Em sua primeira viagem aos Estados Unidos na condição de presidente da República, Jair Bolsonaro tem a companhia de seis ministros e de um deputado federal. O parlamentar em questão é o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que no giro pelos EUA reforça uma “vocação internacional” que tem empreendido em seu segundo mandato.
As manifestações recentes de Eduardo nas redes sociais indicam o quadro. Uma amostra foi nesta segunda-feira (18): após a agenda do dia, o deputado fez uma transmissão ao vivo nas mídias sociais com direito à ‘participação inesperada’ do presidente (assista abaixo). Eduardo comentou que chegou em Washington um dia antes de Jair Bolsonaro. Também divulgou pelo Twitter que iria com o pai à CIA em uma visita fora da agenda. “Na mais foi que uma visita de cortesia”, disse Eduardo em Live no Facebook.
Ao longo da última semana, entre duas sextas-feiras, dias 8 e 15, o deputado falou de questões como os mecanismos de comunicação utilizados pelo presidente dos EUA, Donald Trump; a homenagem de italianos à Força Expedicionária Brasileira; a crise na Venezuela; a visita do presidente do Paraguai, Mario Abdo, ao Brasil; um encontro que teve com o embaixador do Bahrein; e ataques do Hamas a Israel.
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Focando tópicos internacionais, Eduardo acabou eleito o presidente da Comissão de Relações e de Defesa Nacional da Câmara, e tomou posse no cargo na quarta-feira (13). Em seu primeiro mandato, o filho de Bolsonaro havia passado pela comissão de modo breve, como suplente, em 2015.
Por comandar a comissão e ter nas questões do exterior um radar prioritário na legislatura atual, Eduardo deve se tornar presença ainda mais rara no plenário da Câmara dos Deputados. O parlamentar não tem se notabilizado, do início de fevereiro até hoje, por dialogar com os colegas no plenário e por pronunciamentos em votações.
Eduardo fez apenas duas falas públicas na Câmara em 2019. Como comparação, seus colegas de PSL Alexandre Frota (SP) e Joice Hasselmann (SP) discursaram, respectivamente, 37 e 15 vezes. Panorama distinto do sugerido nos primeiros dias após a eleição de outubro, quando, embalado pela votação recorde - a maior da história para um candidato a deputado federal - Eduardo foi cotado para presidir a Câmara.
Alinhamento
O discurso de posse de Eduardo como presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara contou com alguns pontos que fizeram parte da plataforma apresentada por Jair Bolsonaro na campanha eleitoral e também se registraram nesse início de governo.
Por exemplo, a crítica aos governos de Venezuela e Cuba e a tentativa de buscar uma solução para a crise econômica, política e de refugiados. O deputado citou como “parceiros” do Brasil os presidentes de países vizinhos que também passaram por derrotas eleitorais de lideranças de esquerda, como Argentina, Colômbia, Paraguai e Chile.
A temática das fronteiras foi outro ponto abordado por Eduardo. O deputado relembrou de sua trajetória como policial federal e destacou problemas como tráfico de armas e drogas, típicos de algumas regiões em que o Brasil faz divisa com outros países.
Na análise sobre a Venezuela, Eduardo disse ainda que o Hezbollah, grupo paramilitar do Líbano, estaria presente no país de Nicolás Maduro. A citação à organização, considerada terrorista por grande parte dos países, se encaixa no apoio que Bolsonaro emprega a um dos maiores rivais do Hezbollah, Israel.
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Ainda antes do início do governo Bolsonaro, o deputado, em novembro do ano passado, bancou que o Brasil transferiria a sua embaixada em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, seguindo passo dado pelo presidente dos EUA, Donald Trump. O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, esteve na posse de Bolsonaro e os países têm celebrado parcerias no campo tecnológico.
Correligionário de Eduardo Bolsonaro e eleito vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores, o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) disse também ser favorável à alteração da embaixada brasileira, por entender que a medida simbolizaria “um novo tempo” na política externa nacional.
“O meu voto é pela mudança da embaixada. Acho que o Brasil tem que ter símbolos da sua alteração de rumo e esse é um grande exemplo. Alude a uma série de coisas: uma visão política diferente, a uma nova postura comercial junto ao mundo. É algo que dá um norte político para o Brasil”, declarou.
A sugestão de seguir a conduta dos EUA no caso de Israel é também um indicativo de uma das principais diretrizes da política externa de Bolsonaro, que é a de aliança com o país presidido por Donald Trump.
Eduardo mostrou simpatia pelo presidente americano em diversas ocasiões. Também na posse na Comissão da Câmara, apontou o interesse em privilegiar alianças com países de maior poderio econômico. Na sexta-feira (15), o deputado defendeu que os turistas americanos sejam dispensados de visto para entrar no Brasil - e que isso ocorra mesmo sem os EUA reproduzirem a prática. A medida foi concretizada nesta segunda-feira (18).
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Para Eduardo, exigir a recíproca seria um erro porque, enquanto brasileiros buscariam entrar nos EUA como imigrantes ilegais, os americanos viriam para o Brasil como turistas e assim contribuiriam para a movimentação da economia.
“Nós somos um país emergente politicamente. Temos que nos associar a quem está num patamar já evolutivo em termos de estrutura política”, reforçou Orléans e Bragança.
Vem de antes
A presidência da Comissão de Relações Exteriores é um passo importante de um processo que se iniciou ainda no período eleitoral. Eduardo manteve, ao longo dos últimos meses, uma extensa agenda na temática estrangeira, que incluiu encontros com líderes em ascensão da direita em diferentes países.
Durante a transição entre os mandatos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, Eduardo fez uma viagem aos EUA em que visitou Steve Bannon, um dos estrategistas da campanha de Donald Trump em 2016. Nesta mesma viagem, o deputado concedeu uma entrevista coletiva em que usou um boné com os dizeres “Trump 2020”, referência a uma possível candidatura à reeleição do presidente americano.
Já em fevereiro do ano atual, Eduardo voltou aos EUA e participou de uma festa restrita de apoiadores de Trump, em um hotel pertencente ao próprio presidente norte-americano. Na ocasião, o deputado defendeu a ideia de Trump de construir um muro na fronteira com o México. Discursando em inglês, Eduardo disse: “nós, brasileiros, apoiamos vocês”.
“Não sou o chanceler”
Entre as duas viagens internacionais, Eduardo fez uma de relevo dentro do Brasil: foi a Foz do Iguaçu (PR) para a Cúpula Conservadora das Américas, evento do qual foi um dos organizadores e que contou com participações, por videoconferência, de Jair Bolsonaro e do filósofo Olavo de Carvalho.
A aproximação com Olavo é um dos fatores que explica também o peso de Eduardo na nomeação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O titular do Itamaraty é, até o momento, um dos integrantes do primeiro escalão mais próximos do filho do presidente.
Em dezembro, Eduardo foi a público negar que seria um ministro informal do governo. “Não sou o chanceler. Fui convidado para ir a outros países por ter sido o deputado mais votado da história do Brasil”, apontou, na ocasião. Meses depois, o rótulo indesejado acabou sendo reforçado.
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