Para pedir recursos a serem entregues ao então tesoureiro do PT João Vaccari, o ex-ministro Guido Mantega escreveu a letra V e disse: “tá precisando”, disse Marcelo Odebrecht em depoimento.| Foto: JONATHAN CAMPOS/JONATHAN CAMPOS

O esquema de pagamento de propina relatado pela Odebrecht tem sistema informatizado, regras de segurança adotadas por políticos para não serem grampeados e acertos informais de contas. Protocolos foram revelados ao longo das delações de vários executivos que citaram os nomes registrados no programa de informática Drousys, com servidores no exterior, usado pela empresa para controlar os repasses de propina.

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Os servidores da plataforma ficavam no exterior. O ex-diretor da companhia Alexandrino Alencar, por exemplo, relatou que pagava mesada para Frei Chico, irmão do ex-presidente Lula, antes mesmo do sistema ser instituído, no que chama de pré-Drousys.

O ex-executivo da Odebrecht Benedicto Junior detalhou que os pagamentos do Setor de Operações Estruturadas da empresa, conhecida como o setor de propinas, eram feitos de duas formas: ou em dinheiro vivo no Brasil ou por meio de contas no exterior.

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Ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht explicou também que nas reuniões em que se discutia repasse de dinheiro a quadros do partido, petistas no governo costumavam escrever o nome ou inicial do destinatário com o valor num papel em vez de pronunciá-los. A medida de segurança “antigrampo” foi relatada por Marcelo Odebrecht em depoimento à força-tarefa da Operação Lava-Jato.

Marcelo narrou a prática ao citar uma situação específica em que o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu dinheiro para João Vaccari, tesoureiro do PT à época. Para tanto, redigiu a letra V e disse: “tá precisando”. Interpelado pelo procurador sobre a passagem, Marcelo explicou que havia um “medo” entre os governistas de serem grampeados.

Havia também uma prestação de contas informal com Antonio Palocci e Guido Mantega, principais interlocutores dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, respectivamente, com Marcelo. Ele contou aos investigadores que, de vez em quando, mostrava aos dois o “saldo” da conta de onde eram retirados os recursos até para “estressar” caso houvesse pedidos exagerados de dinheiro: “O controle era mais meu, (até para que) se eu um dia precisasse estressar, dizer: ‘pô, vocês já gastaram tudo isso’”.

Marcelo afirmou ainda que o avanço da Lava-Jato acendeu o sinal vermelho da empresa, durante a campanha presidencial de 2014. Temendo chamar atenção dos investigadores, a Odebrecht arquitetou uma estratégia para conseguir fazer doações em valores acima do razoável por meio de laranjas. Uma das empresas usadas foi a cervejaria Itaipava, segundo Marcelo.