Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, encomendada ao Instituto Datafolha, mostra que a população do Brasil tem uma forte inclinação a apoiar ideias autoritárias. Numa escala de zero a 10, em que zero é nenhuma propensão ao apoio a posições autoritárias e 10 é a total adesão a esse tipo de pensamento, o brasileiro médio fica com a nota 8,1.
INFOGRÁFICO: Veja os resultados da pesquisa e avalie qual é seu grau de concordância com o pensamento autoritário
O levantamento mostra que a tendência ao autoritarismo permeia toda a sociedade. Há uma tendência a um menor apoio a pensamentos autoritários em determinados segmentos sociais. Quanto mais escolarizados e mais ricos, por exemplo, há menos adeptos desse tipo de posição.
Ainda assim, a propensão do brasileiro a admirar o uso da força é elevada em todos os grupos avaliados (por grau de instrução, faixa etária, cor da pele, remuneração, região em que mora, tipo da cidade em que vive).
O que exatamente mede a pesquisa
Usando uma metodologia internacional criada no pós-2ª Guerra para medir a inclinação a ideias como as do nazifascismo, a pesquisa do Fórum aferiu o grau de concordância da população com uma série de afirmações que embutem um pensamento com viés autoritário.
Um exemplo: “a obediência e o respeito à autoridade são as principais virtudes que devemos ensinar às nossas crianças”. No total, 81% dos brasileiros concordam com esse pensamento, que coloca a submissão à autoridade como principal valor a ser ensinado por pais e professores.
As questões apresentadas aos entrevistados abordam questões como família, limites da vida privada e pública, comportamento dos jovens, bons e maus costumes, homossexualidade, ciência e fé, punição a desvios morais, ação da polícia, classe social, entre outros temas.
A propensão a concordar com as afirmações indica, segundo o estudo, três comportamentos: a receptividade acrítica dos brasileiros a agir de acordo com o que dizem as autoridades (sejam elas políticas, morais ou familiares); a tendência a defender punição violenta de quem viola as regras tradicionais da sociedade; e a adesão a uma forma de pensamento místico e rígido que defende inflexivelmente o que considera ser a moralidade.
LEIA TAMBÉM: 43% dos brasileiros defendem intervenção militar
A causa: a criminalidade. A consequência: a ameaça à democracia
O levantamento, divulgado neste mês de outubro pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, considera que a adesão do pensamento autoritário é fruto da elevada criminalidade e violência do país – que, segundo os autores da pesquisa, não vem sendo adequadamente enfrentada pelas autoridades, sejam elas de esquerda ou de direita.
A pesquisa mostra que o apoio a posições autoritárias é maior na parcela da população que tem mais medo da violência. Nesse segmento, a adesão ao autoritarismo atinge 8,24 numa escala de 0 a 10. Na população com menos medo, o apoio a essas concepções ficou em 7,88. O estudo lembra ainda que mais de 50 milhões de brasileiros conhecem alguém que foi assassinado.
“A mensagem que queremos transmitir é cristalina: se o Brasil não encarar de frente o drama da violência e não construir um novo projeto político e institucional para a segurança pública do país, não só veremos as tentações autoritárias crescerem, como corremos sérios riscos de retrocessos civis, políticos, sociais e econômicos”, diz trecho do relatório da pesquisa.
“Vivemos amedrontados pelo crime e pela violência e, em um momento de profunda crise de legitimidade das instituições democráticas, estamos sob ataque de grupos que professam sua fé na violência como forma de governar e de, paradoxalmente, pacificar a sociedade”, afirma a pesquisa em outro trecho.
SAIBA MAIS: Os militares podem “consertar” o Brasil? Reportagem da Gazeta do Povo responde à pergunta
“Há uma grave fratura na sociedade sobre como lidar com crimes e criminosos, pela qual muitos ‘aceitarão’ a morte de alguns em defesa do Estado e da sociedade. Como consequência, ao invés de interromper o ciclo, dirigentes públicos e autoridades muitas vezes irão investir eleitoralmente e institucionalmente neste discurso na expectativa de servirem de caixa de ressonância dos anseios e medos da população por mais segurança. Só que, ao fazerem isso, não percebem que o jogo se assemelha a uma roleta russa, na qual não há sobreviventes ou vencedores”, afirma outro trecho do estudo.
Embora o estudo trate a criminalidade como causa do pensamento autoritário, ele não se volta apenas aos bandidos. Uma afirmação apresentada aos entrevistados, que teve a concordância de 60% deles, revela que a sanha punitiva de parcela expressiva da sociedade também se volta para os que não seguem os bons costumes: “A maioria de nossos problemas sociais estaria resolvida se pudéssemos nos livrar das pessoas imorais, dos marginais e dos pervertidos”.
A luz no fim do túnel
Apesar do cenário de ampla adesão ao autoritarismo entre os brasileiros, a pesquisa traz uma luz no fim do túnel que, na verdade, constitui um paradoxo. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública também mensurou a adesão dos brasileiros a pautas dos direitos humanos, civis e sociais. E alguns dos resultados mostram que a população concorda com uma agenda de mais igualdade.
A afirmação “Homens e mulheres são igualmente responsáveis pelas tarefas domésticas e pelo cuidado dos filhos”, por exemplo, tem a concordância de 91% dos entrevistados. O pagamento da Bolsa Família a pessoas muito pobres é aprovado por 84%. Uma parcela significativa (75%) reconhece que o movimento feminista tem um papel importante na luta pela igualdade entre homens e mulheres. E 72% dos brasileiros concordam com a seguinte afirmação: “Não há vergonha nenhuma em ter filhos(as) assumidamente homossexuais” (veja os demais resultados da pesquisa no infográfico abaixo).
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas