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 | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Pivô de operação da Polícia Federal contra o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), o ex-assessor parlamentar José Expedito Rodrigues Almeida contou em depoimento à Polícia Federal que carregava bolsas de dinheiro para os dois congressistas. O transporte das quantias, segundo ele, era remunerado com o salário da Câmara dos Deputados.

As declarações do ex-assessor robusteceram inquéritos que apuraram pagamentos de propina por empreiteiras da Petrobras aos dois políticos. No mês passado, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu a inclusão dele como testemunha de acusação da ação penal em que integrantes do PP são acusados de formar uma organização criminosa que desviava recursos públicos.

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Nesta terça (24), a PF fez buscas nos gabinetes e nas residências de Eduardo da Fonte e Nogueira. Eles são suspeitos de tentar comprar o silêncio do ex-funcionário. O ex-deputado Márcio Junqueira, de Roraima, foi preso preventivamente. Ele é apontado como intermediário do suposto esquema, que incluiria o pagamento de despesas pessoais, ameaças e até proposta para recuar das declarações que incriminam os dois parlamentares.

Nas casas de Nogueira, em Brasília e Teresina, foram apreendidos R$ 200 mil em espécie.

No depoimento, Almeida disse que conheceu Eduardo da Fonte há mais de 20 anos e que foi lotado tanto no gabinete dele quanto no de Nogueira, quando ainda era deputado.

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Além de ter admitido o papel de “mula” de recursos em espécie para os congressistas, o assessor indicou outro servidor do gabinete do senador, identificado como “Fernandão”, como “homem do dinheiro” de Nogueira.

“O próprio declarante transportou valores no interesse de Ciro Nogueira em diversas oportunidades, inclusive após ter deixado o seu gabinete, pois manteve-se vinculado a Eduardo da Fonte, que pertencia ao mesmo grupo político”, afirmou Almeida, segundo transcrição feita pela PF. “Acondicionava essas quantias em uma bolsa que levava consigo a bordo.”

No depoimento de cinco páginas, prestado à PF em Brasília, Almeida relatou o transporte de ao menos R$ 500 mil, em quantias que variavam de R$ 50 mil a R$ 200 mil. As viagens se deram a partir ou para cidades como Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Teresina e Recife.

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Em algumas ocasiões, segundo ele, os recursos eram recebidos dos parlamentares e levados para endereços deles próprios; em outras, os congressistas estavam no local de destino, à espera dos recursos.

O ex-assessor contou que Nogueira e Eduardo da Fonte atuavam como parceiros. Dividiam um flat na avenida Vieira Souto, no Rio, o qual visitou para buscar dinheiro. Numa oportunidade, disse, viajou de São Paulo para o Rio conduzindo uma Pajero Full que pertencia a ambos.

“Ao chegar ao Rio, o declarante tomou conhecimento de que havia maços de dinheiro nas malas, em meio a roupas e calçados. Só viu o dinheiro porque Ciro Nogueira precisou apanhar algum item do interior da mala”, disse. O episódio teria ocorrido num prédio em Copacabana. Um dos apartamentos é usado pelo senador.

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Outra viagem teria sido feita para levar R$ 200 mil do Recife a Teresina. “O declarante não utilizou transporte aéreo por causa do volume que as quantias representavam, tendo seguido a orientação de Ciro Nogueira para que fosse de ônibus ou carro”, comentou.

No retorno, segundo ele, teve direito a um bilhete de avião. “A passagem foi comprada por um valor elevado, cerca de R$ 1.800, razão pela qual Ciro Nogueira reclamou com o próprio declarante.”

Almeida disse ter decidido prestar o depoimento “espontaneamente porque passou a desconfiar da ilicitude dos valores que transportava”.

Ele enumerou outras razões, entre elas o fato de ter sido obrigado a viajar ao Rio de Janeiro para buscar dinheiro, em 2015, mesmo em recuperação de uma cirurgia. Outro motivo teria sido uma humilhação sofrida em 2015, após apanhar Eduardo da Fonte bêbado em uma boate de São Paulo. O deputado teria dado dois socos na cabeça do ex-assessor gratuitamente.

O advogado de Nogueira, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, negou tentativa de comprar o silêncio do ex-assessor. “A afirmação de que o senador, de alguma maneira, pudesse ter feito qualquer movimento a ser equivocadamente entendido como tentativa de obstrução é , nas palavras do senador, completamente fora da realidade”, escreveu Kakay.

O advogado destacou que os mandados de busca e apreensão, embora desnecessários, foram cumpridos dentro da legalidade e que o senador “continua à disposição do Poder Judiciário para todo e qualquer esclarecimento, como sempre esteve”.

Kakay confirmou que a operação apreendeu dinheiro em espécie na casa do parlamentar e que o montante é justificado facilmente, “pois o senador tem em seu IR [imposto de renda] valores em moeda regularmente declarados”. 

De acordo com seu advogado, “dentro dos cofres localizados na residência, cujas senhas foram voluntariamente fornecidas pelo casal, também tinham pertences e valores particulares de sua esposa, que é deputada federal”. Nogueira é casado com Iracema Portella (PP-PI).

A reportagem não obteve retorno da defesa dos outros alvos e não localizou Fernando Mesquita.

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