O executivo da JBS Ricardo Saud contou em seus depoimentos de colaboração premiada que o grupo JBS gastou R$ 217,3 milhões para comprar os partidos que fizeram coligação com as duas principais chapas que concorreram à Presidência da República em 2014. Segundo os relatos, o grupo teria gasto R$ 174,2 milhões com pagamento de propina aos partidos da Coligação Com a Força do Povo, encabeçada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), além de fazer uma contribuição ao PV, que não fazia parte oficialmente da chapa. Outros R$ 43,1 milhões foram destinados ao pagamento dos partidos que integravam a Coligação Muda Brasil, encabeçada pelo senador Aécio Neves (PSDB) e outros seis partidos indicados pelo senador.
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O PMDB é o único partido que teria recebido recursos através de pedidos tanto do PT quanto do PSDB. O partido foi o que mais recebeu dinheiro da JBS para apoiar Dilma – R$ 43,9 milhões, segundo Saud. Deste valor, segundo o executivo, o ex-ministro de Dilma Guido Mantega utilizou R$ 35 milhões para pagar os principais líderes do PMDB no Senado. “Esse direcionamento tinha a finalidade de assegurar a unidade do PMDB, que apresentava, ao tempo, risco real de fratura, com a perspectiva de parte do partido passar a apoiar formalmente Aécio Neves (PSDB)”, candidato de oposição a Dilma.
Segundo Saud, os R$ 43,9 milhões destinados ao partido através de uma conta corrente do PT com a JBS não incluíam as propinas pagas ao atual presidente Michel Temer, ao ex-deputado federal Eduardo Cunha, ao ex-governador Sergio Cabral e parte das propinas pagas ao presidente do Senado Eunício Oliveira, que teriam negociado diretamente com a JBS. Três governadores do partido e alguns deputados federais também ficaram de fora da conta corrente da JBS com o PT, segundo Saud.
O político do PMDB que mais recebeu recursos da conta corrente com o PT foi o senador Renan Calheiros: R$ 9,9 milhões. Também receberam propina os senadores Eduardo Braga (R$ 6 milhões), Vital do Rêgo (R$ 6 milhões), Jader Barbalho (R$ 8,9 milhões), Eunício Oliveira (R$ 6 milhões), Valdir Raupp (R$ 4 milhões) e o deputado federal Henrique Eduardo Alves (R$ 3 milhões).
Os recursos teriam sido repassados através de notas fiscais avulsas obtidas através de contratos fictícios da JBS com empresas indicadas pelos políticos, dinheiro em espécie e doação oficial, segundo o executivo da JBS.
O PMDB também recebeu R$ 1,5 milhão a pedido do então candidato do PSDB Aécio Neves (PSDB). O valor foi repassado em forma de doação oficial a campanha de José Ivo Sartori, governador do Rio Grande do Sul.
Coligação Com a Força do Povo
Ao todo, nove partidos receberam juntos R$ 174, 2 milhões em 2014 para apoiar a candidatura de Dilma: PMDB, PP, PR, PSD, PCdoB, PROS, PDT, PRB, PV. Apenas o PV não fazia parte oficialmente da coligação.
O PP recebeu R$ 42,8 milhões para fazer parte da coligação da ex-presidente Dilma, segundo o depoimento de Saud. Quem fazia os pedidos para o partido era o senador Ciro Nogueira e os pagamentos eram autorizados pelo tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva. Segundo Saud “Ciro Nogueira sabia que o dinheiro advinha de corrupção porque fora enviado à JF pelo PT e porque nunca discutiu com Ricardo Saud questões de plataforma política ou ideológica”. As propinas para o partido foram repassadas através de doações oficiais e em dinheiro em espécie.
O senador Antônio Carlos era o responsável por tratar dos valores recebidos pelo PR. Os pedidos também eram autorizados por Edinho Silva. Foram pagos ao PR R$ 36 milhões por meio de doações oficiais, notas fiscais avulsas e dinheiro em espécie, retirados pelo próprio senador, segundo Saud.
Segundo o executivo, o ex-ministro Guido Mantega autorizou, a pedido de Gilberto Kassab, o pagamento de R$ 20,9 milhões para o PSD para as eleições de 2014. Os repasses foram feitos através de doações oficiais e notas fiscais avulsas.
A JBS pagou, ainda R$ 10 milhões para o PCdoB, através de Renato Rabello. O dinheiro foi repassado ao partido por meio de doações oficiais. Segundo Saud, o tesoureiro de Dilma teria orientado ainda que ele repassasse outros R$ 3 milhões exclusivamente para o deputado Orlando Silva.
O PROS recebeu R$ 10,5 milhões, disse o colaborador, através de doações oficiais e notas fiscais avulsas. O valor da propina foi tratado com o então presidente do partido Eurípedes Junior, também orientado por Edinho Silva.
Edinho Silva também autorizou o pagamento de R$ 4 milhões ao PDT. O valor foi ajustado com o presidente do partido Carlos Lupi e foi pago por meio de doações oficiais.
Edinho também orientou o então presidente do PRB, Marcos Pereira, a procurar Saud para acertar o pagamento de propina para o partido. Marcos teria informado que R$ 2 milhões deveriam ser destinados ao PRB e R$ 1 milhão ao PV. Todos os valores foram repassados por meio de doações oficiais aos partidos.
Coligação Muda Brasil
A pedido do então candidato pelo PSDB Aécio Neves, outros 12 partidos receberam dinheiro de propina da JBS para apoiar a candidatura tucana. Somente oito deles faziam parte oficialmente da coligação: PTB, Solidariedade, DEM, PMN, PTdoB, PTN, PEN e PTC.
O partido que mais recebeu foi o PTB, que recebeu um total de R$ 20 milhões. Os pagamentos foram realizados através de doações oficiais e entregas de dinheiro em espécie.
O Solidariedade recebeu R$ 15,2 milhões, segundo Saud, depois que deputado federal Paulinho da Força, orientado por Aécio, procurou Joesley Batista para acertar os pagamentos. Os repasses foram realizados por doações oficiais e liquidação de notas fiscais.
O DEM recebeu R$ 2 milhões, através de uma doação oficial. O valor, porém, incomodou o senador José Agripino Maia, que esperava receber para o partido R$ 10 milhões. Segundo Saud, Agripino Maia “ficou indignado e ressaltou ser o coordenador nacional da campanha, mas não conseguiu modificar o quadro”.
O PMN recebeu a pedido de Aécio o valor de R$ 1,3 milhões, através de doações oficiais. O PTdoB, por sua vez, recebeu R$ 1 milhão, também por doações oficiais.
O PTN recebeu duas doações da JBS, totalizando R$ 650 mil. Deste valor, R$ 250 mil foram pagos por doação oficial à campanha de Arlete Gonçalves à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, e outros R$ 400 mil por doações oficiais ao diretório nacional.
O PEN recebeu R$ 500 mil e o PTC, R$ 650 mil. Os dois pagamentos foram realizados por doações oficiais.
Outros partidos que não integravam oficialmente a coligação de Aécio receberam pagamentos a pedido do senador: PSL (R$ 150 mil), PSC (R$ 100 mil) e PSDC (R$ 50 mil), além do PMDB.
Outros pagamentos
Além da compra dos partidos de ambas as coligações, Saud detalhou que mais R$ 147,9 milhões foram destinados apenas ao PT, como forma de uma estratégia global das campanhas do partido. Os recursos foram divididos de três formas. A executiva nacional ficou com 50,8 milhões, a campanha de Dilma, com R$ 46 milhões, os diretórios estaduais, R$ 7,5 milhões, além de R$ 11 milhões direcionados outros nomes do partido (a conta final não chega aos R$ 147,9 milhões).
Saud também relata pagamentos em espécie entregues a Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio Neves preso nesta quinta-feira (18) pela Polícia Federal. O primeiro pagamento, de R$ 4,3 milhões, foi realizado em 5 de setembro de 2014 e o segundo, de R$ 1 milhão, no dia 15 do mesmo mês. O colaborador não detalha a forma de entrega nem o destino final dos valores.
A JBS também realizou pagamentos de campanha de Aécio, segundo Saud. Foram R$ 11 milhões pagos empresas de publicidade e consultoria.
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