O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passou a quarta-feira (21) tentando minimizar publicamente o impacto que a indicação de três nomes de seu partido para o primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro pode ter na sua campanha à presidência da Câmara dos Deputados. Internamente, porém, segundo aliados próximos, ele viu com preocupação os movimentos do novo governo e já avalia como a presença de integrantes do DEM na Esplanada pode atingi-lo diretamente.
"Partidos do Centrão, como PP, PRB e PR, já começaram a reivindicar espaço. Claro que, com três ministérios, mais a Presidência da Câmara, alguns acham que é muito poder nas mãos de um partido só", afirmou um deputado que participou de uma das conversas que aconteceram no gabinete da Presidência da Câmara, na terça-feira (20), logo após a confirmação de Luiz Mandetta (DEM-MS) para o Ministério da Saúde. Os outros dois deputados do Democratas anunciados como ministros por Bolsonaro são Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Tereza Cristina (Agricultura).
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Maia é virtual candidato à reeleição à Presidência da Casa desde quando ainda dizia disputar a Presidência da República, até meados de julho. Na ocasião, testava seu potencial eleitoral no Rio de Janeiro e em seu partido. Mas já articulava apoios para sua recondução interna.
Agora, quando questionado sobre uma tentativa de enfraquecer sua reeleição, ele nem sequer admitiu a candidatura, e se esquivou de qualquer tom de ataque ao novo governo. É que ele ainda tem esperança de, mesmo na última hora, conseguir de Bolsonaro um apoio que lhe renda mais votos.
Na noite de quarta, em jantar com os mais próximos na residência oficial, em meio aos desabafos, houve tentativas de traçar estratégias para contornar a situação. A principal ideia é não deixar o Centrão se desarticular e migrar para qualquer candidato que a equipe de Bolsonaro possa vir a apoiar na eleição, que ocorre em fevereiro de 2019, quando a nova legislatura tomar posse.
A quem Maia atribui os ataques?
Rodrigo Maia, porém, tem um grande oponente na equipe de Bolsonaro: o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Embora do mesmo partido, os dois têm uma rixa antiga. Ao ser alçado à Presidência da Câmara, Maia minou poderes de Onyx na Casa, não lhe deixando sequer com cargo de vice-liderança da legenda.
Além disso, o atual pupilo bolsonarista se sentiu prejudicado por Maia quando relatou as 10 medidas contra a corrupção em 2016. Quando o projeto foi ao plenário, Onyx chegou a dizer que a proposta estava sendo "dizimada", com a derrubada de seis e manutenção de apenas quatro dos itens inicialmente propostos.
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A mágoa entre os dois é tão grande que, ainda durante a campanha eleitoral, Onyx chegou a dizer a um nome bastante próximo que, caso Bolsonaro fosse eleito, ele faria tudo o que estivesse a seu alcance para evitar a reeleição de Rodrigo Maia.
Onyx nega que seu partido tenha sido beneficiado. No início da noite de quarta, ele recebeu no gabinete da transição, em Brasília, o presidente do DEM, ACM Neto, e ouviu pedidos sobre apoio à candidatura de Maia. Conforme interlocutores, teria se esquivado.
Sem fisiologismo
A afirmação constante de Jair Bolsonaro é que a escolha de seus ministros não se pauta em indicações partidárias. Mas falta explicar essa lógica até mesmo à sua própria legenda que o cobrou pela "desproporcional presença do DEM na Esplanada", nas palavras de um parlamentar.
O partido do presidente eleito quer espaço, atenção e ser ouvido na transição. A bancada da legenda do capitão não faz nem tanta questão de disputar a presidência da Câmara. Boa parte ali entende que o grupo não tem um nome forte, que não há necessidade nesse momento e que pode apoiar um aliado. Essa também é a opinião de Bolsonaro.
"Concordo com o presidente Bolsonaro. Podemos abrir mão da presidência da Câmara. Até por humildade", disse o deputado reeleito Marcelo Alvaro Antônio (PSL-MG), um dos mais próximos ao novo presidente e que chegou a ser cotado para ser seu vice durante a pré-campanha eleitoral.
O nome de Rodrigo Maia já foi bem recebido dentro do PSL. Não é mais. Um nome que surge como opção do partido de Bolsonaro é o de João Campos (PRB-GO), que confirmou nesta quinta-feira (22) que será candidato a presidente da Câmara. Pastor da Assembleia de Deus Vila Nova, ele é um dos coordenadores da bancada evangélica e também ligado ao grupo da bala. Foi delegado da Polícia Civil em Goiás.
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