O fenômeno da Lava Jato transformou a sucessão de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República (PGR) em uma corrida acirrada e disputadíssima. Nunca a eleição interna para escolha do novo chefe do Ministério Público Federal chamou tanto a atenção e ganhou tamanho holofote. O protagonismo da PGR nesse caso dispensa explicação. Em debates como o que ocorreu nesta sexta-feira (23), em Brasília, temas como colaboração premiada, apoio às investigações e comportamento diante de uma eventual denúncia criminal contra o presidente Michel Temer normalmente vêm à tona.
Janot deixa o cargo em setembro e oito subprocuradores-gerais da República disputam os votos de cerca de 1,3 mil procuradores que compõem o colégio eleitoral. A eleição ocorre na terça-feira (27), em todo o país, num sistema eletrônico de votação. O resultado será conhecido no mesmo dia. Não há segundo turno. Os três mais bem votados entram na lista tríplice que será encaminhada ao presidente da República.
Desde que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o Planalto, em 2003, o primeiro dessa relação sempre é o escolhido. O presidente pode optar por um dos três, ou por nenhum deles, escolhendo outro procurador entre os oito – Temer já deu sinais de que pode fazer isso. Depois, o nome precisa ser submetido a uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e ainda a uma votação secreta no plenário da Casa.
Conversa republicana, nada mais
Cinco dos oito candidatos participaram do debate desta sexta, na universidade Ceub. Entre os assuntos comentados, a busca do apoio de políticos para o cargo. Todos afirmaram que, caso sejam o escolhido por Temer, irão sim conversar com os senadores. Mas, ressaltaram, que será uma conversa republicana, de apresentação de ideias e currículos. Tão somente.
A subprocuradora Ela Wiecko, que já esteve em várias dessas listas tríplices e que já foi vice-procuradora-geral da República, contou que em outras disputas procurou conversar com alguns políticos, mas disse que, agora, com a revelação de envolvimento de muitos deles em escândalos, é preciso tomar cuidado. Ela afirmou que hoje o “campo está minado”.
“Depois de feita a indicação (pelo presidente), é de praxe conversar, procurar os senadores. Mas durante a disputa, antes de se conhecer a lista, não faço contato. As coisas mudaram. O campo está minado. E a conversa hoje seria de uma apresentação”, disse Ela.
Abordada depois pela Gazeta do Povo sobre o assunto, Ela complementou. “Antes se falava com os políticos. Não aparecia estampado na face quem era corrupto”.
Apontada como uma candidata com apoio de setores do PMDB, Raquel Dodge reagiu com o argumento de que a lista tríplice tem o propósito de blindar os candidatos. “Se estamos nessa lista é porque temos a confiança dos nossos colegas. Já funciona como um biombo e uma informação para as pessoas”, disse.
Os candidatos afirmaram que irão dar continuidade às investigações da Lava Jato e darão todo apoio institucional e material necessários. Sandra Cureau, porém, afirmou ser necessário “aprimoramento” e disse que ocorreram alguns “tropeços” nesse curso. Ela citou a saída de um procurador que atuava na operação e foi para um escritório de advocacia defender acusados e auxiliar no processo de delação do seu cliente.
“É preciso uma quarentena para o procurador, quando ele vai para um escritório defender réus. Ele sai levando informações sigilosas”, afirmou Sandra.
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