O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possivelmente terá um papel central na eleição de 2018, seja como protagonista ou personagem de bastidor. Se for candidato ao Planalto, provavelmente chegará ao segundo turno, conforme indicam as pesquisas. Já sua ausência abre um vácuo que estimulará a pulverização de candidaturas, sobretudo da esquerda. Mas, mesmo fora da disputa, Lula manterá o poder de influenciar uma parcela significativa dos eleitores. E terá força política para ser um cabo eleitoral de peso.
O petista já disse que pretende se candidatar em 2018. Porém, pode ser barrado pela Justiça. O juiz Sergio Moro deve decidir até o fim deste mês se condena ou não Lula no processo da Lava Jato referente ao apartamento triplex do Guarujá (SP) – e poucos analistas apostam suas fichas na absolvição.
Uma possível condenação por Moro não o torna inelegível de imediato. Pela Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente teria de ser condenado na segunda instância judicial para não poder concorrer. Mas, se isso ocorrer antes das eleições, ele pode não se candidatar.
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Esquerda x direita
O cientista político Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que uma eleição com Lula tende a ser uma disputa entre o petista e mais um – ele acredita que será um nome do PSDB. Apesar de ser alvo de sucessivas denúncias de corrupção, Lula lidera com folga as pesquisas – com um porcentual que varia entre 25% e 30% das intenções de voto.
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Sem Lula na disputa, a tendência é de que haja mais candidatos concorrendo. “Outros partidos vão apostar no desgaste do PT e do PSDB para tentar lançar nomes novos”, diz. Mas Oliveira avalia que essa é uma leitura equivocada do cenário eleitoral. Para ele, a tradicional polarização PT-PSDB tende a se manter em 2018.
O cientista político Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFACB), concorda que a eleição possivelmente será polarizada. Mas não necessariamente entre petistas e tucanos. Amadeu diz que, independentemente dos partidos aos quais estejam filiados, os candidatos que irão para o segundo turno devem ser de campos opostos: de um lado, alguém mais à direita e conservador, alinhado às reformas do presidente Michel Temer; do outro, o concorrente de esquerda e de oposição a essa agenda reformista.
Amadeu acredita que a tendência é haver mais candidaturas, principalmente da esquerda, se Lula não puder se candidatar. Ainda assim, para ele, algum dos concorrentes desses partidos deve catalisar grande parte dos votos que seriam do petista.
O professor da UFABC não descarta, contudo, a possibilidade de que a pulverização de candidaturas provoque uma divisão tão acirrada dos votos da esquerda que o segundo turno venha a ser disputado entre dois candidatos do outro campo ideológico: um concorrente mais da centro-direita e outro da direita radical. Mas Amadeu acha que esse cenário é menos provável.
Cabo eleitoral
Fora da disputa, Lula também poderá ser o principal cabo eleitoral da esquerda em 2018. Sergio Amadeu lembra que o petista é o grande nome desse espectro ideológico há décadas, capaz de unir correntes divergentes em torno de um projeto comum.
Há ainda outro fator em jogo: aquilo que hoje é a grande fraqueza de Lula poderá se transformar em força. Adriano Oliveira afirma que uma condenação de Lula pode produzir dois sentimentos no eleitorado: o de que foi feita justiça ou de que ele é vítima do Judiciário. Se a imagem da vitimização prevalecer, isso tornaria o ex-presidente mais forte, bem como o candidato que ele venha a apoiar.
Incertezas
Os dois cientistas políticos concordam ainda que, embora seja possível estabelecer tendências para 2018, uma previsão para a eleição do ano que vem é difícil de ser feita neste momento devido às incertezas provocadas pela Lava Jato.
Amadeu lembra que a corrupção é sistêmica – afeta quase todos os partidos. E isso pode ter peso decisivo em 2018. Adriano Oliveira afirma que, assim como Lula pode não vir a ser candidato em função de uma condenação, outros possíveis concorrentes estão em situação semelhante.