O roteiro que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) preparou para esta quarta-feira (19) tinha como ponto alto a primeira reunião entre ele e todos os 22 ministros que comporão o seu governo. As atenções do dia, no entanto, acabaram desviadas para o Supremo Tribunal Federal (STF), com a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, revertida pelo presidente Dias Toffoli, que quase possibilitou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Principalmente porque um dos futuros ministros de Bolsonaro é o ex-juiz Sergio Moro, responsável pela condenação do petista em primeira instância.
O quadro de incertezas que marcou a tarde de quarta fez com que Bolsonaro e seus ministros adotassem uma espécie de voto de silêncio. Nenhum dos participantes falou à imprensa depois da reunião, ocorrida na Granja do Torto, e mesmo as manifestações nas redes sociais foram tímidas.
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À Gazeta do Povo, um futuro ministro disse que houve um acordo para que opiniões sobre a guerra de decisões no Supremo não fossem tornadas públicas. “Combinamos, entre todos, de não falar nada sobre isso. Pegaria muito mal, até porque ainda não somos governo”, disse.
Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que será o ministro da Secretaria de Governo, afirmou que “não houve tempo” para que o assunto viesse à tona na reunião ministerial. “Estamos numa fase de montagem de governo, de conhecimento do trabalho que vamos fazer. Além disso, aquele assunto é uma questão do Judiciário, e não do Executivo”, destacou.
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Quem quebrou um pouco o silêncio foi o deputado federal Carlos Manato (PSL-ES), que não foi reeleito e vai integrar o governo Bolsonaro como secretário especial para Câmara Federal da Casa Civil. Ele, que não participou da reunião na Granja do Torto, disse que a decisão do ministro Marco Aurélio Mello de liberar os condenados em segunda instância havia sido recebida com muita apreensão entre os funcionários do governo de transição, e disse que dava “graças a Deus” por conta da medida de Dias Toffoli que reverteu o quadro.
A tarefa de comentar o caso oficialmente coube ao próprio Bolsonaro – mas na internet, como é de seu feitio. No Twitter, o presidente eleito parabenizou o presidente do STF pela decisão.
Parabéns ao presidente do Supremo Tribunal Federal por derrubar a liminar que poderia beneficiar dezenas de milhares de presos em segunda instância no Brasil e colocar em risco o bem estar de nossa sociedade, que já sofre diariamente com o caos da violência generalizada!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 19 de dezembro de 2018
Convergências
Complicações judiciárias à parte, o encontro foi definido pelos participantes como um momento de “entrosamento” entre os membros do futuro governo. Futuro titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles apontou que a reunião mostrou “convergência” entre os escolhidos por Bolsonaro: “há uma grande sintonia em executar o programa de governo que foi escolhido pela população nas urnas”.
“Nós conversamos entre si e começamos a identificar áreas em que podemos trabalhar em conjunto”, endossou o general Santos Cruz.
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O trabalho integrado foi também defendido pela senadora eleita Mara Gabrilli (PSDB-SP), que se reuniu com a futura ministra Damares Alves, que comandará a pasta de Mulheres, Família e Direitos Humanos. A tucana, que milita pela causa das pessoas com deficiência, relatou ter apresentado a Damares temas ligados à acessibilidade que envolvem ações em diferentes setores, como ciência e tecnologia.
O encontro entre a parlamentar e a futura ministra foi no Centro Cultural Banco do Brasil, espaço próximo ao Palácio do Planalto que se transformou no “quartel general” da transição.
Bolsonaro voltou ao Rio de Janeiro ainda nesta quarta. Ele deve retornar a Brasília apenas na próxima semana.
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