Assassinado na manhã de sábado (26), o sargento Fábio Cavalcante e Sá foi o centésimo policial militar morto neste ano no Rio de Janeiro. Em média, um policial militar é assassinado a cada 57 horas no estado. A execução de PMs é mais um elemento no quadro de caos da segurança pública no qual o estado está imerso. Veja cinco dos principais fatores que ajudam a entender a conjuntura.
1 - Crise financeira
O estado do Rio de Janeiro está com um déficit previsto de R$ 22 bilhões para este ano. No auge da crise financeira, o governo atrasou salários dos servidores públicos, provocando reflexos severos em toda a economia do estado. Os policiais militares, por exemplo, nem sequer receberam o 13.º salário do ano passado e deixaram de receber gratificações. Além disso, os investimentos públicos recuaram, a ponto de serviços públicos essenciais terem sido cortados ou reduzidos. Uma das áreas em que isso se tornou mais evidente é a saúde: os gastos com o setor no estado recuaram abaixo do patamar de 2013, mesmo com a inflação registrada no período.
2 - Aumento dos índices de violência
Ao longo dos últimos anos, o Rio de Janeiro observou a explosão dos principais índices de violência, sem que o estado tenha apresentado uma resposta aos fenômenos. Desde 2010, o número de pessoas assassinadas no Rio vem aumentando. No ano passado, o estado fechou com o “recorde” de 37,6 mortes para cada 100 mil habitantes. Em São Paulo, o índice foi de 12,2 mortes/100 mil e no Paraná, 26,3 mortes/100 mil pessoas. Só no primeiro trimestre deste ano, o Rio teve 1.867 mortes violentas, ante 1.486 assassinatos no mesmo período de 2016.
Não é só. Nos crimes contra o patrimônio, a alta também é assustadora. Neste ano, o número de carros roubados aumentou 42%. Os casos de roubo de cargas também chegaram a patamares inimagináveis e só recuaram neste mês após ação da Força Nacional de Segurança.
“A crise e o desemprego têm um peso considerável nesse quadro, mas não explicam o fenômeno. O Rio assistiu aos índices aumentarem ano a ano e não fez nada para estancar”, disse o ex-secretário Nacional de Segurança, coronel José Vicente da Silva.
3 - Abandono da PM e má gestão
O Rio de Janeiro tem o terceiro maior efeito policial militar do país (com quase 45 mil PMs). Por que o estado não conseguiu conter o avanço da criminalidade? Para o ex-secretário José Vicente da Silva, principalmente pelo estado de abandono a que a PM foi relegada e pela má gestão da segurança pública. Segundo ele, o desprestígio da corporação aumentou principalmente ao longo dos últimos dois anos e chegou ao ápice com o atraso de salários, com a falta de investimento em treinamento, até chegar ao cúmulo de faltar combustível para as viaturas e munições.
“Com esse desprestígio, a PM reduziu seu ímpeto de proteção. Começou a cair o número de armas apreendidas, de prisões, de patrulhamento. A PM deixou de fazer sua função preventiva e passou simplesmente a reagir aos crimes”, observou Vicente da Silva.
Este quadro, segundo o especialista, acirrou a corrupção entranhada nas instituições policiais. “Não tem um fuzil nas mãos dos bandidos que não tenha o carimbo do Estado. Se tem fuzil, é porque a polícia deixou, seja por incompetência, omissão ou envolvimento. Tudo isso é reflexo também da má gestão”, completou o coronel.
4 - Fortalecimento do tráfico
A força do tráfico pode ser medida pela sua capacidade de se armar. Estima-se que haja mais de 11 mil fuzis nas mãos de traficantes do Rio de Janeiro. Ao longo dos últimos cinco anos, os bandidos chegaram ao cúmulo de conseguir importar 75 remessas de fuzis e metralhadores dos Estados Unidos (com apoio decisivo da corrupção do Estado). Há três facções criminosas principais que se digladiam pelo controle do tráfico em favelas e comunidades do Estado e de dentro dos presídios.
Principal política de enfrentamento ao tráfico, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) dão mostras de esgotamento. Um estudo da própria PM – e publicado pela BBC Brasil – apontou que o número de confrontos entre policiais e suspeitos nas áreas de UPP aumentou de 13 casos, em 2011, para 1.555, no ano passado.
Com o tráfico fortalecido e as UPPs perdendo eficiência, aumentaram os números de troca de tiros. Nos últimos cinco anos (entre 2012 e 2016), o número de pessoas mortas em confronto da PM aumentou 120%, chegando a 920 mortes. “O confronto é o último recurso e evidencia que algo deu errado na estratégia de segurança pública”, aponta o ex-secretário José Vicente da Silva.
Perspectivas
Para Vicente da Silva, a prioridade do Rio de Janeiro deve ser estabilizar o quadro crítico. Ele acredita que o estado consiga reverter a crise apenas em médio ou longo prazo. “O que controla a criminalidade é a eficiência da resposta da polícia. Se a Força Nacional de Segurança continuar no Rio, no máximo, vai conseguir estabilizar até o fim de 2018. Com sorte, o estado vai conseguir melhorar os índices entre cinco e dez anos”, apontou.
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