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Com aval de Lula, Partido dos Trabalhadores deve aclamar a senadora Gleisi Hoffmann como nova presidente nacional da sigla. | Ricardo Stuckert/Fotos Publicas
Com aval de Lula, Partido dos Trabalhadores deve aclamar a senadora Gleisi Hoffmann como nova presidente nacional da sigla.| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Publicas

O Partidos dos Trabalhadores (PT) fechou nesta quarta-feira (31) um projeto de resolução a ser votado no sábado (3), em seu 6.º Congresso, que prevê o boicote e a não participação do partido em eventual colégio eleitoral, caso deputados e senadores tenham de escolher um substituto para o presidente Michel Temer (PMDB). O PT prega eleições diretas para presidente da República e vai insistir nessa bandeira, na tentativa de se reaproximar da sociedade após ser envolvido em escândalos de corrupção.

Mesmo assim, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer que o congresso do PT, que começa nesta quinta-feira (1º), em Brasília, lance agora sua candidatura ao Palácio do Planalto. Lula acha que o movimento poderia constranger outros aliados adeptos da campanha por ‘Diretas Já’. Além disso, seus advogados avaliam que não é conveniente “provocar” antecipadamente o Judiciário.

O ex-presidente vai cobrar unidade de todas as correntes petistas no 6.º Congresso do PT e evitar novo racha público. Lula não quer, por exemplo, que uma polêmica doméstica – como a discussão sobre o fim ou a continuidade do Processo de Eleição Direta (PED) para escolha do comando do partido – contamine o debate sobre temas de relevância nacional.

Réu em cinco processos, sendo três no âmbito da Operação Lava Jato, o ex-presidente pode ser impedido de concorrer ao Planalto, em 2018, se for condenado em segunda instância pela Justiça. É justamente por isso, no entanto, que muitos petistas acreditam que o encontro do PT é a melhor época para tentar empurrar sua candidatura, denunciar o que chamam de “golpe” continuado e ir para o enfrentamento.

“A militância pode até lançar o Lula, mas o que ele acha importante, neste momento, é manter a unidade. E a única palavra que unifica essa frente suprapartidária é eleição direta”, disse o ex-ministro Gilberto Carvalho. “Eleição indireta para substituir Temer significa a continuidade das reformas e nós somos frontalmente contra isso”, completou ele, numa referência às mudanças na Previdência e na legislação trabalhista, propostas por Temer.

Autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê eleição direta em casos de vacância na Presidência, o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) lembrou que a campanha de 1984 também não apresentava candidatos. “Naquela época, todos se apresentavam no mesmo palanque. Lula deve estar raciocinando nessa mesma direção, no sentido de não limitar o apoiamento ao nome dele”, afirmou Miro. Em 1985, o PT se absteve na disputa entre Paulo Maluf (então do PSD) e Tancredo Neves (Aliança Democrática), que venceu a eleição indireta por 480 votos a 180.

Apesar desses argumentos, a líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann, não vê motivos para adiar o lançamento da candidatura do ex-presidente. “O medo que muitos expressam é porque não têm candidato. Mas nós não temos culpa disso”, argumentou.

A senadora paranaense é favorita para presidir o PT e deve ser eleita no próximo sábado, substituindo Rui Falcão. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) também disputa o comando do partido, mas projeções feitas com base nas eleições para os diretórios estaduais e municipais mostram que sua indicação não terá maioria no encontro.

Lula tentará fazer um acordo com todas as tendências para compor a direção petista e, nesse quebra-cabeças, Lindbergh pode ficar com a primeira-vice-presidência.

Com 600 delegados, o 6.º Congresso do PT será realizado na esteira da maior crise do partido, que completou 37 anos em fevereiro. Cassada pelo processo de impeachment, em agosto do ano passado, a ex-presidente Dilma Rousseff também comparecerá ao encontro.

“Nós precisamos de um partido preparado para esse momento de guerra, de profunda luta de classes”, disse Lindbergh. “Fomos ingênuos e frouxos e, no nosso governo, vivemos uma política de conciliação exagerada. Quando a gente olha para o passado, pergunta: ‘Por que não fizemos a lei dos meios?’“, questionou ele, ao lembrar a proposta do PT de regulamentação dos meios de comunicação, que ficou na gaveta durante o governo Dilma.

Tesouraria coletiva

Alvejado por denúncias de malfeitos, o PT também vai aprovar no encontro diretrizes de um novo programa. Não fará, porém, qualquer acerto interno de contas. “Mas nós vamos exigir isso”, protestou o ex-deputado federal Gilney Viana. “Nós não achamos que Lula, sendo candidato, tira o PT da crise, não. Ele até pode ser candidato, mas o PT precisa mudar, porque virou um partido de luta institucionalizada de classes, com uma direção cartorial.” Na opinião de Gilney, o PT precisa aproveitar o congresso para fazer o inventário de seus erros. “A autocrítica que estão propondo é insatisfatória”, insistiu ele.

Na lista das mudanças defendidas pelos grupos mais à esquerda no espectro ideológico do PT, está o controle sobre a administração financeira do partido. Essas correntes pregam uma espécie de “gestão coletiva” da tesouraria. Desde o escândalo do mensalão, três ex-tesoureiros do PT foram presos - Delúbio Soares, João Vaccari e Paulo Ferreira. Vaccari virou réu da Lava Jato e continua encarcerado. A reforma na tesouraria do partido também será um dos temas de debate no encontro petista.

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