Ao longo dos três anos de Lava Jato, vários advogados de réus e investigados na operação protagonizaram embates com o juiz Sergio Moro, responsável pela condução dos processos em primeira instância na Justiça Federal de Curitiba. O papel de advogado “anti-Moro” variou de acordo com a fase das investigações e a condição dos investigados em relação aos processos. Mas ninguém assumiu melhor o posto de maior contraponto ao magistrado do que o advogado Cristiano Zanin Martins, defensor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Era de se esperar que os advogados do ex-presidente fizessem um trabalho combativo de defesa do petista para impedir uma condenação na Lava Jato e diversos advogados que passaram pelo time de Lula cumpriram esse papel. O advogado José Roberto Batochio, por exemplo, chegou a chamar Moro de nazista em uma das audiências da operação.
Zanin, contudo, protagonizou os maiores embates com o magistrado e com a força-tarefa que conduziu as investigações em Curitiba que resultaram na condenação de Lula no caso do tríplex do Guarujá. Nas alegações finais entregues antes do juiz Moro proferir a sentença, a defesa chegou a dizer que a tese defendida pelo Ministério Público Federal (MPF) para pedir a condenação de Lula no caso do tríplex é semelhante à tese usada por Hitler para viabilizar o nazismo na Alemanha.
O advogado chegou a dizer em entrevista coletiva que se Moro fosse “racional” deveria absolver o ex-presidente no processo em que o petista é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro através da compra e reforma do tríplex no Guarujá.
As coletivas de imprensa são muito usadas por Zanin como estratégia de defesa no caso. O advogado também emite notas à imprensa constantemente sobre os processos da Lava Jato e passou a produzir vídeos para as redes sociais em que tenta provar a inocência de Lula e a suposta perseguição que ele sofre com o intuito de impedir que se seja candidato nas eleições de 2018.
A dúvida agora é como ele vai se comportar diante dos três desembargadores da 8ª Turma no julgamento do recurso do ex-presidente no Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF-4) contra a condenação de Moro, que sentenciou Lula a nove anos e seis meses de prisão.
Audiências
Durante o interrogatório de Lula em Curitiba, no processo do tríplex, Zanin acabou tirando do sério o advogado René Dotti, que representa a Petrobras como assistente de acusação no processo. Moro questionou Lula sobre o caso do Mensalão e Zanin argumentou que o tema não integrava a denúncia e que o processo já transitou em julgado. Diante da insistência do juiz, o advogado do ex-presidente reclamou mais uma vez: “Excelência, data vênia, não cabe aqui fazer uma avaliação de um julgado do Supremo Tribunal Federal”.
Moro respondeu que a insistência do advogado é cansativa e o defensor de Lula retrucou que cansativas eram as perguntas do magistrado. A discussão prosseguiu e então Dotti pediu uma questão de ordem, iniciando uma discussão com o advogado de Lula.
Em pelo menos uma das audiências da Lava Jato, Zanin parece ter irritado Moro, que procurava sempre manter a calma durante as oitivas de testemunhas. O advogado começou a questionar um dos delatores da Odebrecht sobre seu acordo de colaboração com autoridades estrangeiras, o que ainda está em sigilo, e Moro indeferiu as perguntas.
O juiz perguntou se Zanin tinha alguma outra pergunta e ele iniciou outra questão sobre as tratativas. “Essas tratativas, ou essas negociações...”, iniciou Zanin. “Está indeferida também essa questão”, interrompeu Moro. “Qual questão, Excelência?”, respondeu o advogado. “Se é sobre acordo lá de fora, está indeferida, doutor”, disse Moro. “Vossa Excelência está indeferindo essa questão antes de ouvir?”, perguntou Martins. “Ah, doutor, é uma brincadeira”, disse Moro, irritado.
Zanin também esteve no centro de uma das audiências mais tensas da Lava Jato, quando discutiu com Moro sobre as perguntas feitas pelo MPF ao ex-senador e colaborador Delcídio do Amaral. O advogado considerou que as perguntas não tinham relação com o processo em questão.
Fora da sala de audiências
O advogado de Lula também protagonizou embates com Moro fora das salas de audiência. Em um dos casos Zanin pediu ao TRF-4 que suspendesse uma audiência com delatores da Odebrecht porque a defesa não havia sido informada com antecedência sobre a existência, no processo, de vídeos com o conteúdo das delações. O TRF4 determinou, então, que Moro ouvisse novamente os delatores, para que a defesa pudesse preparar perguntas sobre as delações. O magistrado, por sua vez, enviou ao desembargador do TRF4 um ofício mostrando que a defesa de Lula teria acessado oito vezes os vídeos que alegava desconhecer. Irritado, o advogado acusou Moro de espionar o sistema eletrônico do escritório de advocacia, o que juiz negou ter feito.
O interrogatório de Lula também foi alvo de questionamentos da defesa. Zanin pediu a Moro que autorizasse a defesa a gravar de forma independente o depoimento, o que foi negado pelo magistrado. A entrada de telefones celulares na sala de audiência foi igualmente proibida para evitar gravações clandestinas. Na ocasião, Zanin conseguiu apenas uma concessão de Moro: que o depoimento fosse gravado pela Justiça Federal, como é feito normalmente, mas com uma câmera extra, com outro ângulo de filmagem.
Currículo
Zanin trabalha no escritório Teixeira Martins Advogados e é genro do advogado Roberto Teixeira, que atua na defesa de Lula há anos. É graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1999, e especialista em Direito Processual Civil pela mesma universidade.
No site oficial do escritório, os advogados assumem o perfil combativo. “Notadamente combativo, Teixeira, Martins & Advogados destaca-se pela intensidade com que se envolve nas causas que defende. Não por acaso, tem sua marca na jurisprudência brasileira por ter levado teses ao Judiciário que passaram a integrar o ordenamento jurídico nacional, como ocorreu com a Lei de Recuperação Judicial, cuja implementação foi viabilizada também pelo estudo e as construções de Teixeira, Martins & Advogados”, descrevem os sócios na página oficial.
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