A imagem acima foi captada exatamente às 16h39. É do plenário da Câmara dos Deputados em plena quarta-feira. Dia e hora que o espaço deveria estar, senão repleto, com um quórum mínimo que pelo menos não comprometesse ainda mais a reputação da Casa. A paralisia tem nome, ou pretexto: os festejos de São João, em especial no Nordeste.
A suspensão das votações estava prevista desde a semana passada. O que aconteceu nesta quarta foi uma sessão não deliberativa e de debates. É aquela em que o deputado sobe na tribuna e discursa sobre os mais diversos temas, mas para um plenário vazio.
Ao todo, e durante todo o dia, apenas 31 parlamentares se revezaram no microfone. Discursavam e saíam. Alguns deles faziam questão de registrar o momento nas suas falas, em tom de lamento e crítica.
“O cenário aqui é estranho. Quarta-feira e este imenso vazio. O que revela, entre outras coisas, o profundo abismo que há entre o Brasil oficial, institucional, o Congresso Nacional, em particular a Câmara dos Deputados, e o Brasil real, que tem muita coisa bonita, que sofre, que luta, que constrói esperança”, disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
Oficialmente, passaram pela Casa 136 deputados – o equivalente a um quarto dos 523 parlamentares. Esse “passar” significa que o deputado pode ter vindo de manhã, registrado presença e depois ido embora.
Nas comissões da Câmara pouca coisa aconteceu. O evento que reuniu maior número de pessoas foi o lançamento da Frente Parlamentar da Defesa da Soberania, um ato de esquerda que reuniu simpatizantes do PT, com discursos de “Fora Temer”.
O deputado Silas Freire (PR-PI) também criticou duramente a ausência dos colegas e afirmou que São João é lembrado sim, mas nas preces dos desempregados, enquanto a Câmara nada faz. “Venho aqui lamentar profundamente que, numa quarta-feira normal no país, esta Casa esteja completamente vazia, sem votações, sem discussões importantes para a nação, com quatro, cinco, dez guerreiros deputados aqui presentes fazendo as suas falas. A primeira alegação são as festas de São João. Temos 14 milhões de brasileiros rezando a São João por um emprego, e esta Casa está parada. Com que moral nós podemos enfrentar este povo brasileiro? Com que moral esta Casa vai querer — se acontecer — fazer uma eleição indireta e eleger um presidente da República? Nós não temos essa moral”, disparou.
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