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Antônio Oliveira Santos (CNC) está na presidência da CNC há 38 anos, Fábio de Salles Meirelles  comanda a Faesp há 43 e Abram Szajman  lidera a Federação do Comércio de SP há 34. | Divulgação
Antônio Oliveira Santos (CNC) está na presidência da CNC há 38 anos, Fábio de Salles Meirelles comanda a Faesp há 43 e Abram Szajman lidera a Federação do Comércio de SP há 34.| Foto: Divulgação

Quando Fábio de Salles Meirelles assumiu a presidência da Faesp (Federação da Agricultura de São Paulo), em 1975, o general Ernesto Geisel presidia o Brasil, um jovem chamado Bill Gates fundava a Microsoft e o cantor John Lennon estava em turnê pelo Reino Unido com o novo sucesso “Imagine”.

Há 43 anos no cargo, Meirelles é o mais longevo dos líderes do patronato brasileiro, mas não o único a se eternizar no poder.

Antonio Oliveira Santos ocupa a presidência da CNC (Confederação Nacional do Comércio) faz 38 anos. José Arteiro da Silva, Abram Szajman e José Roberto Tadros também estão no comando das federações do comércio de Maranhão, São Paulo e Amazonas há, respectivamente, 35, 34 e 32 anos.

José Zeferino Pedrozo é presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina faz 28 anos.

Nas últimas duas semanas, a reportagem da Folha de S.Paulo pesquisou as 114 confederações e federações de agricultura, indústria, comércio e transportes do Brasil. Obteve, por internet e telefone, informações de quase uma centena delas.

O resultado mostra um sistema envelhecido, com baixa rotatividade e diversidade, cada vez mais político, e sobre o qual pairam suspeitas de nepotismo, desvio de recursos e corrupção.

Das 99 entidades em que foi possível obter dados, 41 presidentes já ultrapassaram oito anos no cargo, o equivalente a um mandato de quatro anos e uma reeleição. Pior: 17 dirigentes estão no comando faz mais de duas décadas.

Não existe hoje nenhuma mulher na cúpula do patronato -a mais importante delas foi a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), que deixou a presidência da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) em 2016.

O sistema sindical patronal se tornou um trampolim eleitoral, como já ocorreu com sindicatos de trabalhadores e cujo exemplo mais impactante é o ex-presidente Lula.

Pelo menos dez comandantes de federações estão licenciados em todo o país para se candidatar em outubro -o mais conhecido deles é Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que concorre ao governo.

O levantamento da Folha de S.Paulo, porém, mostra apenas o topo da pirâmide.

É provável que o mesmo retrato se repita pelos sindicatos patronais que compõem federações, que, por sua vez, se agrupam em confederações. Existem 5.275 sindicatos patronais -69% urbanos e 31% rurais.

Desinteresse e politicagem

Pessoas que conversaram com a reportagem sob a condição de anonimato dizem que dois fenômenos distintos explicam a longevidade dos líderes.

O primeiro é a falta de disposição das multinacionais, que chegaram em peso ao Brasil nos últimos anos, para o comando de entidades.

Sem querer expor os executivos, deixam as entidades para empresários locais, que são cada vez mais raros.

O segundo é o abuso de poder por parte do comando das federações, que se aproveitam da pouca representatividade e do baixo poder econômico de muitos sindicatos para conquistar voto com pequenos favores.

Há também casos de fraude, com sindicatos que existem apenas no papel.

O exemplo mais evidente é o do Amapá, onde Sesi e Senai estão sob intervenção desde 2013, quando a então presidente da Fiap (Federação das Indústrias do Amapá), Joziane Araújo Rocha, foi afastada.

Ela foi acusada de forjar a existência de sindicatos para controlar a federação e de desviar recursos do sistema S. Depois de cinco anos, as eleições para a presidência da Fiap estão marcadas para julho.

É comum que um mesmo grupo político permaneça no comando, mesmo quando troca o presidente. Há exemplo de dirigente que só deixa o cargo por problemas de saúde e é substituído por pessoa de confiança -e, em um caso, acabou tudo em família.

Na Fetracan (Federação das Empresas de Transporte de Carga do Nordeste), o pernambucano Newton Gibson assumiu a presidência em 1989, dois anos após a fundação, e ficou até 2015, quando adoeceu.

Deixou o filho, Nilson Gibson como presidente interino, que acabou eleito em 2017.

Há nove anos, os representantes do sindicato do Ceará travam uma batalha judicial para assumir o comando da Fetracan, sem sucesso.

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