O ex-presidente Lula levou uma goleada na Justiça. Foi um 4 a 0, somando-se as três decisões dos desembargadores do TRF-4 e a sentença original do juiz Sergio Moro. O julgamento foi temperado pela tentativa de Lula transformá-lo em um ato político – seguido, nesta quinta-feira (25), pelo lançamento de sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
Os sinais, no entanto, são de que a estratégia de politização não serviu de muita coisa para o ex-presidente. Ele saiu de Porto Alegre menos viável politicamente, visto hoje com reserva até mesmo por parte de seu partido. Ao mesmo tempo, ele não conseguiu a alquimia de transformar corrupção em perseguição, pelo menos aos olhos da Justiça. Em resumo, o julgamento trouxe algumas lições sobre a política brasileira, sobre o próprio Lula e sobre a corrupção no Brasil:
A política não depende de Lula
A reação à condenação de Lula veio em uma temperatura vários graus mais baixa do que se imaginava. Fora um ou outro protesto e a manifestação da claque de sempre no discurso da derrota do ex-presidente, a decisão dos desembargadores do TRF-4 teve pouco apelo popular. No mundo político, membros do PT já começaram a pensar na vida pós-Lula, cada vez menos viável como candidato. Esse pensamento se estende para toda a esquerda, que se tornou um adendo do lulismo nas últimas duas décadas.
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Até mesmo os partidos fora da esquerda estão tendo de aprender a viver sem Lula. O deputado federal Jair Bolsonaro, por exemplo, terá de abandonar a estratégia do anti-Lula se quiser sobreviver até as eleições de outubro. A política não depende mais de Lula para andar e tem outras questões mais importantes, como o vácuo que se criou no centro do espectro ideológico.
O mirrado legado de Lula
A biografia de Lula está suja até a alma – ainda mais levando em conta que ela será completada nos próximos anos com novas condenações na Justiça. A história do líder sindical que chegou à Presidência e mudou o país para melhor está sendo recontada e não vai se sustentar. O país mudou para melhor em muitos aspectos nos últimos 20 anos e com o tempo seremos capazes de dizer que o papel de Lula foi menos importante do que ele mesmo acredita.
Pensando bem, o Brasil não deu nenhum salto importante em seu desenvolvimento. Caminhou o que deu na maior onda de crescimento global recente e morreu na praia das teses desenvolvimentistas do time que Lula ajudou a eleger em 2010 e 2014. Não nos tornamos um potência com voz mais alta no palco global como tentaram vender anos atrás. A educação melhora a passos de tartaruga e a saúde pública lida com problemas do início do século 20, como a febre amarela.
O maior legado de Lula parece ser o que lhe sobrou de apoio popular, seus conhecidos 30% nas intenções de voto. É uma herança pessoal, um legado para si mesmo e não para o país. E isso ele também vai perder um dia.
Não adianta fechar os olhos
A decisão dos desembargadores do TRF-4 traz uma lição para todos os políticos e que é extremamente salutar: não adianta o governante fingir que não sabe de nada. O fato de ele nomear e negociar os cargos dos encarregados pela corrupção é suficiente para ser também punido por coordenar o esquema. Essa é uma interpretação jurídica que deve melhorar nossas instituições no longo prazo porque o custo do loteamento de cargos pode ser a cadeia para quem assina os decretos de nomeação.
Corrupção deixa rastros
Outra lição importante para a política nacional é que a corrupção deixa rastros que os investigadores são capazes de conectar, mesmo quando não são provas irrefutáveis como um registro em cartório. A corrupção quase sempre se esconde atrás de negócios escusos que não são fáceis de ver. Os desembargadores que avaliaram o caso do triplex foram categóricos ao dizer que havia provas suficientes para que não houvesse dúvida sobre a destinação do apartamento. Este é outro fator que pode melhorar o país no longo prazo: é cada vez mais difícil se esconder atrás de comprovantes falsos, transferências em caixas de dinheiro e propriedades dissimuladas.
E precisa se tornar inaceitável
Se de um lado a Justiça se tornou mais rigorosa na forma de ver a corrupção, esse movimento precisa chegar a todos os brasileiros. Parece óbvio dizer, pelo menos na teoria, que é errado um agente público receber um benefício privado em troca do uso do poder a ele atribuído. Na prática, ter um apartamento à disposição no Guarujá para fazer de vez em quando um churrasco com os netos pode não parecer tão errado para muita gente. Entre a teoria e a prática, há a admiração e a afinidade com o pensamento desses agentes que torna mais fraca nossa resistência a atos de corrupção.
Existe ainda um outro aspecto da corrupção que enfraquece a visão social sobre esse crime: ele não é um ato contra uma determinada pessoa, mas contra o bolo coletivo da coisa pública. Ou seja, seu dano é difuso, difícil de perceber. Até começar a Lava Jato, a imensa maioria dos brasileiros não sentiu efeitos diretos da corrupção na Petrobras. Somente, talvez, uma parcela dos funcionários e acionistas da empresa tenham notado algo de errado. A corrupção custa caro, distorce a política e empobrece muitos para enriquecer poucos. Devemos ter com ela a mesma reação que teríamos com um assalto na frente de casa.
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