Morto por volta das 9h deste sábado, 26, o sargento Fábio José Cavalcante e Sá é o centésimo policial militar assassinado este ano, no Rio de Janeiro. O PM morreu em uma tentativa de assalto em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
De acordo com as informações divulgadas pela Polícia Militar, o sargento reagiu e foi atingido com um tiro na cabeça. Ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Nilo Peçanha, em Duque de Caxias, também na Baixada Fluminense, mas não resistiu aos ferimentos.
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Desde o fim de julho as Forças Armadas têm atuado em algumas comunidades do Rio de Janeiro, tamanha a crise de segurança no estado. A previsão é de permanência até o fim do ano que vem. Na semana passada, especialistas em segurança pública e integrantes da sociedade civil organizada criaram uma comissão para monitorar os impactos das ações das forças federais na região.
A Secretaria estadual de Segurança divulgou nota em que lamenta "profundamente" a morte do 2º sargento Fábio Cavalcante e Sá e afirma se solidarizar com a dor da família e dos amigos. O policial foi assassinado neste sábado, 26, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, quando visitava os pais.
"A família perde um ente querido, a corporação perde um profissional e a sociedade, mais um de seus defensores. A secretaria, juntamente com o Comando da Polícia Militar e a Chefia de Polícia Civil, segue envidando esforços no sentido de preservar a vida de todos, incluindo as dos policiais", diz o texto. O caso é investigado pela Divisão de Homicídios.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, também escreveu uma nota sobre a morte de cem policiais militares desde o começo do ano. A nota foi intitulada "Não somos números. Somos cidadãos e heróis", em referência a uma mensagem enviada anteriormente à tropa.
"Para a Polícia Militar é um golpe a mais em nossas fileiras, parte de uma estatística inaceitável com a qual temos convivido dramaticamente há mais de duas décadas, mas que nem sempre ganha a mesma repercussão. Reescrevo hoje o mesmo desabafo, recheado de tristeza e revolta. Tristeza pela perda irreparável de cada companheiro que se vai, deixando para trás sonhos e o sofrimento da família e amigos. Revolta, pela omissão de grande parte da sociedade que se nega a discutir com profundidade um tema de tamanha relevância", afirma.
O comandante-geral destaca o crescimento da violência no Brasil, em especial no Rio, onde facções disputam territórios.
"O policial é vítima da violência com uma desvantagem adicional: ao ser identificado como agente de segurança pública num assalto ou qualquer situação de confronto será executado sumariamente. A violência cresce em todo país, por múltiplos fatores - econômicos, políticos, sociais e éticos. O Rio de Janeiro não só faz parte desse contexto nacional como sofre com alguns agravantes particulares. Em lugar nenhum do país há guerra tão acentuada e permanente entre quadrilhas de facções rivais de traficantes e de milicianos por domínio de território. Em lugar nenhum do país há tantas armas nas mãos dos criminosos", diz a nota.
"Cabe à Polícia Militar enfrentar os efeitos dos indutores de violência. Somos a última barreira entre a ordem e o caos. Estamos fazendo o possível e o impossível para ampliar ao máximo o policiamento ostensivo. E pagando injustamente uma conta que não é apenas nossa. É de todos", finaliza o coronel Wolney.
Os tribunais de Justiça do Rio (TJRJ), Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), Regional do Trabalho da Primeira Região (TRT-1ª região) e Regional Federal da Segunda Região (TRF-2ª região) também divulgaram nota conjunta de apoio e solidariedade aos familiares e colegas dos 100 policiais mortos no Estado, neste ano.
Os presidentes das entidades decretaram luto de três dias, com bandeiras a meio mastro. Eles dizem que "se solidarizam com o sentimento de dor e perplexidade que abala profundamente os cidadãos fluminenses".
Impacto nas comunidades
A violência no Rio tem deixado cada vez mais vítimas, sobretudo moradores de comunidade pobres. Somente na favela do Jacarezinho, zona norte, foram sete mortes de civis nas duas últimas semanas.
Na sexta-feira (25), a Justiça do Rio cancelou o mandado de busca e apreensão que permitia à polícia ingressar em qualquer residência da favela do Jacarezinho e em outras quatro comunidades da região norte da cidade. Um policial civil também foi morto na localidade na semana passada.
Por causa da violência, a Secretaria Estadual de Educação suspendeu as aulas em 15 escolas da região por tempo indeterminado.
Alerta para todo o país
O caso do Rio de Janeiro serve de alerta para que o Estado não continue perdendo espaço para o controle exercido pelo crime organizado. Quanto mais demorar a reação ao crescimento da violência, maior será o custo para a sociedade. Leia nosso editorial sobre o tema.
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