Na próxima quarta-feira (10), Helena Onuka assistirá de camarote o ex-presidente Lula chegar à sede da Justiça Federal, em Curitiba. Dona de um prédio na esquina de onde o petista deverá prestar depoimento ao juiz Sergio Moro, ela terá visão privilegiada de tudo o que acontecerá no “Dia D” da Lava Jato. E, mais do que simplesmente acompanhar o que muitos já consideram como o evento do ano, ela ainda vai lucrar com isso.
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Moradora da região há mais de 20 anos, Helena aproveitou a localização para locar a cobertura do prédio para veículos de comunicação acompanharem o passo a passo da vizinhança ilustre. É um ponto estratégico para a imprensa: o imóvel garante um ângulo perfeito da entrada da Justiça Federal e não tem nenhum obstáculo à sua frente, o que significa ver a chegada e a saída de Lula sem bloqueios. E essa vantagem, é claro, tem seu preço. No caso, R$ 1 mil o mês — ou R$ 500, caso sua visita seja um pouco mais breve.
Ao todo, Helena já reservou o local para nove empresas. Sete delas confirmaram a permanência pelos próximos 30 dias, enquanto as demais reservaram por um período menor. Ao todo, ela espera lucrar cerca de R$ 8 mil somente com o dia do depoimento. E ela espera que o movimento continue. “Eu acho que vai mais de um mês isso aí. Pra mim é bom, né?”, brinca.
Cada uma das locatárias tem o seu próprio espaço na pequena varanda, delimitado por uma fita vermelha e um adesivo que indica o dono daquele lugar. As posições foram definidas por ordem de chegada: quem pediu primeiro, escolheu sua posição no camarote improvisado.
“Todo mundo falou que cobrei pouco, que deveria ter pedido até R$ 2 mil”, conta Helena. “Mas eu não quis explorar ninguém. Até porque, se o Lula ficar mais tempo, os jornalistas também vão querer ficar.” A lógica por trás do cálculo nasce dos anos de experiência no ramo imobiliário. Antes mesmo da vizinhança virar ponto turístico, ela e o marido já locavam imóveis no prédio para empresas. “A gente vive disso e a maior loja [que fica na parte inferior do prédio] saiu há alguns meses, o que nos atrapalhou bastante financeiramente. Então o aluguel da cobertura veio em boa hora.”
Além do local para filmagens e fotografias, ela disponibilizou também uma sala de imprensa improvisada para os repórteres que vão trabalhar na cobertura da visita do petista a Curitiba. O local ainda está em obras e vai ser transformado em um salão de festas no futuro, mas, por enquanto, as portas e demais equipamentos que estavam encostados acabaram virando bancos e mesas improvisadas. “E eu já avisei que vou dar só café e água. O resto, vocês [imprensa] que se virem”, brinca.
Dentro de casa
E não vai ser apenas em sua cobertura que o movimento vai ser intenso para observar a chegada do ex-presidente. Dentro da própria casa dela, amigos e parentes devem se reunir para acompanhar toda a ação da próxima quarta-feira – incluindo familiares vindos de outras cidades. “Para esses, é de graça”, diz. No fim, todos querem vir até a capital paranaense para acompanhar o embate entre Lula e Moro.
Já em relação à outra vizinhança, o acampamento de apoio à Lava Jato montado na praça em frente ao seu prédio, Helena revela já ter se acostumado com o barulho. “Depois das 18 horas, sempre tem muita buzina. É assim todos os dias. Atrapalha, mas você se acostuma.” Ainda assim, ela diz não tomar partido nessa briga entre direita e esquerda que quase sempre bate à sua porta. Para ela, que convive com a Justiça Federal logo ali, o ideal é permanecer neutro.
Exatamente por isso, para o próximo dia 10, ela diz estar alerta. Embora assuma gostar de ver multidões do alto de sua varanda, diz ter medo de uma possível confusão que possa surgir entre os manifestantes. Tanto que já avisou aos demais inquilinos para que não trabalhem na quarta-feira ou que, pelo menos, evitem deixar os carros na rua. “E, nessa semana, eu não saio nem de vermelho e nem de verde, que é para não apanhar.”
Visita de Lula vai mexer em rotina da vizinhança
Para garantir a segurança na região, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) anunciou que vai isolar a região em um perímetro de 150 metros em torno do prédio da Justiça Federal. E isso vai impactar diretamente no comércio da região. Como o trânsito de pedestres será restrito no local, os estabelecimentos ainda decidem se valerá ou não a pena abrir as portar na quarta-feira. “A polícia já começou a cadastrar as empresas e quem trabalha aqui por perto”, conta o gerente de uma lanchonete próxima ao local de trabalho de Sergio Moro. “A gente vai abrir. Só vamos fechar se tiver confusão.” Já Helena Onuka prefere não arriscar. “Queria descer para comprar pão e fazer sanduíches para os jornalistas, mas não sei se vou conseguir.”
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