O governo brasileiro vai abrir um escritório em Jerusalém, como extensão da embaixada em Tel Aviv, para a “promoção do comércio, investimento, tecnologia e inovação”, anunciou neste domingo (31) o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, durante a visita oficial do presidente Jair Bolsonaro ao país. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do Itamaraty .
“Obrigado por abrir um escritório diplomático em Jerusalém! Israel e Brasil são verdadeiros amigos, com valores comuns, e fortaleceremos a cooperação entre os nossos países”, escreveu Katz um pouco antes nas redes sociais.
Ernesto Araújo afirmou, segundo a agência Reuters, que o escritório vai servir como "parte da sua embaixada em Israel".
Antes de viajar para Israel, Bolsonaro já havia indicado que o Brasil poderia abrir um escritório ao invés de transferir a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, como prometeu durante a campanha eleitoral.
A decisão de abrir um escritório e não transferir a embaixada é uma saída diplomática para resgatar o bom relacionamento com os países árabes, que reagiram mal ao anúncio. A cidade de Jerusalém é disputada por Israel e os palestinos, sendo que estes últimos reivindicam a área Oriental da cidade para ser a capital de um futuro Estado palestino. Caso Bolsonaro insistisse na mudança da embaixada, os países árabes, grandes compradores de carne bovina e de frango brasileiros, poderiam responder com retaliações comerciais.
Em seu discurso, Netanyahu disse que espera que a abertura do escritório seja o primeiro passo para que “quem sabe, chegue um dia a embaixada do Brasil em Jerusalém”.
“Eu amo Israel”
O avião do presidente pousou por volta das 9h45 (3h45, no horário de Brasília). Em cerimônia que durou cerca de 15 minutos, ele discursou, bem como o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
“Eu amo Israel”, disse Bolsonaro, em hebraico, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu -que raramente se desloca para o aeroporto para se encontrar com chefes de Estado.
Na verdade, essa foi apenas a 5ª vez em dez anos que Netanyahu fez essa honraria. Antes de Bolsonaro, ele recebeu no aeroporto apenas dois presidentes americanos, Barack Obama e Donald Trump, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o papa Bento 16.
“Há dois anos estive em Israel e visitei o Rio Jordão”, continuou Bolsonaro, apesar de ter visitado Israel em 2016. “Por coincidência, meu nome é Messias. Me senti emocionado naquele momento. Uma emoção, um compromisso, uma fé verdadeira que me acompanhará o resto da minha vida”.
Bolsonaro também afirmou que espera levar ensinamentos de Israel para o Brasil: “Sabemos que Israel não é tão rico como o Brasil em recursos naturais e outras coisas. Mas eu dizia: olha o que eles não têm e veja o que eles são. E falava: olha o que nós temos e veja o que não temos. Como poderemos ser iguais a eles? Ter a mesma fé que eles têm”, continuou, citando uma passagem bíblica (João 8:32).
O presidente também agradeceu a ajuda israelense em Brumadinho e afirmou que seu governo “está firmemente decidido em fortalecer a parceria Brasil-Israel: “A amizade entre os nossos povos é histórica. Tivemos um momento de afastamento, mas Deus sabe o que faz”, declarou, se referindo aos anos de governo PT, quando houve distanciamento diplomático.
Ele também lembrou, em vídeo publicado nas redes sociais, que "a cooperação nas áreas de segurança e defesa também interessam muito ao Brasil".
No final de seu discurso, Bolsonaro cometeu um erro em hebraico. Ao invés de repetir “Ani ohev Israel” (Eu amo Israel), ele olhou para uma “colinha” e disse: “Ana ohev Israel”. “Ana” significa “eu” em árabe, não em hebraico.
Bolsonaro foi recebido ainda dentro do avião por Benjamin Netanyahu, e, ao desembarcar, passou em revista às tropas, colocadas sob tendas brancas improvisadas por causa do mau tempo. O hino nacional foi tocado pela banda oficial do aeroporto, bem como o Hatikva, o hino de Israel.
Campanha de Netanyahu
A nove dias das eleições gerais em Israel e sob ameaças de indiciamento por corrupção, Netanyahu pareceu animado em receber o apoio do presidente brasileiro -- o que, para seus eleitores, seria um sinal de sua força diplomática mundial.
Coluna de Filipe Figueiredo: Corrupção e novidades no futuro de Israel
Apesar de não conseguir que o Brasil transferisse a embaixada para Jerusalém, o primeiro-ministro já pode registrar uma vitória: ele deve acompanhar Bolsonaro ao Muro das Lamentações, algo que está sendo destacado pela imprensa israelense.
Grande parte dos líderes mundiais não aceita ir com o premiê ao local. Motivo: o muro é localizado em Jerusalém Oriental, área exigida pelos palestinos como sua capital.
A soberania israelense sobre a parte oriental de Jerusalém não é reconhecida pela comunidade internacional. Ao ir oficialmente com o premiê israelense ao muro, Bolsonaro estaria sinalizando com esse reconhecimento.