Limitado por obrigações legais, falta de reforma na Previdência, crise econômica e reajustes que concedeu a algumas das categorias mais bem pagas do funcionalismo, o governo não consegue finalizar o ajuste fiscal. Mas milhares de brasileiros conseguiram.
Entre o fim de 2014 e o fim de 2016, em meio à mais profunda recessão da história do país, o número de famílias endividadas nas capitais caiu de 9,149 milhões para 8,868 milhões. Isso significa que 281 mil famílias conseguiram se livrar das dívidas, ou seja, quitaram seus financiamentos. Tudo isso apesar do crescimento de 1,6% no número de famílias e da queda de 2,7% no rendimento médio dessas pessoas.
Com menos gente devendo, caiu também o valor médio mensal das dívidas. Ele baixou de R$ 1.832 para R$ 1.777 por família, já considerando a inflação do período.
Os dados são da sétima edição da Radiografia do Endividamento das Famílias Brasileiras, realizada pela FecomercioSP. Para a assessoria econômica da instituição, “ficou evidente a elevada racionalidade na administração do orçamento doméstico pelas famílias brasileiras”.
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“Quando o quadro econômico passou a sinalizar para instabilidade e dificuldades de crescimento, imediatamente as famílias passaram a adotar atitudes mais conservadoras e austeras no padrão de seu consumo, evitando o comprometimento da renda futura e antecipando a deterioração da confiança quanto à sua capacidade de manutenção do poder de compra e até mesmo do emprego em futuro próximo”, diz nota da FecomercioSP.
É claro que esse movimento teve consequências sobre a economia. Para conseguir pagar seus empréstimos num cenário de queda na renda, as pessoas tiveram de poupar dinheiro. E, ao gastar menos, derrubaram o faturamento do comércio.
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Segundo a mesma FecomercioSP, as vendas do varejo brasileiro encolheram 18% desde o início da recessão, em 2014, e retrocederam aos níveis de cinco anos atrás. Mesmo que a partir de agora o faturamento cresça a taxas de 3% ao ano, o setor vai demorar cinco ou seis anos para recompor o padrão anterior.
Um dos estímulos para o “ajuste fiscal doméstico” foi o forte aumento dos juros. A taxa média cobrada das pessoas físicas saltou de 49,3% ao ano em dezembro de 2014 para 72,4% dois anos depois. No mesmo intervalo, o saldo das operações de crédito – isto é, o volume total de dinheiro emprestado às famílias – encolheu de R$ 929 bilhões para R$ 816 bilhões.
Culpa do governo
O detalhe é que a disparada dos juros, que tanto sacrifício impôs às famílias, está relacionada à gastança do Estado. Afinal, quanto maior a dívida do governo, mais os credores tendem a cobrar para emprestar a ele, o que acaba inchando os juros de toda a economia.
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A última vez que o governo federal fechou suas contas no azul foi em 2013. Estamos falando de resultado primário, aquele que não inclui os juros da dívida. Quer dizer, mesmo sem incluir essa despesa, o país está há quatro anos gastando mais do que arrecada, e a tendência é de que continue assim pelo menos até a virada da década.
O déficit primário, que foi de R$ 21 bilhões em 2014, saltou a R$ 116 bilhões em 2015 e depois chegou a R$ 159 bilhões em 2016. A meta do governo é repetir este último valor em 2017 e 2018. A consequência é que o endividamento disparou. A dívida pública federal saltou do equivalente a 51,5% do PIB em dezembro de 2014 para 73,7% do PIB em agosto de 2017, o dado mais recente disponível.
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