A grande aposta do governo Michel Temer para chegar até o fim do mandato é acionar a “gaveta” do Congresso, para onde já foram mais duas dezenas de pedidos de impeachment e para onde devem ir as denúncias que serão apresentadas pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. É também nessa gaveta que entram as denúncias contra congressistas que poderiam gerar processos de cassação.
Há no momento o entendimento de que o presidente tem maioria folgada na Câmara para barrar o avanço das investigações de Janot. Em outra frente, Temer conta com o apoio incondicional do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que trancou os pedidos de impeachment contra o peemedebista.
No caso da denúncia de Janot, para continuar no cargo, Temer precisa dos votos de apenas 172 deputados amigos. A oposição, e os que não desejam a sua continuidade no poder, necessitam de 342 votos para autorizar o processo no STF.
Mesmo quem quer Temer fora reconhece que ele tem votos para se manter e já até planeja uma alternativa para que o país siga com um presidente de fachada até 2018. É o caso do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que articula a formação de um grupo no Congresso para, à margem do Executivo, votar temas de interesse do país sem se submeter ao Planalto.
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“O presidente Temer tem estes 172 votos. Ele, curiosamente, cercou-se de muitas pessoas também acusadas, e contra os quais há provas contundentes. Mas Temer tem uma curiosidade: não desperta ódio. O que também não sei se é bom. De repente, pode ser um sintoma de insignificância. Vamos nós aqui, no Congresso, então, com a precariedade que tem o Legislativo, tocar o governo”, disse Teixeira.
Para o deputado, a ideia de Temer de que há hoje no país um “semiparlamentarismo” é casuísmo. “É quase um aceno aos deputados de que vai aumentar o poder deles. Em condições normais, imagino algo assim, mas para 2022. Para esse momento, parece uma arma de defesa do presidente, em busca de garantir maioria parlamentar”, completou Miro.
Enquanto o tempo passa, Temer vai ficando
O cientista político Paulo Kramer também avalia que Temer tem folga na Câmara para segurar o processo contra ele. Kramer avalia que se Temer se segurar no cargo até setembro, não cairá mais.
“Se o presidente Temer não tiver esses 172 votos pode renunciar e ir para a casa”, disse Kramer, que atua também como analista de risco político para empresas. “Quanto mais o tempo passa, mais Temer vai ficando. E se sobreviver até setembro, quando Janot deixa o cargo, a probabilidade de ficar até dezembro de 2018 aumenta muito. O tempo joga a favor de Temer e à medida que vai passando a sociedade se pergunta qual razão de tirar agora faltando pouco tempo para 2018.”
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O fato de Temer se sustentar com a gaveta fechada no Congresso não significa que terá vida fácil para governar. Nas últimas semanas, houve uma oscilação entre vitórias, como a decisão do TSE de manter o mandato do presidente, e reveses, como a derrota no Senado na votação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) – que não inviabiliza o projeto, mas fez acender um sinal de alerta no Palácio do Planalto.
A votação trouxe à luz a rebeldia de senadores do PSDB e do PMDB e fez com que o governo demitisse comissionados indicados pelo senador Hélio José (PMDB-DF). Ficou mais evidente que o governo precisa se preocupar com as articulações do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi um dos artífices da derrota da reforma trabalhista.
Conselho de Ética
Outra canto da gaveta do Congresso está nos conselhos de ética da Câmara e do Senado, que seguem como peças de figuração. Os muito deputados citados ainda na “lista de Janot”, dois anos atrás, seguem no mandato e vários deles já projetam sua reeleição no ano que vem.
Já o Conselho de Ética do Senado deixou ainda não tomou posição sobre senador afastado Aécio Neves. Um mês depois da ação do PSOL e da Rede contra o tucano, acusado de quebra de decoro parlamentar dado seu envolvimento com o dono da Friboi, o presidente do órgão, o senador João Alberto Souza (PMDB-MA), anunciou ter tomado conhecimento oficial do fato. E anunciou para semana que vem uma posição sobre o que vai fazer.
Na semana de São João, sobraram críticas ao governo
Os festejos de São João esvaziaram o Congresso, o que foi um pretexto para os governistas, que não deram as caras. Foi uma oportunidade para a oposição monopolizar os microfones.
“O governo se ausenta porque não quer fazer as votações acontecerem. Sua capacidade de articulação se extinguiu. Não só com a sociedade, mas com o Parlamento também. A gente vê esse esvaziamento acontecer”, afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
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“Um ponto em que concordam todos, independentemente da opção política, é que este mesmo 2017 é um ano de profunda crise econômica e de uma altíssima instabilidade política. Não há mais nem como, nem por que esconder essa realidade, como ainda fazem alguns em tempo de eleição. São tempos de crise em meio a novas demandas sociais e à reafirmação por liberdade e transparência”, discursou a deputada Yeda Crusius, do PSDB gaúcho, na tarde da última quarta-feira.
Para não dizer que não se falou de apoio a Temer, o aliado de fé do Planalto Hildo Rocha (PMDB-MA) celebrou o resultado da comitiva presidencial à Rússia. “A viagem da Rússia foi pleno sucesso, alcançou os objetivos devidamente programados, assim como tenho certeza de que a da Noruega (para onde a comitiva seguiu) será coberta de plenos êxitos. São boas notícias, portanto, a todos os brasileiros”, afirmou Rocha.