O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, comemorou nesta quinta-feira (3) a “vitória” obtida pelo governo na quarta (2), quando o Congresso Nacional aprovou a abertura de um crédito de R$ 1,164 bilhão para cobrir o calote dos governos da Venezuela e de Moçambique junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Credit Suisse. Marun disse que o resultado significou uma “demonstração de vitalidade” dos parlamentares da base aliada e negou que o governo esteja parado.
O pagamento, que vence na terça-feira (8), poderá ser feito graças a um cancelamento, no mesmo valor, na previsão de gastos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) com o seguro-desemprego. Isto é, o calote será coberto com recursos do trabalhador. O projeto agora vai à sanção presidencial.
“Estou aqui para marcar e registrar a nossa satisfação pela vitalidade da nossa base, num dia sabidamente difícil, e o senso de responsabilidade dos parlamentares que votaram (a favor). Foi uma demonstração de vitalidade da base, uma vitória do bom senso. Foi de goleada”, disse. “Quem é que achou que íamos conseguir esse quórum? Só eu? Ou nem eu?”, brincou.
SAIBA MAIS: Brasil assume rombo após calote de R$ 1,3 bilhão de Venezuela e Moçambique
A abertura do crédito suplementar é necessária porque o Fundo de Garantia à Exportação (FGE), vinculado ao Ministério da Fazenda, é o avalista das operações. Embora o FGE tenha o dinheiro necessário para cobrir a inadimplência dos dois países, a despesa não está prevista no Orçamento.
Proposta é ‘absurda’, diz Força Sindical
Em nota, a Força Sindical considerou “absurda” a aprovação do uso de dinheiro do FAT para cobrir o calote e exigiu que o presidente Michel Temer vete a medida. “Este dinheiro, oriundo do conjunto dos trabalhadores brasileiros, será retirado do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), no programa seguro-desemprego. É preciso sensibilidade social por parte do atual ocupante do Palácio do Planalto no sentido de vetar esta matéria perversa”, afirmou a Força.
“É importante ressaltar que o movimento sindical sempre defendeu o aumento das parcelas do seguro-desemprego com a finalidade de suprir as necessidades dos trabalhadores nesse momento difícil, e sempre ouviu do governo a alegação de que não havia verba para que tal medida fosse tomada. E agora, como por um ‘passe de mágica’, surge este mais de R$ 1 bi para suprir um buraco de países que nada tem a ver com a realidade brasileira e com os trabalhadores do país”, criticou a central sindical.
‘A culpa é do PT’, dizem aliados de Temer
Durante a sessão do Congresso, parlamentares aliados ao Planalto afirmaram que a política do PT foi a responsável pelo prejuízo que terá que ser arcado pelo governo. O líder do PSDB, Nilson Leitão (MT), disse que o Congresso não foi consultado quando as gestões anteriores autorizaram os financiamentos.
“O dinheiro público brasileiro vai ter que pagar essa conta da obra na Venezuela ou em Moçambique. Olhem o absurdo a que nós chegamos”, disse.
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), disse que o governo foi pouco transparente e apresentou um valor para o remanejamento sem detalhar as dívidas, os contratos e os prazos de vencimento. A oposição tentou obstruir a votação, mas não teve sucesso.
Financiamento a empreiteiras envolvidas na Lava Jato
Durante os governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, empréstimos do BNDES permitiram uma expansão da presença na África e na América Latina de empreiteiras brasileiras – companhias que acabaram envolvidas nas investigações da Operação Lava Jato.
Alguns dos contratos deixaram de ser pagos pelos países contratantes e a conta recaiu sobre o contribuinte brasileiro, por meio do governo federal. Isso porque os financiamentos têm seguro do FGE. Em caso de calote, o pagamento fica a cargo do governo.
De acordo com o Ministério da Fazenda, que controla o FGE, Moçambique tem uma parcela de US$ 7,3 milhões (R$ 26 milhões) em atraso que terá que ser honrada pelo Brasil. O débito não pago pela Venezuela até o momento é de aproximadamente US$ 275 milhões (cerca de R$ 970 milhões).
Pressionado pelo calendário apertado, o governo teve que aceitar a marcação de uma sessão do Congresso para votar a proposta em uma semana de feriado, que normalmente tem baixa presença de parlamentares em Brasília. Ainda assim, após apelos do Palácio do Planalto, o número mínimo de deputados e senadores exigido para a votação foi atingido, e o projeto, aprovado.
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Moraes vota pela condenação de deputados do PL denunciados em caso de emendas