O “Mural da Vergonha”: até março deste ano, entrada do gabinete de Bolsonaro na Câmara era decorada com menções a Haddad e ao “kit gay”.| Foto: Evandro Éboli/Gazeta do Povo

Provável adversário de Jair Bolsonaro (PSL) nestas eleições, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) – por ora candidato a vice na chapa de Lula e provável substituto do ex-presidente, que está preso – é alvo de críticas do capitão reformado há sete anos. A discórdia está relacionada à cartilha “Escola sem homofobia”, batizada pelo presidenciável do PSL de "kit gay". O material foi criado durante a gestão de Haddad no Ministério da Educação (2005-2012) e fez dele o alvo preferido do deputado federal fluminense.

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Bolsonaro fala com frequência do chamado kit gay, como a cartilha ficou popularmente conhecida. Em discursos no plenário, entrevistas e até bate-boca, Bolsonaro condenava esse material. E continua até agora, na campanha eleitoral, lembrando dele. É talvez sua principal bandeira.

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Por causa da cartilha, Haddad virou a “estrela” do gabinete de Bolsonaro. De 2011 até março deste ano, o deputado do PSL manteve cartazes com o ex-ministro petista colados no vidro da entrada do gabinete.

A fachada era chamada de “Mural da Vergonha”. E ali estava uma foto de Haddad seguida da inscrição: “O candidato do kit gay”. E em letra menor: “As crianças de 6 anos terão aula de homoafetividade nas escolas?”. As mensagens contra o “kit gay” seguiam naquele espaço: “Nossos filhos serão brindados com desenho pornográfico infantil" e também “professores estão sendo preparados para o kit gay nas escolas”. 

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A decisão de retirar os cartazes neste ano foi política. De olho na corrida presidencial, Bolsonaro trocou as menções a Haddad e ao kit por fotos suas em campanha, sendo carregado nos ombros de apoiadores e discursando país afora.

Assim como retirou o kit gay da fachada de seu gabinete, Bolsonaro evitou a expressão no seu programa de governo, ainda que a utilize em entrevistas. No capítulo sobre Educação, ao tratar de conteúdo e método, o programa do presidenciável se refere ao tema de maneira lateral e defende ser preciso enfrentar a “sexualização precoce” no ensino: “Mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce”.

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Questionado na semana passada, pela Gazeta do Povo, sobre a candidatura de Haddad, Bolsonaro respondeu: “É o pai do kit gay, né?”. Numa das vezes em que disputou a Presidência da Câmara, em fevereiro de 2011, Bolsonaro levou o combate a esse material como bandeira de campanha.

“Jovens parlamentares, este ano está sendo distribuindo um 'kit gay' que estimula o homossexualismo e a promiscuidade. Temos de trazer esse tema aqui para dentro, votar essa questão, e não deixar que o governo leve esse tema para a garotada”, disse Bolsonaro em seu discurso de candidato à Presidência da Câmara.

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Que fim levou o ‘kit gay’

O kit “Escola sem homofobia” era um material preparado para ser apresentado a alunos a partir dos 11 anos e que cursavam o ensino fundamental, do 6.º ao 9.º ano. E também para estudantes do ensino médio. A polêmica fez a então presidente Dilma Rousseff vetar sua distribuição. 

O kit deveria ser aplicado na sala de aula e apresentado a professores e pais. Era composto por três vídeos, um DVD e guias de orientação aos professores, que ensinavam “dinâmicas para serem aplicadas à comunidade escolar”.

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Um dos vídeos, chamado “Boneca na mochila”, conta um caso verídico. Uma mãe é chamada às pressas na escola porque encontraram uma boneca na mochila do filho. O guia de discussão então propõe discutir "mitos e estereótipos" em torno de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transsexuais. Os alunos e alunos completavam as seguintes frases: “Meninos que brincam de boneca e de casinha são...”, “Mulheres que dirigem caminhão são...”; “A pior coisa num gay é...”; “Garotas que partem para a briga são...”. 

Uma das cartilhas pedia ao aluno refletir sobre a seguinte frase: “Ser um menino mais sensível e uma menina mais durona significa que são ou serão gay e lésbica?”

Letras de música faziam parte do kit. Caso da canção “A namorada”, de Carlinhos Brown, cujo refrão diz que “a namorada tem namorada”.

O material também tinha uma caça-palavras, onde o estudante tinha que achar a expressão correspondente a: “pessoa que sente desconforto com seu órgão sexual” (cuja resposta era transexual); “nome da ilha que deu origem à palavra lésbica” (Lesbos); “órgão sexual que é associado ao ser homem (pênis)”.

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