A greve dos caminhoneiros chega ao quinto dia e os impactos se acumulam. Nesta sexta-feira (25), cresceu o número de interdições em rodovias pelo movimento de paralisação dos caminhoneiros no dia seguinte ao acordo comemorado pelo governo. Balanço divulgado pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) – entidade que deixou a reunião no Palácio do Planalto e não concordou com o acordo fechado ontem – diz que há 521 pontos interditados nesta manhã em 25 unidades da Federação. Apenas Amazonas e Amapá não têm interdições nesta manhã. Com tantos bloqueios, já há uma lista de transtornos que a população está enfrentando e sem previsão de quando isso vai acabar.
Transporte público ameaçado
Diversas cidades do Brasil estão com operações diferenciadas no transporte público. As linhas de ônibus de Belo Horizonte (MG) circulam nesta sexta-feira (25) com horários de domingos e feriados devido ao baixo estoque de combustível provocado pela paralisação nacional dos caminhoneiros. A medida representa uma redução de cerca de 45% no número de viagens realizadas em um dia útil na cidade, segundo a BHTrans (empresa de transporte e trânsito da prefeitura). Em São Paulo, o rodízio municipal foi suspenso e as empresas de ônibus estão rodando com apenas 40% da frota no horário de entrepico. No Rio de Janeiro, a informação é de que apenas 47% da frota está em circulação -- no BRT, esse percentual cai para 43%. Exceção é a cidade de Curitiba: uma ação da prefeitura permitiu que caminhões-tanque fossem escoltados até a garagens das empresas de ônibus, garantindo a circulação normal do transporte coletivo na capital.
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Prova da OAB suspensa
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidiu suspender a aplicação da segunda fase do XXV Exame de Ordem Unificado, marcada para domingo (27). A comissão responsável pelo exame entendeu que não poderia aplicar as provas “de forma uniforme, com segurança, sigilo e eficiência em todo o território nacional” por causa da greve dos caminhoneiros. A OAB ainda não marcou uma nova data para a aplicação do exame.
Sem trabalho
Várias montadoras optaram por parar suas linhas de montagem. Entre as montadoras que já interromperam suas atividades estão Renault, Volvo, Honda, Nissan, Ford, Toyota, Peugeot e Fiat. Todas elas tiveram que parar por causa da falta de peças. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que, se a greve continuar, todas as fábricas devem parar suas atividades.
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Situação de emergência
Municípios de São Paulo e de Mina Gerais, que continuam sentindo os efeitos da greve dos caminhoneiros, adotaram medidas drásticas para enfrentar a situação. Em Teófilo Otoni (MG), no Vale do Mucuri, a prefeitura decretou situação de calamidade pública. O motivo é falta de combustível, que acabou por completo na cidade e afeta serviços essenciais. Em Botucatu (SP) o Executivo municipal decretou estado de emergência, mesma medida tomada pelo prefeito de Campinas (SP) -- a maior cidade do interior de São Paulo vai priorizar atividades de coleta de lixo, segurança pública e ações da Defesa Civil. Quem também sofre com a situação de emergência é a população de Barbacena (MG). A prefeitura de São Lourenço da Serra, município da Grande São Paulo, decretou estado de calamidade pública em razão da greve dos caminhoneiros. A cidade está sitiada pelos bloqueios dos grevistas nos dois sentidos da rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que fecham também os principais acessos à área urbana do município.
Confisco de gasolina
A prefeitura do pequeno município de Santa Vitória do Palmar, no interior do Rio Grande do Sul, declarou estado de calamidade pública por causa dos reflexos da greve dos caminhoneiros. Todo combustível disponível foi declarado de utilidade pública para fins de desapropriação. Ou seja, quem tiver gasolina ou diesel sobrando deverá entregar à administração pública. Mas quase ninguém tem combustível na cidade, que fica a 240 quilômetros de Rio Grande e a 260 km de Pelotas.
A situação só não está pior porque na quinta-feira (24) um produtor rural cedeu 400 litros para a prefeitura, que na quarta-feira (23) só tinha 200 litros. “Toda semana recebemos 10 mil litros de combustível. Esta semana não recebemos nenhum”, afirma o prefeito de Santa Vitória do Palmar, Wellington Bacelo.
Com o baixo estoque, a prefeitura foi obrigada a suspender o transporte coletivo e as aulas. A cidade, de 31 mil habitantes, é a quarta maior em extensão no Estado. Tem 24 escolas espalhadas pela zona rural e urbana e 15 linhas escolares. “São 800 km de estradas no município. Vários alunos dependem do transporte para chegar às escolas, assim como médicos e enfermeiras, aos postos de saúde”, diz o prefeito.
Todos os dias veículos da prefeitura levam e trazem pacientes para tratamento ou consultas médicas em Rio Grande. Mas até esse serviço está suspenso. Consultas e exames foram cancelados. Apenas alguns casos de tratamentos graves estão mantidos, conta o prefeito. Outro problema tem sido verificado nas fazendas. “Os produtores não conseguem enviar o leite para as cooperativas porque estão sem combustível. Vão perder tudo.”
Escolta: de combustível e leite
Forças policiais -- como guardas municipais e as polícias rodoviárias e militar -- têm prestado o serviço de escolta para caminhões-tanque e veículos com itens para abastecimento. Esse é o caso da PRF-PR, que escoltou, na madrugada desta sexta-feira (25), um comboio de seis caminhões-tanque carregados com combustível de aviação, desde a refinaria da Petrobras em Araucária (PR) até o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. A corporação também escoltou dois caminhões carregados com leite na manhã desta sexta-feira (25) em Ponta Grossa (PR), na região dos Campos Gerais. Produzido em fazendas da região, o leite foi entregue em uma empresa de laticínios.
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