Coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol acabou se tornando o porta-voz da operação e, junto com o juiz Sergio Moro, o rosto da luta contra a corrupção no país na percepção de diversos brasileiros. De 2014 para cá, o procurador estreitou o relacionamento com a imprensa, criou uma fanpage no Facebook e tem se engajado na aprovação de medidas contra a corrupção no Congresso Nacional.
No ano passado, durante a coleta de assinaturas para apresentação das 10 Medidas Contra a Corrupção ao Congresso como projeto de lei de iniciativa popular, o procurador saiu país afora defendendo as medidas em diversas palestras proferidas para vários setores da sociedade. O engajamento gerou frutos: o procurador atualmente é a segunda figura mais influente nas redes sociais.
De acordo com o ranking de influenciadores políticos criado pela Gazeta do Povo, Deltan chegou a ter mais influência nas redes sociais que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB), entre outros grandes nomes da política nacional. O procurador da Lava Jato ocupava na última sexta-feira (28) o segundo lugar no ranking – já chegou a ficar em segundo – atrás apenas do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Como o ranking é atualizado diariamente com os dados dos sete dias anteriores, essas posições variam a cada 24 horas.
“Com relação ao Doria, ele tem uma intenção de se colocar como uma possibilidade [para 2018]”, diz o especialista em marketing político Marcos Zablonsky. “Sem contar que ele é o prefeito da principal cidade do país. Ele também é um especialista em comunicação e marketing e nas mídias sociais”, explica.
“O Bolsonaro tem essa abordagem que vem de vários anos de muita polêmica e muita contestação. Suas falas e abordagens de alguma forma atendem aos interesses de alguns setores da sociedade”, diz Zablonsky em relação ao segundo lugar do ranking.
Para o especialista, porém, a situação de Deltan é diferente, já que ele não se coloca como possibilidade para 2018. “Eu vejo ele muito mais como condutor do processo da Lava Jato do que a percepção de possibilidade de candidatura”, diz.
Para ele, o fato de a operação estar em alta contribui para o posicionamento de Deltan no ranking. “A questão da Lava Jato estar em uma fase envolvendo a proximidade do depoimento do Lula, isso dá uma grande visibilidade”, explica Zablonsky. Além disso, o especialista destaca questões políticas encabeçadas pelo procurador. “Ontem foi a votação do fim do foro privilegiado, do abuso de autoridade e isso dá muita visibilidade para ele”, explica.
Apesar de não se colocar como candidato para 2018, a influência do procurador nas redes sociais pode ter reflexo no pleito do ano que vem. “Ele não está como político, ele está como peça chave dentro de um espectro político. Eu vejo ele mais como influenciador para futuros candidatos que possam ter ele como aliado, como indicador de apoio”, analisa Zablonsky.
“Não é que eu sou influente, é que a causa é influente”
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo nesta quarta-feira (26), o procurador reforçou a necessidade de uma reforma política no país que propicie o surgimento de novas lideranças na política. “Se queremos vencer a corrupção e virar essa página, nós precisamos de duas coisas. Precisamos de reforma no sistema político e no sistema de Justiça, mas nós precisamos também de renovação política. Precisamos de pessoas comprometidas com a causa anticorrupção governando nosso país”, disse.
Deltan também disse ter ficado surpreso com sua colocação no ranking de influenciadores políticos da Gazeta. “Eu fiquei surpreso e eu mudaria um pouquinho o enquadramento disso. Não é que eu sou influente, é que a causa é influente. Todas as pessoas estão engajadas com a causa. Quando alguém olha minha fanpage no Facebook, a pessoa vê que o que eu posto ali é relacionado a uma causa anticorrupção. Essa é uma causa que move as pessoas”, afirmou Deltan.
No livro “A Luta Contra a Corrupção”, lançado nesta quarta-feira (26), Deltan conta que na época da escola era um “CDF apaixonado por esportes”. “A certa altura do antigo primeiro ano do segundo grau, acabei me sentando ao lado do menino mais bagunceiro da sala. Ali começou uma grande amizade. Aos poucos, fui me enturmando com os bagunceiros, que surfavam, andavam de skate e saíam à noite”. [...] “Como eu vivia em meio aos alunos mais bagunceiros, ninguém desconfiava que eu estudava tanto. Muitas pessoas se surpreenderam com os resultados quando eu fui aprovado em primeiro lugar na PUC e terceiro lugar geral na Universidade Federal do Paraná”, conta em um trecho da obra.
Confira a entrevista completa:
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