Após quase um mês de críticas sobre sua articulação política no Congresso Nacional, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) resolveu mudar de estratégia. Mantém o discurso público de que negocia com as frentes parlamentares temáticas da Câmara dos Deputados. Mas começará na próxima semana a receber as bancadas partidárias, o que seu futuro ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), o responsável pela interlocução com os parlamentares, já começou a fazer.
Duas nomeações para ministérios demonstram essa mudança de postura. A primeira foi para a Secretaria do Governo, em 26 de novembro, do general Carlos Alberto dos Santos Cruz. A segunda, dois dias depois, do deputado Osmar Terra (MDB-RS) para o Ministério da Cidadania.
Santos Cruz assumiu dizendo que tomaria para si a articulação com o Congresso. Na verdade, essa função seguirá nas mãos de Onyx Lorenzoni que, com sua entrada, acabou com as atribuições diminuídas – sua Casa Civil foi esvaziada e parte das burocracias das quais toma conta, passadas à Secretaria de Governo.
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Porém, é Santos Cruz quem será acionado quando o Palácio do Planalto precisar dizer "não" aos parlamentares. "No fim das contas, o general vai blindar o Onyx do desgaste do cargo. Porque o articulador é quem mais acaba sendo 'fritado' pelos parlamentares. É um papel muito difícil no governo", avaliou um aliado do chefe da Casa Civil.
A entrada do MDB da Câmara no governo
Enquanto se discutia qual seria de fato o papel do general Santos Cruz, Onyx Lorenzoni seguia no trabalho que sempre esteve em suas mãos. Na noite de 27 de novembro, procurou Osmar Terra e lhe ofereceu o Ministério da Cidadania.
Depois de conversar com Terra e formalizar o convite, mesmo dizendo a ele que não se tratava de indicação partidária, segundo afirmou o ministro, Onyx apareceu na reunião da bancada do MDB da Câmara para pedir apoio ao presidente eleito. O deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), que herdou a vaga de Terra na Casa, garante que a indicação coloca a legenda na base governista. "Votaremos com o governo, apoiaremos e apoiamos Bolsonaro", afirmou.
Onyx também se reuniu com integrantes do PR. Depois disso, Bolsonaro indicou para o Ministério da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas, que já esteve à frente do Dnit (Departamento Nacional de Trânsito), órgão sob o qual o PR, de Valdemar da Costa Neto, tem influência.
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A intenção de Onyx é abrir diálogo também com o PSDB, que deve levar para conversar com o presidente eleito no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Brasília, onde ocorrem os trabalhos da transição. Bolsonaro deve receber ainda o PR, PRB, além do MDB.
E o resto do MDB?
Logo após eleito, Jair Bolsonaro disse que não descartava contar com o MDB em seu governo, mas isso sempre foi publicamente rechaçado pelo presidente nacional da legenda, senador Romero Jucá (RR), que não conseguiu se reeleger.
Jucá nega que a indicação de Osmar Terra à Cidadania tenha a ver com o partido e reitera a independência do MDB: "O partido gosta muito do Osmar, acredita que ele é uma ótimo político e um nome muito bom para a pasta. Mas é uma escolha pessoal do futuro presidente".
O senador também afirma não ter sido procurado em qualquer momento por Bolsonaro ou algum interlocutor para estabelecer pontes para auxiliar em votações no Senado. A líder do MDB na Casa, Simone Tebet (MS), também nega.
Senado não foi contemplado até agora na composição do governo de Bolsonaro
O Senado não foi contemplado até agora na formação do primeiro escalão do governo. Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente eleito, Esperidião Amin (PP-RS) e Major Olímpio (PSL-SP) apostam em conversas nos bastidores com senadores na tentativa de ampliar o grupo de apoio na Casa. A aposta do time bolsonarista é na grande renovação, de mais de 80%.
Esse é o grupo formal, que se elegeu na esteira da popularidade de Bolsonaro e pretende liderar o time governista na Casa. Mas as articulações com os senadores se dão em outros campos também. Sob condição de anonimato, uma fonte próxima ao presidente contou que tem havido conversas com Renan Calheiros (MDB-AL) e com Jader Barbalho (MDB-PA). A reportagem não conseguiu contato com nenhum dos dois senadores.
Embora um apoio formal do MDB não esteja formalizado, um outro gesto de aproximação teve início. Há expectativa de que o presidente Michel Temer seja beneficiado com um cargo no governo, provavelmente uma embaixada. Falou-se na Itália, mas técnicos do Itamaraty teriam reclamado, por considerarem o local adequado a um quadro tradicional, um diplomata. Uma indicação política, como seria o caso de Temer, seria mais adequado a um país como Portugal.
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