O Atlas da Violência 2017, divulgado na segunda-feira (5) pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que o Brasil continua tendo dificuldade de controlar as mortes violentas. Foram 59.080 mortes no país em 2015, um número 2,3% menor do que em 2014, mas 22,7% acima do registrado em 2005.
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A partir do relatório, é possível tirar algumas conclusões sobre a violência no Brasil. O país é um dos mais violentos do mundo, com uma taxa de homicídios de 28,9 por 100 mil habitantes. Ele está na companhia de outros países latino-americanos entre os mais violentos. Várias cidades brasileiras têm taxas dignas de guerras civis. É tanta gente morrendo diariamente que é difícil fazer comparações.
1. O Brasil é o faroeste caboclo mesmo
Em 2015, o Brasil registrou 59 mil homicídios. Metade dos casos foram registrados em apenas 111 municípios. Em outra conta, 10% das cidades (557) concentraram 76,5% das mortes. A maior taxa foi registrada em Altamira, no Pará, com 107 mortes por 100 mil habitantes. Estão no topo do ranking várias cidades de regiões metropolitanas de capitais. A capital mais violenta é Fortaleza (CE), com taxa de 78,1 por 100 mil habitantes. Rankings desatualizados colocam o Brasil como líder global em cidades violentas: 19 entre as 50 mais violentas do mundo. Se fossem levados em conta dos dados do Ipea divulgados nesta semana em rankings internacionais, o país teria cinco cidades entre as dez mais violentas do mundo.
2. Comparações não são fáceis
O estudo do Ipea fez algumas comparações que mostram o tamanho do problema dos homicídios no Brasil. Em três semanas, são assassinadas no Brasil mais pessoas do que em todos os ataques terroristas registrados no mundo durante os cinco primeiros meses deste ano – contando, por exemplo, mortes no Iraque e Afeganistão. “É como se um Boeing 737 caísse com 161 passageiros todo dia”, comparou a diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno. Mais um exemplo de Samira: foram mais de 1 milhão de homicídios entre 1995 e 2015, tempo comparável à Guerra do Vietnã, que deixou 1,1 milhão de civis mortos.
3. Juventude está perdida
A idade com a maior concentração de homicídios é de 21 anos. Era de 25 anos no início da década de 80. A maioria das mortes (31.264 em um total de 59.080 homicídios registrados em 2015) foram de jovens entre 15 e 29 anos. Ao todo, mais de 318 mil jovens foram mortos entre 2005 e 2015. O custo dessas mortes precoces é de 1,5% do PIB, segundo contas do Ipea – isso é o que esses jovens produziriam ao longo da vida se estivessem no mercado de trabalho.
4. Armas de fogo são um problema
A circulação de armas de fogo está intimamente ligada à taxa de homicídios. Em 2015, 71,9% dos homicídios foram cometidos com armas de fogo – 41,8 mil mortes. Na Europa, a proporção é bem menor, de 21%. Sergipe, o estado mais violento do país, com uma taxa de homicídios de 58,1 por 100 mil habitantes, é também o líder na proporção de mortes por armas de fogo: 85,1%. São Paulo, o estado menos violento (12,2 por 100 mil habitantes), é o que tem a menor proporção, de 60,1%.
5. O Brasil não está sozinho, é uma tragédia latina
O Brasil tem uma taxa de homicídios de 28,9 por 100 mil habitantes. É a 12ª maior do mundo. O país está acompanhado por outros da América Latina: das 20 maiores taxas do mundo, 17 ficam nessa região do globo. Na América Central estão as maiores, segundo comparação feita pela ONU: Honduras (84,6) e El Salvador (64,2). A coincidência geográfica é incômoda porque derruba argumentos sobre educação, renda, oportunidades para jovens e afins. É como se houvesse uma epidemia ou cultura latina da violência espalhada pelo continente, com a circulação de drogas, armas e a existência do crime organizado. O Brasil faz parte desse cenário.