gabinete, os despachos envolvem agora escolher quais cidades irá visitar e quais convites irá aceitar. Disse ter pouco mais de mil convites de entidades, associações comerciais, vereadores e faculdades.Ele contou que nesses eventos pré-marcados sempre tem cerca de mil pessoas o aguardando no aeroporto.
“Quando é uma agenda dessas, sempre tem mil pessoas no aeroporto. Diferente quando vou ou volto do Rio. Mas, ainda assim, sempre aparece alguém querendo tirar uma foto, bater um papo” - diz.
“Mas, por uma hipocrisia da lei, não posso dizer que sou candidato. É antecipar campanha. Então não digo. Se disser, serei fulminado. O Lula diz isso abertamente”.
Cada viagem, agora, é estudada em pormenores por ele e assessores. Na agenda, encontro com multidões. Bolsonaro já confirmou presença na Festão do Peão, agosto, em Barretos (SP). Antes, foi convidado para um evento no 9º Grupo de Artilharia e Campanha (GAC) em Nioaque (MS), onde teve posto de comando. A previsão é de pelo menos quatro mil militares na solenidade.
Deputados também o convidam, já de olho nas eleições de 2018. Na tarde da última terça, Toninho Pinheiro (PP-MG) foi chamá-lo para comparecer à sua base eleitoral. Bolsonaro ficou de pensar.
“Diferente” dos demais
O parlamentar não se apresenta como igual aos outros. “Todo mundo tem certeza de uma coisa: sou diferente dos demais. Isso ninguém pode negar. Tem gente que acha que sou melhor e outros não acham isso”.
Para fugir da acusação de estar em campanha, Bolsonaro faz palestras sobre desarmamento. E reconhece que não tem como evitar o assunto na abordagem das pessoas.
“Quando saio para qualquer lugar é para fazer palestra sobre desarmamento. E depois, em cima dessa agenda principal, a gente programa outra atividade. O que o pessoal quer é que eu venha candidato a presidente. Isso é uma crescente”.
Troca de partido
Não será pelo seu partido atual, o PSC, que Bolsonaro deverá disputar a eleição ano que vem. Ele está muito insatisfeito na legenda e vai seguir rumo, provavelmente, para o Muda Brasil, que está sendo criado.
“Estou desconfortável no PSC e a decisão já está tomada. Sairei dele. Tem bastante convite. E pela nova lei eleitoral, com a cláusula de barreira, os partidos estão reforçando seus quadros” - diz Bolsonaro, que mostra confiança no seu desempenho eleitoral.
“Logicamente sou candidato que pode garantir os 2%, que é o mínimo necessário exigido por lei”.
Para um partido continuar existindo será necessário garantir 2% do total dos votos válidos no país e também 2% em pelo menos 14 estados.
Crítica às pesquisas
Bolsonaro acha pouco os 15% que alcançou na pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada. Acredita que tem bem mais que esse percentual.
“A gente desconfia de toda pesquisa. A da internet me dá 60% a 65% (não falou de qual instituto)”.
Nessa mesma aferição, do Datafolha, Lula apareceu liderando em todos os cenários, com 30%. Bolsonaro acusa o instituto de proteger o petista.
“No meu entender, é muito ponto para o Lula. Parece o Datafolha um pouco tendencioso. Quem sabe aí tentando blindá-lo por parte de qualquer ação na Justiça”, disse.
“Nas minhas andanças pelo Brasil Lula não é tudo isso não”.
Ele desafia Lula a andar em avião de carreira, como faz.
A mesma pesquisa apresentou Sergio Moro como candidato. Ele apareceu com 9% das intenções de voto. Bolsonaro avalia que a inclusão do juiz na pesquisa o atrapalha. Disse que ambos tem o mesmo perfil de eleitorado.
“E se eu sair da disputa o Moro cresce”.
Direita, volver
Nas análises das pesquisas, Bolsonaro aparece como uma candidato que cresceu numa onda conservadora que não ocorre só no Brasil.
“Até pouco tempo a palavra ‘direita’ era um palavrão. Sempre fui de direita, desde que cheguei na Câmara, em 1991. Como acharam a palavra bonita,começaram a rotular o PSDB de direita. E me empurraram para a extrema direita. Me chamam de fascista, de homofóbico. O objetivo é me desacreditar” - diz o deputado, que, ao longo de sua vida pública, adotou posições raivosas contra homossexuais. Mais recente, numa palestra para a comunidade judaica, ele atacou os quilombolas. Disse que não servem nem para procriar.
Sobre seus concorrentes no pleito de 2018, Bolsonaro diz que se Lula tiver sua candidatura inviabilizada por uma condenação judicial, e diante do cenário de descrédito de partidos tradicionais por conta da Lava Jato, pode conquistar fácil o Palácio do Planalto.
“Do jeito que está a coisa, se continuar como está, só vai sobrar eu. Vou ganhar por W.O (quando não há adversário numa competição esportiva)”.
Deixe sua opinião