O homem que resgatou a Petrobras do buraco e conseguiu recuperar o valor de mercado da maior empresa do Brasil caiu na ‘panela de fritura’ da política. Pedro Parente, presidente da estatal há dois anos, virou culpado número um pela crise dos combustíveis que deflagrou a pior greve dos caminhoneiros dos últimos anos.
Ele vem sendo rifado por políticos da base do governo, virou piada na internet e alvo da oposição, que lançou a hashtag #ACulpaÉdoParente. Sobrou para o executivo, visto como gestor e que sustenta a imagem de durão perante as investidas políticas do governo federal sobre a Petrobras.
A desgraça se abateu sobre Pedro, como prefere ser chamado, a partir de terça-feira (22), quando negou categoricamente a possibilidade de a Petrobras rever a política de preços que tem causado reajustes diários sobre a gasolina e o diesel comercializada nas refinarias. “Isso nunca foi considerado. Câmbio e preços mudam diariamente, esses fatores não são provocados pela Petrobras”, disse. E completou: “o governo não entra nos assuntos da Petrobras, a Petrobras não comenta assuntos do governo.”
No dia seguinte, diante do agravamento da paralisação dos caminhoneiros e sob pressão de todos os lados, o executivo anunciou uma redução de 10% no preço do litro do diesel por 15 dias, a fim de dar tempo ao governo e ao Congresso para encontrar uma solução que atenda as reivindicações dos grevistas. A medida foi vista como interferência política sobre a empresa – algo tido pelo mercado como imperdoável e que remete aos terríveis anos de governos petistas, que causaram prejuízos bilionários.
Qual o limite de Parente?
O questionamento em Brasília é quanto Parente aceitará ceder e quanta crítica ele está disposto a receber, enquanto as ações da Petrobras caem 13% – a empresa deixou de ser a mais valiosa na Bolsa de Valores nesta quinta-feira (24), perdendo para a Ambev.
Em uma conferência com investidores, Parente teria traçado seu limite: “a Petrobras fez o que tinha de fazer. Agora o governo é que tem de negociar”, disse Parente aos investidores, segundo participantes da reunião, ao falar sobre a possibilidade de mudanças na política de reajustes diários de preços da Petrobras.
Especula-se o que o governo e o Congresso podem exigir ainda mais de Parente, como a mudança na política de reajustes, que passaria a ser quinzenal, ou novas reduções no preço. Na negociação com os caminhoneiros, cada lado estica a corda como pode e tenta passar a solução – e a culpa – para outra entidade envolvida no debate.
Antes de reunião com as associações grevistas nesta quinta, o ministro de Relações Institucionais, Carlos Marun, tentou jogar para Pedro Parente o problema. "O governo não está em condições de deixar de arrecadar R$ 15 bilhões [em referência à isenção de PIS-Cofins aprovada no dia anterior pela Câmara]. Mais provável é mexer na verdade no preço do combustível, que é exercido pela Petrobras. Ontem deu desconto de 10%. Ele que dê mais desconto pra evitar a greve", disse Marun.
Fogo amigo
Nesta quinta, o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), pediu abertamente a demissão de Parente, chamou o executivo de “arrogante” e disse em plenário que a “Petrobras não é maior que o Brasil” e que os objetivos de Pedro Parente não podem ser maiores do que a Petrobras. "A arrogância com que o presidente da Petrobras se dirigiu ao país não pode ser acatada", disse o tucano. Outros senadores da base também criticaram Parente, como José Maranhão (MDB-PB) e Ana Amélia (PP-RS), que falou em "insensibilidade política" do executivo.
A fritura de Parente se intensificou depois do anúncio da redução em 10% do preço do litro do diesel por 15 dias. Ele jura que não houve interferência do Palácio do Planalto. A medida teria sido decidida pelo próprio Pedro Parente, após consultar a diretoria executiva, sustentam seus interlocutores. O presidente Michel Temer teria falado com Parente somente minutos antes do anúncio, por telefone, no caminho para a sala onde foi feito o pronunciamento. A decisão já estaria tomada e Temer foi apenas informado.
Segundo interlocutores de Parente, na manhã de quarta, ao ver notícias de que havia riscos de impactos de abastecimento dos aeroportos de Congonhas e Brasília, ele teria se reunido com a diretoria da Petrobras pela primeira vez. Nessa reunião, nenhuma decisão foi tomada, com expectativa de acordo com os caminhoneiros no Palácio do Planalto. Sem acordo, Parente e os diretores da Petrobras voltaram a se reunir por volta das 17 horas, quando decidiram fazer a alteração no preço. O anúncio foi feito uma hora depois.
Um homem pragmático
Visto pelo mercado como gestor e homem forte, Pedro é pragmático e prático. Ele deixou claro ao aceitar presidir a Petrobras, quando Temer assumiu o Palácio do Planalto, que chegava ao fim o uso da empresa com fins políticos. Ele não aceitaria influências como as ocorridas na gestão de Dilma Rousseff, que obrigou a Petrobras a manter artificialmente os preços dos combustíveis, sem reajustes para conter a inflação, causando um rombo bilionário em seu balanço.
Parente, que é ligado ao PSDB e foi chefe da casa Civil do governo de Fernando Henrique Cardoso, é detestado por alas da esquerda e sindicatos ligados à sua área, que o criticam por ser sob sua gestão que a Petrobras decidiu passar por um profundo processo de desverticalização, para se concentrar nas atividades de exploração e produção de petróleo, se desfazendo de negócios e ativos nas áreas de refino e distribuição.
Em nota, a Associação de Engenheiros da Petrobras afirma que Parente é o verdadeiro culpado pela greve, ao criar a nova política de preços da empresa. “Ganharam os produtores norte-americanos, os “traders” multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobras, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação. Batizamos essa política de ‘America first!’, ‘Os Estados Unidos primeiro’!”, diz a entidade.
Nas redes sociais, a fritura de Parente traz à tona seu papel durante a crise do Apagão, em 2011, quando ele foi chamado para cuidar do gabinete de crise. A pré-candidata à presidência da República Manuela D’Ávila (PCdoB) publicou em seu perfil nas redes sociais: “Pedro Parente estava à frente do apagão de energia com FHC. Agora, do apagão de combustível no país. Na próxima pede música no Fantástico”.
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