O presidente Jair Bolsonaro prometeu nesta quarta-feira (23), em entrevista à agência de notícias Bloomberg, medidas rápidas e abrangentes para consertar a economia brasileira e afastar o que ele disse ser um risco de que o Brasil se transforme numa Venezuela. Ele citou especificamente duas medidas que seriam necessárias para evitar essa ameaça: a reforma da Previdência e as privatizações.
“Há uma consciência no Brasil de que as reformas são vitais para que o governo federal continue funcionando”, disse Bolsonaro. “O Brasil tem que dar certo. Se não, a esquerda vai voltar [ao poder] e não saberemos o destino do Brasil. Talvez se torne mais parecido com o regime que temos na Venezuela.”
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A Venezuela está em recessão há cinco anos, a inflação anual ultrapassou 200.000% e a fome generalizada estimulou um êxodo em massa de venezuelanos para outros países, inclusive para o Brasil. Uma nova rodada de protestos contra a ditadura de Nicolás Maduro estourou nesta quarta-feira (23) e culminou com o líder oposicionista Juan Guaidó declarando-se presidente interino do país.
Cortes substanciais, idade mínima e militares numa segunda etapa
Segundo Bolsonaro, que falou à Bloomberg em Davos (Suíça), a proposta de reforma da Previdência que será enviada ao Congresso trará cortes “substanciais” nos gastos com aposentadorias e estabelecerá uma idade mínima para se aposentar. Ele disse ainda que a aprovação da reforma é praticamente certa porque a situação financeira do Brasil não dá outra alternativa.
Numa declaração que soou como um afastamento do que costumava defender anteriormente, Bolsonaro admitiu na entrevista que irá mudar a Previdência dos militares. Mas ressaltou que isso vai acontecer só numa “segunda parte da reforma”. O presidente é capitão reformado do Exército, e pelo menos meia dúzia de seus ministros são militares.
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Em outra entrevista à Bloomberg em Davos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a reforma previdenciária ajudará a reduzir para zero, ainda neste ano, o déficit orçamentário do país – que hoje é de 7% do PIB.
Nas duas entrevistas, as privatizações também foram abordadas. Bolsonaro afirmou que o plano do governo para vender estatais está quase pronto. E que a privatização atingirá um grande número de empresas. Já Paulo Guedes disse que governo esperar arrecadar US$ 20 bilhões com a venda de estatais neste ano.
Na entrevista à Bloomberg, Bolsonaro disse ainda que está trabalhando para modernizar o Mercosul e permitir que o Brasil busque firmar acordos comerciais sem a participação do bloco. “Um país do tamanho do Brasil não pode ser impedido pelo Mercosul de fazer comércio com o resto do mundo”, disse.
Investidores estão à espera das propostas concretas
Bolsonaro abriu na terça-feira (22) o Fórum Econômico Mundial, em Davos, com um breve discurso numa sala lotada de investidores internacionais empolgados diante da perspectiva de que o novo governo brasileiro seja pró-mercado. Em seu pronunciamento, prometeu cortar impostos e reduzir a burocracia estatal.
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Apesar de o interesse dos mercados internacionais pelo Brasil ter aumentado por causa da promessa de privatizações e diante da possibilidade de uma maior abertura comercial, os investidores estão à espera de mais detalhes dos planos do novo governo para tomar decisões. Os primeiros sinais dessa expectativa já foram sentidos na Bolsa de São Paulo: após uma alta de 20% desde a vitória de Bolsonaro no primeiro turno da eleição presidencial, em 7 de outubro, o Ibovespa parou de crescer.
Nos últimos dias, o governo começou a detalhar alguns dos planos de privatização. Mas a proposta de reforma da Previdência só será apresentada ao Congresso em meados de fevereiro, e pode levar meses para ser aprovada. Os investidores estão especialmente interessados no andamento da reforma devido a seu potencial para reduzir o déficit orçamentário do governo federal.
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Bolsonaro fala das suspeitas envolvendo seu filho Flávio
A Bloomberg destacou ainda que a primeira viagem ao exterior de Bolsonaro foi ofuscada na imprensa brasileira pelas suspeitas de irregularidades financeiras envolvendo seu filho mais velho, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Bolsonaro comentou sobre o caso de Flávio Bolsonaro à Bloomberg: “Se por acaso ele errou e isso for provado, lamento como pai, mas ele terá de pagar o preço por esses atos que não podemos aceitar”.
Segundo a Bloomberg, as suspeitas envolvendo Flávio ameaçam indispor Bolsonaro com sua base de apoio, além de minar a agenda anticorrupção do presidente – que se elegeu com um discurso defendendo a lei e a ordem” e prometendo um governo limpo.