A visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos Estados Unidos, que começou oficialmente neste domingo (17) e vai até terça-feira (19), marca o início de uma nova era para a política externa brasileira. Há expectativa que acordos envolvendo as áreas de turismo, energia, segurança, defesa, biodiversidade e agricultura sejam celebrados na viagem. O objetivo é aproximar o Brasil da maior economia do mundo, já que os dois governos compartilham de objetivos e ideologias em comum, como o conservadorismo nos costumes e o apoio ao presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó.
Bolsonaro e a comitiva brasileira desembarcaram em Washington às 16h40 (horário de Brasília). O presidente está hospedado na Blair House, palácio que faz parte do complexo da Casa Branca. É lá que desde 1942 se hospedam presidentes, primeiros-ministros e monarcas em viagens oficiais à capital americana. A casa tem 5,6 mil metros quadrados, 120 cômodos e uma equipe permanente de 18 funcionários.
Bolsonaro recebe o boné “Make Brazil Great Again”
À noite, a comitiva brasileira participou de um jantar organizado na residência do embaixador do Brasil nos EUA, Sérgio Amaral. A lista de convidados incluiu integrantes do movimento conservador, como Steve Bannon, ex-estrategista da campanha de 2016 de Donald Trump à Presidência, o filósofo Olavo de Carvalho, o ex-diplomata do governo George W. Bush Roger Noriega e Gerald Brant, integrante do mercado financeiro de Nova York e responsável por apresentar Bannon à família Bolsonaro.
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A lista de convidados foi elaborada pelo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, e pelo diplomata Nestor Forster, responsável por apresentar Araújo a Olavo de Carvalho e cotado para assumir a embaixada brasileira em Washington. Ernesto Araújo é um dos seis ministros que acompanham Bolsonaro na viagem. Os outros são: Paulo Guedes (Economia), Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tereza Cristina (Agricultura) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).
No jantar, Bannon entregou a Bolsonaro um boné verde com a frase "Make Brazil Great Again" bordada em amarelo ("Torne o Brasil grande de novo", em tradução livre). A frase é uma adaptação do slogan usado por Trump durante sua campanha presidencial de 2016.
Segunda-feira: discurso e jantar com empresários
A agenda do presidente segue na segunda-feira (18). Além de se encontrar com o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, Bolsonaro participará do "Brazil Day in Washington", na Câmara de Comércio dos Estados Unidos.
O presidente brasileiro deve discursar às 18h50 (horário de Brasília). Antes, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentará o painel “O Futuro da Economia Brasileira”. Autoridades e empresários americanos estarão presentes.
À noite, Bolsonaro participa de um jantar com grandes empresários promovido pelo Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. Entre os convidados, estão a presidente da Boeing América Latina, Donna Hrinak; o presidente da Embraer nos EUA, Gary Spulak; o CEO da gigante do alumínio Alcoa, Roy Harvey; a vice-presidente da IBM; Chris Padilla; o vice-presidente sênior da UnitedHealth Group, Joel Velasco; o presidente da empresa de energia AES, Leonardo Moreno; e a presidente do Citigroup para América Latina, Jane Fraser.
O objetivo desses encontros é se aproximar empresários e investidores e passar uma imagem de otimismo em relação à economia brasileira e as reformas estruturais que estão sendo feitas.
Terça-feira: o primeiro encontro entre Trump e Bolsonaro
O grande dia da viagem será na terça-feira (19), quando Bolsonaro vai conhecer pessoalmente o presidente Donald Trump. Os dois já tiveram uma breve conversa em 28 de outubro, por telefone, quando Trump parabenizou Bolsonaro pela vitória nas eleições. Foi ali o início da aproximação entre os dois países.
Depois disso, o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, foi até o Rio de Janeiro conhecer pessoalmente Bolsonaro. O capitão reformado do Exército ainda não havia tomado posse. Na ocasião, Bolton convidou formalmente Bolsonaro a visitar os Estados Unidos e a conhecer Donald Trump.
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O encontro entre os dois presidentes acontece na Casa Branca, a partir das 13h (horário de Brasília). Bolsonaro e Trump devem conversar reservadamente. Somente um tradutor deve acompanhar a conversa, já que Bolsonaro não fala inglês. Logo depois, haverá uma coletiva de imprensa que deverá contar com a presença dos dois presidentes.
Bolsonaro fará ainda uma visita ao Cemitério Nacional de Arlington, com passagem pelo Túmulo do Soldado Desconhecido. Ainda na terça-feira, retorna ao Brasil.
O que deve ser anunciado durante a viagem
A visita ao Estados Unidos é a primeira viagem que Bolsonaro faz ao exterior, marcando uma mudança na política externa brasileira. Tradicionalmente, a primeira viagem era para a Argentina. Bolsonaro não só rompeu a tradição, como deixou o país vizinho para segundo plano. Depois dos EUA, o presidente vai viajar para o Chile e para Israel.
Nos Estados Unidos, um dos principais acordos que será assinado é o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas entre o Brasil e os Estados Unidos. A medida vai permitir o uso comercial da base de lançamentos aeroespaciais de Alcântara, no Maranhão. Uma primeira versão do acordo chegou a ser assinada em 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, mas naufragou no Congresso. Depois, entraves do próprio ministério da Defesa travavam o acordo.
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A Base de Alcântara é internacionalmente reconhecida como um ponto estratégico para o lançamento de foguetes, por estar localizada em latitude privilegiada na zona equatorial, o que permite uso máximo da rotação da Terra para impulsionar os lançamentos.
O mercado de lançamento de satélites estima movimentar entre US$ 1,1 trilhão e 2,7 trilhões nos próximos 25 anos e os Estados Unidos é um dos principais players.
Na área de turismo e negócios, o governo brasileiro vai isentar unilateralmente de vistos cidadãos americanos, australianos, canadenses e japoneses. O Itamaraty avalia que a isenção de visto para esses quatro países pode gerar uma receita adicional de vários bilhões de reais. Mas, mesmo sem exigir contrapartida, o governo espera começar a negociar a isenção de visto para brasileiros nos Estados Unidos.
Haverá, ainda, o anúncio de uma série de medidas na área de energia, segurança, biodiversidade e agricultura. Por exemplo, a Polícia Federal (PF) brasileira vai assinar memorandos interinstitucionais com a Agência de Fronteiras dos Estados Unidos, o Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) e o FBI sobre a troca de agentes de ligação para facilitar a comunicação entre os países e o intercâmbio de boas práticas em controle de fronteiras.
Já o Ministério do Meio Ambiente assinará uma carta de intenções sobre a criação de um fundo sobre biodiversidade na Amazônia com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês).
Outros anúncios que podem ser feitos
Há, ainda, a expectativa de que o governo dos EUA passe a considerar o Brasil “Aliado Importante Extra-OTAN. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) reúne atualmente 29 países em um tratado de cooperação e defesa mútua e é o mecanismo militar mais importante para a segurança ocidental desde sua fundação, em 1949, no início da Guerra Fria. Ser um aliado Extra-Otan significa ser um parceiro estratégico de cooperação e defesa mútua, mas sem qualquer obrigação em relação à OTAN ou vínculo com a aliança.
A cooperação em defesa e segurança com os Estados Unidos é um dos três tópicos prioritários do Itamaraty para a relação entre os dois países, ao lado de defesa da promoção da democracia, da liberdade e da soberania e de integração econômica.
Além do anúncio de aliado Extra-Otan, há a expectativa para que os Estados Unidos declarem apoio formal à candidatura do Brasil como país-membro da OCDE. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reúne 36 países considerados os mais ricos do mundo.
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O Brasil já é um dos países não-membros com participação mais ativa na entidade e iniciou há quase dois anos o processo formal para entrar no grupo. O apoio dos Estados Unidos à candidatura é fundamental, já que os americanos são a principal nação do grupo. Até o momento, os EUA declararam apoio à acessão da Argentina.
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