O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas eleições para a Presidência em 2018, havia prometido que só faria críticas ao governo após 100 dias de gestão. Mas não resistiu.
Em evento e entrevistas à imprensa na segunda-feira (11), ele disparou sua metralhadora verbal contra o presidente Jair Bolsonaro (“um garoto de 13 anos, um adolescente tuiteiro”, segundo o pedetista) e o vice, general Hamilton Mourão (“um oportunista muito bem guiado no marketing, que quer o governo”).
Também disparou contra Gleisi Hoffmann, presidente do PT, a quem definiu como “chefe de quadrilha” e o ex-presidente Lula, que chamou de “um caudilho sul-americano corrompido”. Criticou ainda militares que estão no governo, a imprensa e o Judiciário.
Ciro disse que vai pensar cem vezes se será candidato novamente em 2022. “Sabe lá o que vai acontecer com o Brasil, estou muito angustiado, muito preocupado e acho que preciso ter a liberdade de uma não conveniência de candidatura para ajudar os jovens, principalmente, a entender o que está acontecendo”, afirmou o pedetista em evento do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), em São Paulo.
Na ocasião chamou integrantes do governo Bolsonaro de “bando de boçais” e de “canalhas”. Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL), foi qualificado de “laranja-mor”.
A respeito da reforma da Previdência, Ciro afirmou que seu papel é de conter danos, ou seja, “minimizar prejuízos para as pessoas mais pobres”, e que o PDT é contra o projeto proposto pelo governo. Ele chamou o PT para fazer parte desse esforço de oposição, dizendo que precisará de votos.
Confira algumas das declarações do pedetista no evento e à imprensa:
Bolsonaro
“Eu prometi que só iria fazer crítica depois dos 100 primeiros dias de governo, mas está impossível porque tem este bando de boçal que está brincando de governar”, disse Ciro no evento do IREE. “Botaram um garoto de 13 anos, um adolescente tuiteiro para governar o país.”
À imprensa Ciro disse que não iria comentar os tuítes de Bolsonaro, pois não considera temas relevantes, como são as suspeitas sobre Flávio Bolsonaro e o “laranjal” do PSL – assuntos que ele pediu que a imprensa continue investigando.
Segundo Ciro, “o que o governo tem feito é aproveitado essa leviandade da imprensa, que não creio que seja de má-fé, é uma coisa dos tempos modernos, em que tudo é descartável, tudo é irrelevante, e vive distraindo vocês com esses papos-furados aí”. “Vai tomar conta de Zé de Abreu uma altura dessa? Zé de Abreu, eu o conheci fanático do PSDB”, disse aos repórteres.
Ciro afirmou que está preocupado com a “precocidade da confusão” que está se estabelecendo no governo. A fala do pedetista ocorreu um dia após o presidente da República compartilhar uma notícia com declarações falsas atribuídas à repórter do “Estadão” Constança Rezende.
O pedetista criticou ainda, indiretamente, a ideia de se transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. “Que dia que alguém pediu a gente [os políticos] para mudar a embaixada?”, afirmou.
Mourão e militares
Para Ciro, o vice-presidente Mourão só pensa em ocupar a cadeira de presidente. Em entrevista ao jornal “Valor”, afirmou que o general é “um oportunista muito bem guiado no marketing” e “só um pato não vê que quer o governo”.
Na entrevista, afirmou que o projeto dos militares que estão no governo “visa ao poder”. “Para quem conhece o caminho de truculência do general Mourão e o vê agora como esse doce contraponto diário das diatribes e loucuras do Bolsonaro, só se deixa enganar se for um petista muito imbecil, como há muitos que infestam a vida brasileira. Tu acredita que tem petista conversando com Mourão?”, disse.
Para Ciro, os militares “têm se revelado um fator moderador”, mas “estão correndo atrás de apagar a fogueira que ajudaram a acender”. Disse que considera o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, “um patriota e homem de bem”. Mas questionou se ele vai explicar “esse laranjal infernal que envolve o presidente, a primeira-dama e seus filhos todos”. Afirmou que nesse assunto Heleno é “corresponsável”, como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
Disse também que o general é responsável, “se não por ação, por omissão, pela venda da Embraer, pelo general brasileiro nos EUA e pelos exercícios militares do Brasil em Roraima, e ainda de se aliar com esse canalha do Juan Guaidó que, como ‘The New York Times’ provou, foi quem pôs fogo na ajuda humanitária. Ele é um agente da CIA”, disse o pedetista ao “Valor”.
Gleisi Hoffmann
“Não tenho dúvida. Ela [Gleisi] é a chefe [de uma quadrilha]”, disse Ciro ao “Valor”. “Ela e o marido estão enrolados em tudo. Se quiserem me processar, já estou acostumado. Estou falando a verdade. Não vale me processar por dano moral. Me processe por calúnia que tenho direito a demonstrar. É só tirar certidões das acusações do Ministério Público. Quantos tesoureiros o PT tem? Estão todos presos. Lula apoiou Sérgio Cabral até o gogó. Quem nomeou Michel Temer vice, contra minha opinião?”, disse o pedetista na entrevista.
Na mesma entrevista, contou que não pensava em ser candidato no ano passado – estava na CSN com um “supersalário” – mas que renunciou a tudo para “brigar”. “E fui agredido, caluniado, atropelado pelas costas por essa canalha da cúpula do PT. Isso é formação de quadrilha, organização criminosa, a cúpula, não a militância. Qual é a lista que o Paulo Paim entrou? E a que o Olívio Dutra entrou? O Tarso Genro, o Eduardo Suplicy, o Henrique Fontana? Nenhum deles. Só a turma do Lula.”
Lula
Questionado se o preço da unificação da esquerda seria a adesão ao movimento “Lula Livre”, Ciro avisou que estaria fora. “Lula virou um caudilho sul-americano corrompido. Tem uma gratidão difusa, porque foi um presidente bom para o povo, mas sem nenhuma visão nacional. A esquerda latino-americana cometeu um erro ao financiar um ciclo de consumo.”
Petistas “de bem”
Em suas críticas ao PT, Ciro ressalvou que o ex-concorrente do partido ao Planalto, Fernando Haddad, faz parte do grupo de “homens de bem” do partido. Em um tom semelhante ao usado no segundo turno da eleição presidencial, quando não deu um apoio formal a Haddad contra o presidente Jair Bolsonaro, Ciro disse que “não aceita mais a hegemonia do lado bandido do PT”.
Ao citar o exemplo do vereador Eduardo Suplicy, presente no evento, como um “homem honesto, nunca presente em nenhuma destas listas de corrupção”, Ciro disse que ao lado dele estão, entre outros, os ex-governadores gaúchos Olívio Dutra e Tarso Genro. Ciro foi então questionado sobre Haddad. “Ele é um homem de bem”, disse.
Reforma da Previdência
O ex-ministro fez duras críticas à reforma da Previdência proposta por Bolsonaro. Para o pedetista, o projeto não contempla a discussão do espaço do Orçamento dedicado ao investimento e também falha em não tratar da aposentadoria militar.
Na avaliação de Ciro, a principal tarefa da reforma da Previdência é dar base para que o investimento na economia se amplie e garantir o bem-estar da população idosa. “Nada disso está sendo considerado”, afirmou, durante evento do IRRE.
Na opinião do pedetista, não há nenhuma proposta clara para a aposentadoria de militares. “Cadê a Previdência para eles [militares]? Se o governo não fizer uma coisa séria, ética, responsável moralmente, como é que vai pedir sacrifício da população?”, disse.
Ao “Valor”, cobrou se o futuro relator da proposta “vai ter coragem de defender um BPC de R$ 400 enquanto Bolsonaro acumula duas aposentadorias, uma de capitão aos 33 anos, a segunda de deputado federal, mais o soldo de presidente, o que dá R$ 62 mil” – procurado pelo jornal, o governo afirma que o presidente recebe o salário do cargo mais a aposentadoria como capitão reformado, mas que devolve o que excede o teto constitucional.
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“Vamos para o debate na Comissão Mista da Previdência, falar que 99,3% dos militares se aposentam com menos de 55 anos”, disse Ciro. Segundo o Tribunal de Contas da União, 95% dos militares passam à inatividade com no máximo 55 anos. “Os militares vão gostar que o povo fique sabendo? Se eles entraram na política que aguentem. Ou então pede o boné e cai fora. Se estão dentro vão aguentar”, afirmou o pedetista.
Judiciário
Ciro ainda contestou sua condenação pelo Tribunal de Justiça de São Paulo ao pagamento de R$ 38 mil de indenização por danos morais ao vereador paulistano Fernando Holiday (DEM) por chamá-lo de “capitãozinho do mato” em entrevista à Rádio Jovem Pan no ano passado.
No mês passado, Ciro voltou a usar a expressão “capitão do mato” em entrevista à rádio cearense Tribuna BandNews FM, e Holiday disse que o processará novamente. “A crítica política é livre. O dia que alguém tipo um bostinha desses me calar, nesse dia eu já saí da vida pública”, afirmou o pedetista.
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