A chance de se localizar sobreviventes do rompimento da represa em Brumadinho (MG) é agora "bem pequena", disse neste domingo o comandante da operação de resgate do Corpo de Bombeiros, tenente coronel Eduardo Angelo, numa reunião com moradores no centro comunitário do Córrego do Feijão.
O número de mortos encontrados em Brumadinho chegou a 58, informou o Governo de Minas. Subiu para 305 o número de desaparecidos, de acordo com a Vale, responsável pela barragem que se rompeu e deixou um rastro de destruição. Nenhum sobrevivente foi encontrado neste domingo (27) -192 pessoas foram resgatadas desde sexta (25).
Há possibilidade de se encontrar [pessoas] com vida sim. No entanto, a literatura que trata sobre esse assunto demonstra que a partir de 48 horas de empenho, a chance de encontrar vida é bem pequena. Existe [possibilidade]? Já aconteceu? Sim, já teve gente soterrada por mais de 30 dias, só que isso normalmente é um ponto fora da curva"
Na sequência da declaração, o comandante procurou dar uma palavra de esperança aos moradores. "Mas existe essa possibilidade sim e a gente trabalha com a possibilidade de que nós vamos encontrar pessoas com vida."
O tenente coronel pediu que as famílias não percam as esperanças.
Angelo disse que os bombeiros não conseguiram chegar a vagões de trem que foram atingidos pela lama e que, segundo moradores, podem conter corpos ou sobreviventes.
"A gente não está conseguindo chegar. Porque à medida que nós vamos avançando na lama, a gente encontra corpos. A cada corpo encontrado, a gente faz o trabalho e retorna. Nós localizamos um ônibus ontem. Mas quando estávamos para chegar nele, encontramos corpo, corpo, corpo. Hoje nós chegamos ao ônibus. Temos que fazer um trabalho de escavação nele."
Primeiros enterros
A cidade de Brumadinho teve, neste domingo (27), seus primeiros enterros de vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Vale. Até esta tarde, 37 mortes foram confirmadas e 287 pessoas estavam desaparecidas.
Fabrício Henriques da Silva, que trabalhava para uma empreiteira prestadora de serviços da Vale, foi enterrado no Cemitério Municipal Velho, atrás da Igreja Matriz de Brumadinho, na parte alta da cidade, às 12h30. Djene Paula Las Casas, operador de máquinas e funcionário da Vale, foi enterrado às 17h no mesmo cemitério.
Um tio de Djene disse que o rapaz estava noivo e feliz por ter sido recentemente contratado pela Vale. "Com o emprego novo, ele estava juntando dinheiro para casar. Estava na melhor fase da vida, noivo, planejando o futuro", disse.
Há três cemitérios em Brumadinho. Dois são municipais: o Cemitério Velho e o Parque das Rosas. Um terceiro, Brumado, é privado. Por serem os mais antigos, a maioria dos enterros devem acontecer nos dois primeiros, onde as famílias tradicionalmente mantêm jazigos.
Há apenas quatro coveiros nesses cemitérios. Antenagos Moreira de Jesus, 62, que trabalha no Cemitério Velho há 20 anos, é o coveiro mais velho e uma espécie de coordenador do time. "Estamos aqui para ajudar as famílias. Acho que vamos dar conta, mas se forem enterros demais fico com medo que caia essa qualidade do nosso trabalho, que é o respeito com a dor e o tempo das famílias", disse.
A barragem 1, que se rompeu, é uma estrutura de porte médio para a contenção de rejeitos e estava desativada. Seu risco era avaliado como baixo, mas o dano potencial em caso de acidente era alto.
Uma outra barragem, a de número 6, agora está sendo monitorada a cada uma hora pela Vale, junto com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros. Durante a madrugada, sirenes na cidade tocaram e os moradores foram evacuados. Pela tarde, as autoridades disseram que não havia mais risco de rompimento.
Comoção nas redes sociais
Desde a última sexta-feira (25), políticos, famosos e outras personalidades têm usado as redes sociais para se manifestar sobre a tragédia.
"Quero exprimir a minha dor pela tragédia que atingiu o Estado de Minas Gerais no Brasil", escreveu o papa Francisco. "Recomendo à misericórdia de Deus todas as vítimas e ao mesmo tempo rezo pelos feridos e exprimo meu afeto e proximidade espiritual às suas famílias".
Para ajudar nas buscas pelos corpos, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, enviou uma equipe de socorristas, médicos, engenheiros e especialistas. A missão é composta por 130 pessoas e 16 toneladas de equipamentos.
A ajuda foi aceita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que assinou um decreto de criação de um comitê para para monitorar os desdobramentos da tragédia.
"Difícil ficar diante de todo esse cenário e não se emocionar. Faremos o que estiver ao nosso alcance para atender as vítimas, minimizar danos, apurar os fatos, cobrar justiça e prevenir novas tragédias como a de Mariana e Brumadinho, para o bem dos brasileiros e do meio ambiente", escreveu em suas redes sociais.
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