O presidente Jair Bolsonaro se comprometeu com os líderes dos partidos que podem votar a favor da reforma da Previdência a fazer uma defesa mais enfática do tema em suas redes sociais, inclusive utilizando a ajuda do seu filho, Carlos Bolsonaro. A falta de envolvimento dele com o tema irritou aliados que não querem herdar o ônus da proposta sozinhos.
A cobrança foi feita na noite desta terça-feira (26) durante uma reunião com as lideranças no Palácio da Alvorada. Os deputados reclamaram que Bolsonaro está “mudo” sobre o assunto nas suas páginas. Um deles chegou a, inclusive, checar o Twitter do presidente na sua frente e dizer que não encontrava qualquer referência à proposta.
Em resposta, Bolsonaro afirmou que gravará mais vídeos para as redes e se comprometeu a fazer “lives”, as transmissões ao vivo pela internet, para tratar do tema diretamente com a população. A ideia é que ele endosse os argumentos que os próprios parlamentares usarão para convencer a população sobre a necessidade da aprovação de novas regras para a aposentadoria.
De acordo com deputados que participaram da reunião, Bolsonaro chegou a dizer que seu filho Carlos irá ajudá-lo neste trabalho. Carlos é vereador no Rio de Janeiro, mas teve uma influência fundamental na campanha eleitoral do pai ao administrar as suas redes sociais. A sua influência em relação ao Palácio do Planalto, no entanto, é criticada. Ele foi o pivô da deflagração da crise que culminou com a demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno.
Nesta terça-feira, Carlos criticou no Twitter o silêncio de “deputados eleitos por Bolsonaro” e fez um apelo para que eles defendam o texto da PEC da Previdência. O vereador disse ainda que o projeto do governo federal não é “tão popular”, mas “necessário” e que “um time tem que jogar junto”.
“Gostaria de ver mais deputados eleitos por Bolsonaro defendendo a não tão popular, mas necessária proposta da nova previdência”, escreveu o filho de Bolsonaro no Twitter. “Sabemos que alguns já o fazem, mas qualquer um vê que a esmagadora maioria nem toca no assunto. Um time tem que jogar junto interessado só no Brasil.”
A mensagem causou mal estar no Congresso. “Eu não vejo autoridade no filho do presidente para dar pito nem mesmo nos seus companheiros, colegas vereadores da Câmara Municipal, quanto mais em deputado federal eleito pela população”, disse o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA).
“A gente não vai votar a reforma da Previdência porque o filho do presidente quer. Vamos votar pelo Brasil. Temos convicção de que o país precisa da aprovação dessa reforma”, acrescentou Elmar, também líder do blocão, grupo que reúne 301 deputados – a maioria de partidos do chamado “Centrão”.
Bolsonaro botará ‘peito n’água’ após o carnaval, diz Onyx
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou nesta quarta-feira que o presidente vai participar ativamente na discussão sobre a reforma da Previdência na sociedade depois do carnaval. O governo foi criticado abertamente pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em relação à comunicação sobre a reforma.
“Logo depois do carnaval o presidente vai botar o peito n’água” sobre a Previdência. É muito importante a presença do presidente nesse debate da Previdência”, disse o ministro, durante a 20ª CEO Brasil 2019 Conference, promovida pelo BTG Pactual.
Ele ainda afirmou que os militares ficaram de apresentar um projeto de reforma da carreira em 30 dias. E ressaltou que há um complicador à medida que será necessário alterar cinco leis. Por outro lado, ponderou que as mudanças podem ser feitas todas por projeto de lei, e não com uma emenda à Constituição, como o projeto de reforma da aposentadoria civil.
O ministro voltou a dizer que quer aprovar a reforma até junho nas duas casas e disse esperar que, até lá, todas as carreiras (civil e militar) estejam “no mesmo patamar”.
Onyx Lorenzoni afirmou que o plano do governo é zerar o déficit primário em dois anos, mas não deu detalhes. Na campanha presidencial, o hoje ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmava que pretendia zerar neste ano o rombo das contas públicas, sobretudo com a utilização de receitas extraordinárias, como privatizações. Com as receitas não recorrentes, no entanto, o déficit voltaria no ano seguinte.
Economia de R$ 1 trilhão é ‘cláusula pétrea’
O ministro da Casa Civil considerou como “cláusula pétrea” e “inegociável” no governo conseguir, “no mínimo”, uma economia de R$ 1 trilhão em dez anos com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Nova Previdência. Segundo ele, é possível até negociar mudanças no projeto desde que essa economia seja obtida.
Durante o 20º CEO Brasil 2019 Conference, do BTG Pactual, ele elogiou o ministro da Economia, e afirmou que, com a aprovação da reforma, haverá “um pacote de bondades para governadores e prefeitos”.
Sobre a renovação do Congresso, com 46 senadores novos e três suplentes, ou 49 mudanças, e 249 novos deputados federais mostra que “as pessoas em primeiro mandato estão sintonizadas com a vontade da rua”, disse. “O governo foi eleito para mudar e estamos proibidos de fazer o velho, o que fracassou”, concluiu.
Ele destacou ainda que, para o segundo escalão do governo, o presidente Jair Bolsonaro deu completa liberdade aos ministros para fazerem suas nomeações, desde que se responsabilizem por elas. E voltou a criticar o PT. Onyx afirmou que o partido sustentou ditaduras, como a da Venezuela. Nas palavras do ministro, “o risco de a Venezuela virar uma Síria é um fato”.
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