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| Foto: Lula Marques/Agência PT

No dia em que foi premiado pela Universidade Notre Dame durante almoço no Hotel Fasano, em São Paulo, o juiz federal Sergio Moro “abriu o coração” e falou sobre diversos assuntos em entrevista a jornalistas nesta segunda-feira (2). O magistrado símbolo da Operação Lava Jato teve o seu trabalho a frente do julgamento de políticos e grandes empresários em Curitiba reconhecido pela honraria internacional, entregue a “homens e mulheres cuja vida e obra demonstram dedicação exemplar aos ideais” pela qual a universidade preza.

Moro reconheceu estar “cansado” das ações da Lava Jato, voltou a afirmar que não há a menor possibilidade de ele se candidatar a um cargo eletivo em 2018 e disse que a ditadura militar foi “um erro”. Leia a seguir sobre o que ele comentou:

Cansaço já começou a bater

Neste final de semana, uma coluna da revista Veja afirmou que Moro teria confidenciado a um amigo que pretende migrar para outra vara da Justiça Federal tão logo termine de julgar os processos referentes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Motivo: cansaço.

Em São Paulo, o magistrado admitiu estar exausto por conduzir tantas ações da Lava Jato na 13.ª Vara Federal de Curitiba, onde é titular. Mas afirmou que não pretende parar. “É verdade que estou cansado. Tem sido um trabalho duro, mas não há nenhuma previsão concreta de eu deixar a 13.ª Vara.”

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Fim da Lava Jato está próximo

Moro disse que em Curitiba, base e origem da grande investigação, a Lava Jato “está indo para o final”. Sob sua alçada estão os réus da Lava Jato sem foro privilegiado, como o ex-presidente Lula.

“Em Curitiba a investigação sempre foi sobre os contratos da Petrobras que geraram valores e as pessoas que pagavam (propinas). Grande parte já foi processada. As que recebiam e não tinham foro privilegiado, igualmente. Daí a minha afirmação de que acredito que está indo para o final em Curitiba”, afirmou.

Não é a primeira vez que Moro fala que a Lava Jato está chegando ao fim. Em 2016, ele chegou a afirmar que pretendia encerrar o caso ainda no final daquele ano. Em novembro, pediu licença de um ano de suas atribuições na Universidade Federal do Paraná, onde leciona, para se dedicar à operação.

A colunista da Folha de S. Paulo Mônica Bergamo chegou a noticiar que Moro pretendia se licenciar da Lava Jato para viajar no fim de 2018 ou início de 2019 para uma temporada de estudos nos Estados Unidos.

Traficantes dão menos trabalho

Mas o cansaço é evidente. O juiz chegou a afirmar nesta segunda-feira que prefere julgar grandes traficantes de drogas a réus da Lava Jato – empreiteiros e políticos poderosos, condenados por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A razão, segundo ele, é muito simples: “dá menos trabalho”. “Eu até falei brincando outro dia, que a gente estava ‘doido’ para voltar a julgar grandes traficantes de drogas”, disse.

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Pesquisa com meu nome é perda de tempo

Moro descartou, novamente, que tenha alguma pretensão política. Ele afastou taxativamente a possibilidade de abandonar a toga para disputar a Presidência ou qualquer outro cargo eletivo em 2018. “Eu já fiz afirmações categóricas sobre isso”, rechaçou o juiz. “Não existe nenhuma expectativa. Acho que pesquisa que inclui meu nome, no fundo perde tempo.”

Pesquisa DataFolha divulgada no domingo (1) aponta Moro como nome importante na disputa à Presidência no próximo ano – o juiz Moro empata com Lula nas preferência do eleitorado. “Não vai acontecer”, disse Moro. “É simples assim. Não tem nenhuma expectativa de que isso aconteça. No momento eu tenho uma carreira profissional na magistratura. E pretendo persistir nessa carreira.”

Lula candidato “não é da minha responsabilidade”

O juiz da Lava Jato disse que “não é da sua responsabilidade” o fato de o ex-presidente Lula poder se candidatar à Presidência em 2018 e, eventualmente, se eleger. “Eu sou um juiz fazendo o meu trabalho na Corte, julgando casos. E o que acontece fora da Corte não é da minha responsabilidade.”

Moro condenou Lula a uma pena de nove anos e seis meses de prisão no caso do tríplex do Guarujá, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro recebido da empreiteira OAS. Nas mãos do juiz da Lava Jato estão em curso, ainda, outras duas ações penais contra o petista, que nega os ilícitos.

Mesmo condenado a pena tão elevada, Lula apela em liberdade junto ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre. Se a Corte de segunda instância confirmar a pena imposta ao ex-presidente, ele será incluído na Lei da Ficha Limpa, o que poderá impedi-lo de concorrer em 2018.

A ditadura militar foi “um grande erro”

Durante a solenidade, Moro afirmou que a ditadura militar foi “um grande erro”, mas que a democratização trouxe novos problemas. “Houve abuso do poder público para benefício privado, e a democracia exige a regra da imposição da lei.”

Os brasileiros, segundo o juiz, perceberam os efeitos perniciosos da corrupção durante o escândalo do mensalão, mas o movimento para combatê-la se fortaleceu. Para ele, acabou no país a era dos “barões ladrões” (referência ao fim do século 19, nos Estados Unidos, quando grandes empresários se aproveitaram do Estado para enriquecer).

Moro não respondeu se a aceitação ou não da denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados poderia pôr essa tese em risco. “Não dei declarações durante o impeachment da presidente Dilma, não vou me colocar desta vez”, justificou-se.

Denunciado sob acusação de obstrução da Justiça e participação em organização criminosa, Temer faz articulações com deputados para tentar barrar o seguimento da investigação.

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