Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) celebraram a “trégua” que o chefe do Executivo apresentou nesta segunda-feira (25) em direção ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Após uma reunião com um grupo restrito de ministros, Bolsonaro indicou que não vai alimentar as trocas públicas de farpas com Maia e pediu empenho na “pacificação” entre os poderes e na construção de um encaminhamento para a votação da reforma da previdência.
“Acho muito positivo que o presidente tenha reunido os ministros e tenha dito que prefere a pacificação. Acredito que o Rodrigo Maia também queira isso, porque ele conhece como é o processo na Câmara. Sabe que, com desavenças em curso, fica inviável articular uma reforma. O Rodrigo é historicamente defensor da reforma da previdência. Sem essa troca de farpas, ele ajuda bastante”, disse o deputado federal Paulo Martins (PSC-PR).
Opinião endossada pelo líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO): “O Brasil elegeu representantes para trabalharem para o país, não para ficarem de embate nas redes sociais. Essa é a dica que dou a dois caras espetaculares [Bolsonaro e Maia], que não chegaram onde estão à toa”.
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A “bandeira branca” foi recebida com entusiasmo principalmente porque a semana promete uma agenda áspera para Bolsonaro dentro do Congresso Nacional. Oito ministros estarão em audiências no Senado e na Câmara:
O titular da Economia, Paulo Guedes, abre o ciclo na terça-feira (26), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. No mesmo dia, Bento Albuquerque (Minas e Energia) fala no Senado.
Na quarta-feira (27), Guedes e Albuquerque voltam ao Congresso, e Sérgio Moro (Justiça), Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional), Ricardo Vélez (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente) se apresentarão em diferentes comissões.
Outro tema que pode trazer dor de cabeça ao governo é a votação sobre a isenção de visto a turistas de quatro países, anunciada por Bolsonaro durante viagem aos EUA.
Relator da reforma da previdência virá após pacificação
A pacificação entre Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro deve também contribuir para que o presidente da CCJ da Câmara, Felipe Francischini (PSL-PR), indique o relator da reforma da previdência na comissão. Em entrevista à Gazeta do Povo, o deputado disse preferir esperar “as emoções se estabilizarem” antes de apresentar um nome.
Os desejos de trégua podem, no entanto, não se confirmar. A troca de alfinetadas entre Maia e Bolsonaro não foi o único conflito envolvendo o governo e seus aliados nos últimos dias. O Planalto terá que empreender um grande esforço para alcançar a “estabilização” das emoções desejada por Francischini.
Recapitulando a briga entre Rodrigo Maia e Bolsonaro
A briga entre Maia e Bolsonaro teve início na semana passada, após o ministro Sérgio Moro cobrar a análise seu pacote anticrime de modo simultâneo aos trabalhos na reforma da previdência. A manifestação de Moro levou Maia a chamá-lo de “funcionário do presidente Bolsonaro”, o que acirrou ainda mais os ânimos.Pouco depois, Moro respondeu ao ataque.
Paralelamente a isso, o presidente da Câmara se queixava de receber pressões nas redes sociais de apoiadores do governo. Um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), criticou o democrata nas redes: “Por que o presidente da Câmara está tão nervoso?”.
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A semana ainda viu a prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco, padrasto da mulher de Maia, o que colaborou para a elevação da tensão. O presidente da Câmara disse, no sábado (23), que Bolsonaro precisaria de “mais tempo para cuidar da previdência e menos tempo cuidando do Twitter, porque senão a reforma não vai avançar”.
No mesmo dia, ele divulgou postagens de deputados que o elogiaram na contenda com Bolsonaro, como Bruna Furlan (PSDB-SP), Gustinho Ribeiro (Solidariedade-SE), Silvio Costa Filho (PRB-PE) e até mesmo da líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e de outro filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
A crítica de Bolsonaro à “velha política”
Outro elemento que colaborou para a indisposição de Maia em relação a Bolsonaro foi o posicionamento do presidente da República sobre a “velha política”. Ainda durante sua viagem ao Chile, Bolsonaro criticou parlamentares que “não querem largar a velha política” e disse que montou um ministério “sem acordos partidários”, numa referência a práticas de presidentes anteriores que concediam ministérios a partidos que apoiavam o governo no Congresso.
Ainda na quarta-feira (20), Maia havia criticado o que considerou interferência do Planalto no Legislativo: “eu acho engraçado. Quando dizem que o Parlamento quer indicar alguém no governo é toma lá dá cá. Quando eles querem indicar relator aqui e interferir no processo legislativo não é toma lá dá cá?”.
Ataque à velha política: A arma de Bolsonaro para pôr Rodrigo Maia contra a parede
O embate sobre velha e nova política foi contestado até mesmo por Delegado Waldir. “Temos que parar com essa falsa divisão entre velha e nova política. Isso é um bullying com o parlamento. Nós somos todos da política, e chegamos até aqui pelo voto. O eleitor já tirou quem achava que deveria ter tirado”, disse.
Fogo amigo
O líder do PSL afirmou também que precisa administrar conflitos dentro de sua própria bancada. “Estou como um bombeiro, apagando fogo. O meu papel nesse momento e apagar fogo, pedir desculpas por alguns atos que algumas pessoas têm praticado, tanto parlamentares quanto membros do executivo. Estou tentando conciliar. Sei que são muito interesses, mas mais importante que todos é o país”, declarou.
O próprio Waldir foi protagonista de um desses conflitos internos no início da legislatura. Ele questionou a atuação do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), que está em seu primeiro mandato e é criticado pela inexperiência. Em resposta, Vitor Hugo atacou Waldir nas redes sociais.
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O PSL também enfrenta dificuldades na afinação do seu discurso em relação à reforma da previdência. Embora o projeto seja o mais importante no momento para a gestão Bolsonaro, há representantes do partido que ainda não declararam apoio pleno à proposta. O próprio presidente da República e seu filho deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foram críticos à reforma da previdência em um passado próximo. Além disso, membros da sigla sinalizaram que não querem carregar sozinhos o ônus de defender a reforma, ainda vista como impopular.
Para alinhamento da atuação do PSL, o partido fará uma reunião nesta terça-feira (26), antes da audiência com o ministro Paulo Guedes na Câmara. “Queremos esclarecer e orientar, para evitar alguns lapsos que têm sido cometidos até por alguns que consideramos mais experientes”, destacou Waldir.
Oposição aproveita
Enquanto os governistas tentam visualizar um cenário de paz, a oposição espera que os embates internos prossigam e, assim, o Planalto tenha dificuldades em impor sua agenda. A avaliação é do deputado federal Leonardo Monteiro (PT-MG).
“Vamos ver o que acontece. Estamos monitorando, trabalhando para poder aproveitar essas discordâncias do governo, esses bate-cabeças, para articular com a população e evitar a aprovação da reforma da previdência”, afirmou o petista.
Siglas como PT, PSOL, PCdoB e PDT formalizaram a rejeição à reforma.
Para o governista Paulo Martins, a trégua entre Bolsonaro e Maia tende a implodir as chances da oposição de causar impacto nas votações da Câmara. “Se os presidentes mantiverem postura de fidalguia, esse combustível na mão da oposição não dá efeito”, indicou.
Outras confusões
Paralelamente à briga entre Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro, outros embates cresceram nos últimos dias no campo governista e podem ser uma dor de cabeça ao Palácio do Planalto.
Tido como guru do governo, o filósofo Olavo de Carvalho já se desentendeu com o vice General Mourão e com o deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP), entre outros, e arrumou um novo desafeto: o ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz. À Folha de S. Paulo, o ministro disse que nunca se interessou “pelas ideias de Olavo” e chamou o filósofo de desequilibrado. “General Santos Cruz, hoje estou muito ocupado. Amanhã ou depois darei a V. Excia. a resposta carinhosa que merece”, escreveu Olavo em seu perfil no Twitter nesta segunda-feira (25).
Outro foco de tumulto é a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann. A deputada se desentendeu com o colega de Câmara Kim Kataguiri (DEM-SP), que havia criticado a postura do PSL em relação a Rodrigo Maia. Em resposta, Joice chamou Kim de “moleque” e disparou: “pega a chupeta e vai nanar”. Os dois deputados ganharam notoriedade durante os protestos de rua pelo afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff e, até o embate, figuravam no mesmo campo político.
Joice também discutiu nas redes sociais com o Cidadania, novo nome adotado pelo PPS a partir do sábado (23). A parlamentar falou que o novo partido seria o “ninho” dos movimentos Agora! e RenovaBR, que lançaram candidatos na última eleição, e que a sigla permanecia como “fundadora do Foro de São Paulo”. Em resposta, o líder do Cidadania, Daniel Coelho (PE), afirmou que seu partido “faz mais defesa da necessidade da reforma do que os deputados do seu PSL”. O PPS/Cidadania tem oito deputados e, embora se identifique como um partido de centro-esquerda, fez oposição ao PT e vota com o governo Bolsonaro em algumas matérias.
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