Eles gritam e socam a mesa em vídeos compartilhados milhares de vezes, pregam a derrubada do presidente Michel Temer e atacam a Rede Globo em um discurso estridente que é visto pelo Planalto como dos mais radicais na paralisação dos caminhoneiros. Seus vídeos em redes sociais têm sido vistos por milhões de brasileiros desde o início dos protestos.
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Eles se dizem líderes de um “movimento de fato”, sem nome e CNPJ, e afirmam não aceitar nenhum dos acordos anunciados pela cúpula do governo.
Dois dos principais nomes dessa corrente se dizem filiados a partidos políticos e são um motorista de Catalão (GO) nascido em Osasco (SP), Wallace Landim, o “Chorão”, de 39 anos, do partido Podemos, e um advogado de Ituiutaba (MG), ex-candidato a prefeito pelo PSC (Partido Social Cristão) de 34 anos, André Janones, que também foi filiado ao PT por quase nove anos, de 2003 a 2012. O PSC integra a base aliada de Michel Temer.
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Ambos integram um mesmo grupo de apoio à greve dos caminhoneiros que promete continuar as paralisações. Janones disse à reportagem que iniciou e preside “um novo movimento” desde esta segunda-feira (28), agora com o objetivo de derrubar o presidente da República. Desde o início da greve, os seguidores da sua página no Facebook passaram de 75 mil, segundo Janones, para 661 mil. Um dos vídeos, no qual ele chama Temer de vagabundo e safado, foi visto por 14 milhões de internautas e compartilhado 1 milhão de vezes.
Em outro vídeo, visto 4,4 milhões de vezes, Janones afirma, ao lado de Chorão: “Nós vamos derrubar esse governo ilegítimo, nós vamos derrubar a Rede Globo. Nós vamos mostrar que não tem ninguém mais forte que um povo, não. Em outro vídeo, Chorão convoca: “Vem pra rua, vem pra rua”.
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Janones disse à reportagem que deixou o PT em 2012 por razões municipais, divergências internas do partido, que queria apoiar um candidato que eu não apoiava. “O meu histórico no PT não foi de um político, foi de um filiado comum. Nunca exerci nenhum cargo de direção, nunca disputei nenhuma eleição.”"
Nas redes sociais, Chorão e Janones fazem um barulho impressionante desde que a greve foi deflagrada. “Só hoje eu recebi 1.132.000 mensagens no meu whatsapp. A coisa foi tão relâmpago, inacreditável mesmo. Eu estou surpreso”, disse o advogado à reportagem.
Janones disse que conheceu Chorão apenas na semana passada, já durante a paralisação. O motorista teria pedido seu apoio para a greve.
Nesta segunda-feira (28), Chorão foi ao Palácio do Planalto ao lado do deputado federal Cabo Daciolo (Patriota-RJ), sargento licenciado do Corpo de Bombeiros, para pedir “redução de tributos também na gasolina, álcool e gás de cozinha”, segundo escreveu o parlamentar em uma rede social.
Chorão disse à reportagem que pretendia ser recebido na Casa Civil. Ele negou intenções eleitorais. “Não sou candidato. Eu me filiei ao Podemos em Osasco por causa do prefeito”, afirmou Chorão.
Presidente de associação fala em ‘infiltrados’
O presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), José da Fonseca Lopes, afirmou nesta segunda-feira em entrevista à imprensa na sede da entidade que a paralisação não é mais dos caminhoneiros, mas de pessoas que querem "derrubar o governo". Ele não citou nominalmente tais pessoas.
Fonseca estimou que ainda faltavam cerca de 250 mil caminhões deixarem a paralisação. “Não é o caminhoneiro mais que está fazendo greve. Tem um grupo muito forte de intervencionistas nisso aí. Eles estão prendendo caminhão em tudo que é lugar. [...] São pessoas que querem derrubar o governo. Eu não tenho nada que ver com essas pessoas, nem nosso caminhoneiro autônomo tem. Eles estão sendo usados por isso”, disse.
O presidente da associação disse que os caminhoneiros “estão sendo ameaçados de forma violenta” a manter a paralisação por pessoas “que se dizem lideranças” e que estão envolvidas com partidos políticos.
O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) falou em infiltrados no movimento dos caminhoneiros e disse que a Polícia Rodoviária Federal irá passar a retirá-los dos pontos de paralisação. “A Polícia Rodoviária Federal conhece as estradas onde trabalha e sabe das infiltrações políticas que aconteceram. Ela está mapeando e não quer cometer nenhuma injustiça”, disse Padilha. “Ela tem feito algumas ações de retirada de pessoas quando for o caso”, acrescentou o ministro.
De acordo com Padilha, o serviço de inteligência do governo federal tem atuado para a identificação de “infiltrados” que, segundo ele, têm atuado para que a crise de desabastecimento não seja encerrada.
“Eles se infiltraram com objetivos de disputas políticas para fazer com que a paralisação não seja encerrada. O nosso serviço de inteligência está trabalhando nisso, para que a infiltração não seja preponderante para construir a possibilidade imediata da normalidade”, disse o ministro.
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