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O corte de verbas  é mais um capítulo da polêmica relação do prefeito do Rio com o Carnaval | ml/ppMAURICIO LIMA
O corte de verbas  é mais um capítulo da polêmica relação do prefeito do Rio com o Carnaval| Foto: ml/ppMAURICIO LIMA

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), anunciou nesta semana que vai cortar pela metade a subvenção às escolas de samba do Grupo Especial e usar o dinheiro para dobrar, a partir de agosto, a diária paga às creches para atender crianças. A verba entregue pelo município às escolas de samba vai cair de R$ 24 milhões para R$ 12 milhões. As creches, que hoje recebem R$ 10 por aluno por dia, em agosto passarão a receber R$ 20 diários. 

Presidentes de escolas de samba, que apoiaram Crivella na eleição passada, fazem críticas ao prefeito e ameaçam até boicotar o próximo carnaval. Eles argumentam que o investimento no carnaval traz retorno econômico para o município. Segundo a própria prefeitura, o carnaval de 2017 atraiu 1,1 milhão de turistas ao Rio e movimentou R$ 3 bilhões. "O que estamos fazendo é refletir como gastar melhor. Se vamos usar esses recursos para uma festa de três dias ou ao longo de 365 dias ao ano", afirmou Crivella. 

O prefeito é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, que condena o carnaval, e já foi alvo de críticas quando deixou de comparecer à cerimônia de entrega da chave da cidade ao Rei Momo, na sexta-feira anterior ao início da festa. 

Carnaval ameaçado 

Diante do anúncio, dirigentes das agremiações decidiram em reunião encerrada na noite de quarta-feira (14) que, dessa forma, não será possível realizar o tradicional desfile anual. A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) promoveu a reunião para debater o tema e anunciou que, "a prevalecer a decisão" do prefeito Marcelo Crivella (PRB), "as apresentações das escolas de samba no carnaval de 2018 ficarão inviabilizadas". 

Em nota divulgada após a reunião, os dirigentes da Liesa cobram uma reunião dos presidentes das 13 escolas do Grupo Especial com o prefeito. A Liesa argumenta que o desfile das escolas de samba, como principal evento do carnaval carioca, gera empregos e renda, traz benefícios econômicos para a cidade e valoriza a imagem do Rio. Com isso, contribui para a elevação da arrecadação de impostos da prefeitura. "Tal medida anunciada trará graves consequências para a produção do espetáculo, tornando inviável a realização do mesmo, nos moldes em que é anualmente apresentado", diz a nota. 

O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, afirmou que aguarda uma audiência com o prefeito do Rio para decidir os rumos do desfile no carnaval em 2018. 

Relação polêmica 

A proposta é mais um capítulo da polêmica relação do prefeito. Neste primeiro ano no cargo, rompeu a tradição de entregar a chave da cidade ao rei Momo e se negou a aparecer na Sapucaí. Crivella nega que o corte seja uma perseguição ao evento, e afirma que se trata de elencar prioridades. 

Desde 2016, as escolas do Grupo Especial (as primeiras do ranking) recebem R$ 2 milhões cada uma da prefeitura. Crivella quer cortar o apoio para R$ 1 milhão, valor que a prefeitura aportava até 2016 --a cifra dobrou após as escolas perderem apoios do governo do Estado e da Petrobras, que já viviam crise. 

O valor que as escolas deixarão de ganhar corresponde a 17% do orçamento básico delas --em 2017, elas receberam R$ 6 milhões, oriundos do apoio municipal, venda de ingressos, cota de televisão e CDs. As escolas também têm outras fontes de renda, como eventos nas quadras. 

Em 2017, a cidade recebeu 1,1 milhão de visitantes e teve uma movimentação financeira da ordem de R$ 3 bilhões proveniente do turismo, segundo a Riotur. 

Os recursos, diz a prefeitura, serão aplicados no custo diário per capita das crianças que estão em creches conveniadas. A intenção é dobrar a diária que as instituições recebem por criança, atualmente de R$ 10. Hoje, cerca de 15 mil alunos são atendidos em 158 unidades. A nova diária de R$ 20 deve começar a ser paga a partir de agosto.

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