A conta da corrupção e da ineficiência da estatal de eletricidade Eletrobras foi feita e chega a assustadores R$ 186 bilhões nos últimos 15 anos, fruto de decisões políticas sobre a empresa durante os governo petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. A gestora de investimentos 3G Radar publicou carta a seus clientes em que faz duras críticas à condução da estatal.
“Concluímos que durante os últimos 15 anos, os verdadeiros acionistas da Eletrobras foram empreiteiras corruptas (...), fornecedores e políticos, juntos com aqueles que se beneficiaram das ineficiências, que criaram valor para eles mesmos sem devolver nada para o país”, afirmam os analistas na carta em inglês, aqui traduzida livremente.
Nesse período, o custo para o governo federal manter a Eletrobras foi de cerca de R$ 228 bilhões. A 3G Radar avalia que a conta total da corrupção e da ineficiência, demonstradas pela Operação Lava Jato, é oito vezes maior que o valor atual de mercado da Eletrobras. Comparativamente, empresas privadas similares à estatal, que têm juntas um terço do tamanho dela, geraram mais receitas via impostos ao Brasil do que a Eletrobras.
Além das ineficiências, também causaram queda no valor da empresa: a manutenção de empresas de distribuição de energia elétrica no Norte e Nordeste; a construção de gigantes hidrelétricas na Amazônia; a retomada da construção de Angra III, e ainda o custo com o impacto da aceitação da política elétrica do governo Dilma.
Ao final, o estudo aponta que a Eletrobras está mudando práticas e que foi reduzida a influência política sobre ela, com um “time de administração capaz e um Ministério de Minas e Energia orientado ao mercado”. Medidas que causaram as perdas também foram ou estão sendo revertidas, como a previsão de privatização das distribuidoras, reversão de políticas de preços do governo Dilma e menor interferência política. O estudo cita como favorável a criação da Lei das Estatais nesse ponto, que reduziu a interferência política nas empresas.
Veja abaixo quanto custou cada um dos ralos de dinheiro da Eletrobras:
As usinas da Amazônia – cuja construção causaram polêmicas pelos impactos ambientais e nas populações indígenas e ribeirinhas para gerar 18,6 gigawatts (13% da capacidade instalada brasileira) – geraram perdas de R$ 20 bilhões para a Eletrobras e seus acionistas, inclusive o contribuinte brasileiro. Na análise dos investidores, esses projetos são a evidência de que a empresa foi atacada por corruptos. “O resto da sociedade, incluindo os consumidores finais (de energia), contribuintes e acionistas ficaram com todos os custos”, afirmam.
Além de questionar a contratação das empreiteiras e sócios nesses projetos, a 3G Radar também questiona a forma de contratação da energia gerada por essas usinas, a preços artificialmente baixos, para que aos olhos dos financiadores os projetos fossem viáveis, deixando para a Eletrobras o prejuízo com as baixas taxas de retorno. Em algumas análises, a taxa de retorno chegou a zero.
“A pergunta chave sobre esses projetos é – alguém se beneficiou com essa colossal destruição de valor? Sim. As empreiteiras corruptas, os fornecedores e os políticos”, afirma a 3G Radar em outro trecho do documento, traduzido do Inglês.
Nem mesmo a população que teria recebido energia mais barata foi beneficiada. Nas contas dos analistas, como a perda com as usinas foi de R$ 20 bilhões e o benefício gerado para a população foi de R$ 6 bilhões, essa política se mostrou ineficiente.
A decisão de, em 2011, retomar a construção da usina nuclear Angra III é citada como um ralo que drenou R$ 20 bilhões da Eletrobras. A obra, que está atrasada, não teria como ser levada adiante, com custos muito altos e que não justificariam o investimento. Segundo o estudo, a construção da usina custará R$ 26 bilhões, 63% a mais que o estimado inicialmente e deverá entrar em operação apenas em 2024, ou seja, sete anos de atraso.
Para terminar a obra, a Eletrobras terá de elevar o preço da energia gerada na usina a R$ 360 por megawatt/hora, um valor muito alto em comparação ao que se consegue gerar no Brasil na média das usinas e 56% mais alto do que o estimado inicialmente para viabilizar a usina.
As seis distribuidoras de energia elétrica operadas pela Eletrobras geram prejuízo continuamente, fruto de anos de má administração, avaliam os analistas. Em dez anos, essas empresas causaram perdas de R$ 41 bilhões e ainda geraram dívidas para a empresa, de R$ 16 bilhões, para arcar com custos de fornecedores que não eram cobertos pela tarifa cobrada dos clientes.
O dinheiro perdido com essas empresas (que equivalem a 5% do consumo de energia de todo o Brasil) chega perto do valor necessário para construir toda a rede de distribuição no Brasil. “Em outras palavras, com o dinheiro perdido a Eletrobras poderia ter construído toda uma rede de distribuição no Brasil”, afirma o estudo, que aponta que o benefício com essas empresas foi de pessoas “roubando energia e políticos corruptos”.
Para fazer esse cálculo, o estudo comparou as empresas do grupo Eletrobras com suas concorrentes privadas, para verificar os gastos das empresas e seus ativos e obras, e quanto os dois grupos de empresas devolvem ao país em pagamentos de taxas e dividendos. A conclusão é que a Eletrobras pagou para o governo R$ 20,7 bilhões em taxas versus R$ 25,9 bilhões pagos por três empresas privadas no mesmo período e com tamanho similar.
“Somente três empresas privadas geraram uma receita para o país com pagamento de taxas superior ao que as subsidiárias da Eletrobras pagaram somando as taxas e o dividendo”, afirma o estudo. Ou seja: para o governo federal, seria mais economicamente vantajoso privatizar a Eletrobras, com mais impostos recolhidos e dividendos pagos.
O estudo aponta que custou para a Eletrobras R$ 20 bilhões a aceitação da política energética criada pela ex-presidente Dilma Rousseff através da Medida Provisória 579, editada em 2012. A ideia básica apontada pelo governo na época seria a redução dos custos da energia elétrica para a população – a medida foi anunciada por Dilma em pronunciamento nacional em rádio e TV no dia 7 de setembro, em um ano eleitoral, aponta a 3G Radar. Porém, a medida mexeu artificialmente nos preços da energia, causou descompasso entre oferta e demanda e resultou em problemas nos balanços da Eletrobras.
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