Um ato de bravura do então tenente Jair Bolsonaro, ocorrido em 1978 quando era instrutor numa unidade militar no Rio, foi reconhecido nesta quarta-feira (5) pelo Alto Comando do Exército. O presidente eleito recebeu, em Brasília, a honraria Medalha do Pacificador com Palma por ter salvado de um afogamento o soldado Celso Moraes Luiz, chamado pelos colegas e pelo próprio Bolsonaro de “Negão Celso”.
A medalha só cabe a militares e civis que se distinguiram, “com risco de vida”, por atos de “abnegação, coragem e bravura comprovados” num inquérito policial militar ou sindicância. Ou seja, é preciso provas de que de fato ocorreu.
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Durante a cerimônia, Bolsonaro lembrou o episódio, contou os detalhes e afirmou que tinha um preparo físico privilegiado por ser atleta do Exército. Ele citou o fato como uma prova de que não é racista, se não, afirmou, teria deixado o colega morrer afogado.
"Sofri acusações infundadas entre outras de ser racista. Se o fosse, o deixaria dentro da água. Por que arriscaria minha vida para tirar da água um soldado afrodescendente?!"
Bolsonaro afirmou também que naquele momento começou uma amizade com o colega e que, anos mais tarde, se reencontraram, quando o presidente eleito, à época, pediu o testemunho de Celso para tentar obter a honraria.
Durante a solenidade, Bolsonaro pediu autorização a Celso para revelar seu apelido, e o ex-soldado concedeu. O presidente eleito disse “Celso Negão”. No final de seu discurso, Bolsonaro bateu continências para Celso e se abraçaram.
O episódio digno de medalha aconteceu quando Bolsonaro era instrutor na 2ª Bateria de Obuses do 21º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC), no Rio. Os soldados eram submetidos a um exercício conhecido como “falsa baiana”, que consiste na travessia de militares num cabo de aço e numa corda onde apoiam os pés e as mãos, em cima de uma lagoa com 2,5 metros de profundidade. Um sargento ainda balançava o cabo e a corda para aumentar o grau de dificuldade.
Normalmente, relata Bolsonaro na sua biografia “Mito ou Verdade”, escrita pelo filho Flávio Bolsonaro, os soldados que caíam ou saíam nadando ou eram resgatados por um barquinho. Mas não foi o que aconteceu com o soldado, identificado no livro como “Negão Celso”.
A passagem de salvamento do colega é descrita assim no livro:
“Algo chamou a atenção de Bolsonaro, que, anteviu a ocorrência de um problema. Imediatamente, desabotoou sua gandola, desamarrou os coturnos e ficou em alerta para agir se algo de anormal acontecesse. [...] E aconteceu. De repente, o Negão Celso caiu dentro da água barrenta, completamente escura e com lodo no fundo, no meio da lagoa. Afundou como um martelo e ficou no fundo, impossibilitando que o barco o amparasse. Rapidamente Bolsonaro arrancou a gandola, os coturnos e, em poucos segundos, pulou na água para resgatá-lo”.
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A saga segue. Bolsonaro não teria o encontrado no primeiro mergulho. Voltou a superfície, recuperou o fôlego e fez nova tentativa. Desta vez, com êxito.
“Com muito esforço, trouxe-o para cima. Mas, com o desespero que havia tomado conta de Celso, ele puxou Bolsonaro e os dois acabaram afundando novamente. Começou uma verdadeira luta corporal entre os dois embaixo d´água. Bolsonaro conseguiu colocá-lo numa posição boa, rastejou com ele nos braços pelo enlameado fundo da lagoa por alguns metros e chegou até a margem, retirando-o com vida.”
Mais tarde, no acampamento, colegas gritaram: "Bolsonaro nosso herói". Ao conferir o que estava ocorrendo ouviu de outro tenente: “Ainda bem que não precisou de respiração boca a boca.”
Diz o livro que todos esses fatos estão documentados no Exército. Bolsonaro, há cerca de seis anos, reivindicou o recebimento da Medalha do Pacificador com Palma. Mas nunca obteve resposta.
Agora, eleito presidente, os generais do Alto Comando reconheceram o gesto de “coragem e bravura” do então tenente Bolsonaro.
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