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Levantamento da evolução das tarifas de importação de 25 países mostra que o Brasil só não se fechou mais que a Bolívia. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Levantamento da evolução das tarifas de importação de 25 países mostra que o Brasil só não se fechou mais que a Bolívia.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O Brasil manteve suas tarifas de importação no mesmo patamar ao longo dos últimos anos. Nesse período, o país só não ‘se fechou’ mais do que a Bolívia — que apesar de ter subido as suas tarifas, ainda tem taxas menores que as brasileiras. A percepção sobre o Brasil ser um dos países mais fechados ao comércio foi reforçada por um estudo do Bradesco, que comparou a evolução das tarifas de 25 países nas últimas duas décadas. Os reflexos desse isolamento são claros na economia brasileira: baixa produtividade e competitividade, aliadas à falta de inovação da indústria nacional.

Em 20 anos, a tarifa média de importação do Brasil caiu só 0,76 ponto porcentual, passando de 14,4% para 13,7%. A Bolívia, na contramão, elevou a tarifa média em 0,44 ponto percentual, passando de 9,6% para 10,1%. Países que mantinham tarifas mais altas que as brasileiras — como a China (22%), África do Sul (14,8%) e México (14,8%) — promoveram uma diminuição considerável, para patamares entre 3% e 7,6%. 

“Tarifas mais elevadas comprometem a produtividade do país pois encarecem os investimentos e atrapalham a competitividade da indústria”, argumenta a economista Andréa Damico, no estudo que compara as tarifas.

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Economia fechada desestimula a competição

Para o economista André Miditieri, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o protecionismo da economia brasileira está muito atrelado à questão política. As atividades industriais brasileiras mais fortes, como os setores automobilístico e têxtil, têm força política e tendem a ser mais protegidos.

O problema é que, como há muita proteção para importar, o produto nacional acaba ficando mais caro e nem sempre é melhor. 

“A gente se acomodou muito na onda dos preços altos das commodities. Aumentaram as exportações, aumentou a renda do país e isso foi usado para consumo. Investimos na importação de bens de consumo duráveis e investimos pouco na modernização da indústria e desenvolvimento da tecnologia”, analisa.

A doença crônica do Brasil: baixa produtividade

O destaque que o Brasil possui na área de commodities e produtos padronizados é positivo, mas é insuficiente para uma economia que tem a pretensão de ser uma das mais dinâmicas do mundo, na opinião do professor da USP Glauco Arbix, ex-presidente do Ipea e da Finep. 

“O Brasil é apontado como uma economia vigorosa, um mercado interno forte, mas, concretamente, do ponto de vista do dinamismo da nossa economia, estamos entre as que mais perderam e nossa taxa de perda de competitividade é maior que a média dos países emergentes”, argumenta.

Para Arbix, a baixa produtividade da economia nacional é a doença crônica do Brasil. “Alguns segmentos como agronegócio, setor financeiro, área de serviços, fugiram um pouco dessa regra e aumentaram de maneira rigorosa a produtividade”, pondera Arbix. No entanto, esses segmentos não têm força para modificar a linha geral da economia brasileira.

Brasil precisa se comparar com as grandes economias

Fazer parte de um bloco econômico como o Mercosul é outro fator que mantém as tarifas de importação brasileiras no mesmo patamar. Mesmo assim, parceiros de bloco como a Argentina reduziram um pouco mais a média de suas taxas do que o Brasil — os hermanos passaram de 14,5% para 12,5% em duas décadas, uma redução superior à brasileira. “O Mercocul pode ser uma solução e também um problema para o Brasil. O problema é que ele nunca foi efetivo”, pondera o economista André Miditieri.

Na opinião de Andréa Damico, economista do Bradesco, uma redução gradual das tarifas de importação, dentro da negociação de acordos comerciais ou bilaterais, teria impacto positivo na economia. “Os benefícios para a economia como maior produtividade, menores custos de insumos, preços mais baixos e como consequência, juros menores, compensam os custos para alguns setores ao longo do tempo”, escreve.

Estar melhor que outros países da América Latina ou mesmo do Mercosul não é suficiente, de acordo com o professor Glauco Arbix. “Se o brasil tem alguma pretensão, tem que se comparar com os melhores, com as grandes economias”, defende. 

Ele cita como exemplo a Coreia do Sul, que tinha indicativos piores que os brasileiros na década de 70 e hoje é uma potência. E lembra que é preciso investir em novas tecnologias e inovação — robótica, nano e biotecnologia, as áreas de ponto da indústria 4.0. “Perdemos, no passado, várias oportunidades, e estamos prestes a perder outra”, diz. 

Economia fechada desestimula a competição

Tradicionalmente as economias mais fechadas apresentam um dinamismo menor – e num mercado globalizado, essas consequências podem ser danosas no longo prazo. Esse modelo fechado desestimula a competição. Na avaliação de Glauco Arbix, as empresas brasileiras tendem a defender a sua fatia de mercado e não a ampliar, ter uma ambição de crescimento e sair do país, o que seria coerente com as pretensões do Brasil. “Quando a gente diminui a pretensão, a gente se acomoda com o que a gente é. E a gente é pouco”, argumenta.

Para Arbix, há um conjunto de componentes que seguram a economia brasileira no patamar em que ela está. “Não conseguimos nos livrar do passado desenvolvimentista, nem dar forma a algo diferente. Somos uma economia fechada, que desconfia dos agentes econômicos, hipercontrolada, temos burocracia em todas as áreas, uma carência social gigantesca que influencia a tributação e um estado ineficiente”, analisa

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