O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta à Curitiba nesta quarta-feira (13) para ser interrogado pelo juiz federal Sergio Moro pela segunda vez em um processo da Lava Jato. Dessa vez, Lula é acusado de receber propinas da Odebrecht e chega ao interrogatório em uma situação delicada depois do depoimento do ex-ministro Antônio Palocci, na última semana.
“Se o processo anterior era o mais fraco e ele foi condenado, nesse segundo processo a expectativa já era de condenação. Com esse depoimento do Palocci, a expectativa de condenação cresce muito”, analisa o cientista político Marcio Coimbra.
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O primeiro processo a que ele se refere era relacionado ao tríplex do Guarujá. Nessa ação penal, a possibilidade de absolvição do petista e dos demais réus era alta, mas o jogo virou depois do depoimento do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, que também negocia delação. Pinheiro confirmou a Moro ter reservado o tríplex para o ex-presidente como pagamento de propina. Lula acabou condenado a 9 anos de prisão por Moro no processo.
Na avaliação de Coimbra, o depoimento de Palocci é ainda mais bombástico que o de Pinheiro. “O Palocci tem muita credibilidade quando fala. Acho que ele pode falar mais, envolver mais pessoas”, analisa.
Aperitivo
Palocci negocia desde o primeiro semestre um acordo de colaboração premiada com os investigadores da Lava Jato. Para Coimbra, o depoimento da semana passada foi só um “aperitivo” do que está por vir.
“O Palocci, além de ministro da Fazenda, foi coordenador da campanha da ex-presidente Dilma e ministro da Casa Civil. É uma coisa que vai além do Lula, ele pode entregar muitos esquemas do PT”, diz. “Eu acho que o Palocci pode entregar mais, pode entregar documentos, contas, ele pode ir mais a fundo. O que ele fez ali [no interrogatório] foi o aperitivo para os procuradores oferecerem a delação”, completa Coimbra.
O depoimento
Ao ser interrogado por Moro no mesmo processo, Palocci confirmou que as acusações do Ministério Público Federal (MPF) são verdadeiras e o caso envolvendo o ex-presidente vai muito além da compra, pela Odebrecht, de um terreno para instalação do Instituto Lula e de um apartamento em São Bernardo – peças centrais desse processo.
Palocci, que negocia um acordo de colaboração premiada com o MPF, contou que agia como interlocutor dos “anseios” da Odebrecht com o PT. O ex-ministro disse que a empreiteira firmou um “pacto de sangue” com Lula após a saída do petista da presidência, por ter receios em relação ao governo Dilma que se iniciava.
O “pacto de sangue”, segundo Palocci, envolvia o pagamento de R$ 300 milhões em propina ao ex-presidente, a compra do terreno e obras no sítio em Atibaia – este último, alvo de outro processo, ainda em tramitação em Curitiba. Palocci também relatou conversas com Lula sobre a corrupção na Petrobras.
O processo
Segundo a denúncia do MPF, entre 2010 e 2014, Marcelo Odebrecht prometeu uma propina no valor de R$ 12,4 milhões para o ex-presidente Lula, paga na forma da aquisição de um terreno para a construção de uma nova sede para o Instituto Lula.
Para receber a propina, Lula contou com o auxílio do ex-ministro Antonio Palocci e de Branislav Kontic, assessor de Palocci, além de Teixeira. O terreno foi comprado por Glaucos e pela DAG Construtora, que agiram como laranjas da Odebrecht.
O MPF também denunciou Lula, Glaucos e Roberto Teixeira pela lavagem de dinheiro no valor de R$ 504 mil, realizado através da aquisição em favor de Lula de um apartamento em São Bernardo. O imóvel foi mantido no nome de Glaucos, mas foi adquirido com recursos da Odebrecht por intermédio da DAG.