No seu primeiro evento oficial como presidente da República eleito, Jair Bolsonaro (PSL) deixou de lado a liturgia do cargo. Não parecia à vontade na cerimônia alusiva aos 30 anos da Constituição, no plenário do Congresso Nacional, nesta terça-feira (6). Mas é melhor "já ir" se acostumando a essas solenidades. Assim será sua vida daqui por diante, sobretudo após vestir a faixa presidencial no dia 1º de janeiro.
Durante os discursos feitos no evento, Bolsonaro foi do enfado à certa insolência. Parecia não estar nem aí – exceto quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que estava ao seu lado, lhe entregou um exemplar da Carta Magna. Mas na maior parte do tempo agia com certo desdém, fazendo troça e selfies com os bajuladores de plantão, que faziam brincadeiras e piadas com ele. Pelo menos 50 deles subiram à mesa, durante a cerimônia, para cumprimentá-lo e tirar fotos.
LEIA TAMBÉM: Bolsonaro insiste em reforma da Previdência neste ano, mas Congresso resiste
Acomodado na mesa dos trabalhos ao lado dos presidentes dos três poderes – Michel Temer (Executivo), Dias Toffoli (Judiciário) e Eunicio Oliveira (Legislativo) –, Bolsonaro reinava absoluto. Era o centro das atenções. O "número 01", como é tratado por auxiliares e apoiadores mais próximos, dispensou alguns rituais obrigatórios nestas ocasiões. Não aplaudiu o discurso da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, por quem não morre de amores. Dodge defendeu as minorias e a liberdade de imprensa, temas que assombraram Bolsonaro durante a campanha.
Ao citar personalidades, mostrou não ter sido apresentado às nominatas, que são aquelas fichas com os nomes das autoridades presentes num evento e lidas por uma autoridade maior ainda. Fez um discurso rápido, com duração inferior a dois minutos, e citou apenas os nomes de Toffoli e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Se referiu aos outros integrantes da mesa como "demais autoridades".
LEIA TAMBÉM: Reforma sugerida a Bolsonaro dá aposentadoria maior para mães
Há que se destacar que o esquema de segurança de Bolsonaro estava flexível. Foi permitida aproximação com o eleito e todo seus auxiliares de primeiro escalão e até familiares, como um dos irmãos e o filho caçula Jair Renan. Foi liberado o acesso dos jornalistas à cerimônia.
No final, provocado por amigos, Bolsonaro voltou a repetir o gesto da "arminha", que surgiu ali, naquele plenário, ao lado de seus colegas da bancada da bala. Parlamentares da oposição chegaram a criticá-lo por isso. Foi o primeiro entre as autoridades a deixar o Congresso. Não ficou para ouvir discursos de deputados inscritos para falar na sessão.
Dia em Brasília teve bajulação, opção pelos militares e novos recuos
Bolsonaro teve um dia longo no seu retorno a Brasília. Reviu amigos, foi bajulado no Congresso, ouviu discursos em defesa da Constituição, visitou somente autoridades militares do governo, deu rápidas entrevistas e anunciou novos recuos nas suas ideias de governo.
O presidente eleito esteve o tempo inteiro cercado por seguranças, numa amostra de como viverá daqui para a frente. Abriu mão de se hospedar na residência oficial da Granja do Torto e optou pelo apartamento funcional da Câmara, na Asa Norte, um bairro do Plano Piloto de Brasília. Ali será sua estadia até assumir o Palácio do Planalto e se mudar para o Alvorada, residência oficial dos presidentes.
LEIA TAMBÉM: Bolsonaro gastou R$ 4 milhões com mordomias em 10 anos de mandato
Nas entrevistas, novos recuos. A principal: deixou em dúvida se, de fato, irá transferir de Telaviv para Jerusalém a embaixada do Brasil em Israel. Outra ideia importada de Donald Trump, além do uso abusivo das redes sociais. Diante da reação do Egito, país que suspendeu um encontro com o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, por conta da iniciativa de Bolsonaro, o presidente eleito disse que essa questão ainda não está definida.
Novos recuos vieram. Ele disse que seu governo vai intensificar as relações comerciais com a China. Bolsonaro passou a campanha criticando a “voracidade” dos chineses nos mercados externos. Outra mudança: agora, o presidente eleito não quer mais o general Augusto Heleno no Ministério da Defesa. O anunciou desde a campanha como o nome ideal para o cargo. O capitão deseja o general no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que tem, entre outras missões, cuidar da segurança presidencial.
Agenda cheia nesta quarta
Bolsonaro volta a se reunir nesta quarta-feira (7) com os militares e toma o café no Comando da Aeronáutica. Às 10 horas terá um encontro com o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, com quem trocou gentilezas nessa terça. Um sentou ao lado do outro e várias vezes cochicharam. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, deve ir ao encontro. Ele criou polêmica durante a campanha ao aparecer num vídeo fazendo uma defesa do fechamento do STF caso a candidatura de seu pai fosse vetada por alguma decisão do tribunal.
Na agenda, um almoço no STJ e uma passada no Centro Cultural Banco do Brasil, onde funciona o gabinete de transição. Depois, se encontra com o presidente Michel Temer, onde devem discutir o que fazer com a reforma da Previdência, e é previsto um possível retorno ao Rio.
O que explica o rombo histórico das estatais no governo Lula
Governo Lula corre para tentar aprovar mercado de carbono antes da COP-29
Sleeping Giants e Felipe Neto beneficiados por dinheiro americano; assista ao Sem Rodeios
Flávio Dino manda retirar livros jurídicos de circulação por conteúdo homofóbico
Deixe sua opinião