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 | Foto: ASSCOM/VPR/Foto: ASSCOM/VPR
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Ao longo da campanha eleitoral e no período de transição, o vice-presidente general Hamilton Mourão disse, em diversas ocasiões, que não gostaria de ser um “vice decorativo” - expressão cunhada por Michel Temer que selou o início da crise entre ele e a então presidente Dilma Rousseff. O começo do governo de Jair Bolsonaro indicou que Mourão não seria “decorativo”, mas talvez por más razões: com declarações controversas, ele foi criticado por aliados e celebrado por oposicionistas. Mas agora, com sua participação na gestão da crise venezuelana, Mourão parece iniciar um novo momento em seu mandato de vice-presidente. Em um ambiente que domina, o general conseguiu um protagonismo positivo inédito até o momento.

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Mourão passou a segunda-feira (25) em Bogotá, capital da Colômbia, para uma reunião do Grupo de Lima - colegiado de representantes de 14 países formado para discutir a situação da Venezuela. Diante dos integrantes do grupo, majoritariamente contrários ao regime do ditador Nicolás Maduro, Mourão chamou o líder venezuelano de “criminoso”, “uma ameaça” e declarou que “é preciso devolver a Venezuela ao convívio democrático”. 

O general ainda se reuniu com o presidente interino da Venezuela, o oposicionista Juan Guaidó. E em seu perfil no Twitter, descartou - a princípio - a ideia de uma atuação militar de forças estrangeiras no Brasil. “O ingresso de forças armadas estrangeiras em território brasileiro depende de aprovação do Congresso Nacional e não há intenção de apoio do governo @jairbolsonaro para tal possibilidade”, colocou.

Tem currículo

As controvérsias que Mourão se envolveu no início do mandato - quando, por exemplo, disse que o aborto “é uma decisão da mulher”, opinião que contraria a essência do pensamento bolsonarista sobre o tema - derivam, em parte, de uma certa inexperiência do general para o jogo político. A eleição de 2018 foi a primeira de sua carreira. Antes disso, havia dedicado sua vida profissional às Forças Armadas.

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O que falta a Mourão no cotidiano do circuito da Praça dos Três Poderes sobra em situações como a que ele foi atuar na Colômbia. Mourão alcançou a elite da carreira militar, tem formação elogiada até por adversários e serviu o Brasil no exterior em diferentes ocasiões: uma delas na própria Venezuela, em 2002, ano em que o então presidente Hugo Chávez sofreu uma tentativa malsucedida de golpe de Estado. Esteve também em Angola e na região da Amazônia que faz fronteira com a Colômbia, onde precisou enfrentar as FARC, principal guerrilha daquele país.

Um dos resultados da ampla formação de Mourão é o domínio do idioma espanhol. Foi na língua dos colombianos e venezuelanos que o vice-presidente fez o duro discurso contra o regime de Nicolás Maduro nesta segunda-feira.

Coesão com programa

Um dos líderes internacionais que Mourão encontrou em Bogotá foi o vice-presidente dos EUA, Mike Pence. E o substituto de Donald Trump fez um efusivo elogio ao vice de Bolsonaro: em seu discurso, o americano falou que Mourão mostrou compaixão para com o povo venezuelano e que agradecia ao brasileiro pela postura.

A aproximação com figuras de destaque do governo dos EUA tem sido uma das principais diretrizes da política externa do governo Bolsonaro. Ainda no período de transição entre a gestão atual e a de Michel Temer, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, disse que o Brasil mudaria sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo a controversa decisão de Trump. E no último sábado (23), Eduardo esteve em um hotel de propriedade do presidente americano e defendeu a controversa construção do muro entre os EUA e o México.

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O que Mourão mostrou na Colômbia foi também uma sintonia com o programa de governo que Bolsonaro apresentou durante a campanha eleitoral. O texto da chapa Bolsonaro/Mourão defendia um “novo Itamaraty”, a rejeição a “ditadores internacionais” e a aproximação a “democracias importantes como EUA, Israel e Itália”.

O chanceler Ernesto Araújo, também entusiasta dessa visão para a política externa, esteve ao lado de Mourão em Bogotá - antes, ele passou por Cúcuta, cidade colombiana que faz fronteira com a Venezuela, e por Paracaima, em Roraima. Já o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, integrou a viagem desta segunda-feira (25). Durante o período eleitoral, Martins chegou a dizer que temia que a “falta de traquejo” de Mourão prejudicasse a candidatura de Jair Bolsonaro.

Outra manifestação do primeiro escalão do governo que mostrou similaridade com a postura de Mourão veio da ministra Damares Alves, da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos. Em palestra na sede da ONU em Genebra, Damares pediu o apoio das Nações Unidas para “liberar” a Venezuela mas também descartou a ideia de uma intervenção militar brasileira no país de Nicolás Maduro.

Militar, mas flexível

O deputado federal Nicoletti (PSL-RR) - que, assim como Mourão, também fez carreira no Exército antes de chegar à política - disse que o vice-presidente tem “todo o conhecimento” para lidar com a crise venezuelana.

O parlamentar declarou que o governo brasileiro está sabendo “usar a sensatez” na condução do caso. “Estou vendo uma flexibilidade bem grande por parte do Mourão. O governo está bem posicionado, firme, e está aguardando para ver quais serão os principais reflexos para o Brasil”, afirmou.

Nicoletti cobrou, no entanto, atuação do governo federal na busca por mais infraestrutura para Roraima. O estado tem recebido, desde o agravamento da crise na Venezuela, milhares de migrantes. A situação foi um dos fatores que levou o governador Antonio Denarium, também do PSL de Bolsonaro, a decretar, também na segunda-feira (25), estado de calamidade na saúde pública do estado.

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